A crónica de hoje é dedicada às viagens nas companhias low cost. Aqui a cronista armada em pseudo dondoca dos aviões e habituada a viajar com a qualidade e o conforto da companhia aérea nacional ou membros da Star Alliance resolveu embarcar nesta aventura para vos contar o bom e o mau das viagens de baixo custo.
Posto isto vamos lá ver como isto funciona. Sábado de manhã, um dia lindo de sol e céu azul, vamos até ao Aeroporto de Lisboa, terminal 2. Depois da entrega do carro a uma empresa de estacionamento (também de custo reduzido) entramos e deparamo-nos com um terminal relativamente sossegado. Sim, sossegado! Possível graças ao check in online que deve ser feito previamente em casa sob pena de pagarmos uma taxa de check in no aeroporto. O mesmo só deve ser efetuado num balcão da companhia, caso os passageiros levem bagagem de porão, o que não era o caso. Seguimos para o controlo de segurança e depois para a porta de embarque, tudo a correr às mil maravilhas. O espanto é o percurso da porta de embarque até ao avião que é feito a pé pela placa do aeroporto onde a circulação de viaturas e atrelados é enorme e parece que vamos ser atropelados a qualquer instante. Ninguém se magoou e não é coisa rara até porque nos arquipélagos é a mesma coisa, mas o espaço é bem menor. Entramos na aeronave.
O momento OMG! Olho para a assistente de bordo que nos recebe e tudo o que vejo é poliéster numa farda tão fraquinha e feia que até dói, já para não falar do bom dia que quase foi puxado a ferros da senhora e cara de frete que nos fazia. Olho à minha volta e tudo é de plástico. Bancos rijos que nem pedras, sem reclinação, não há bolsa sequer para colocar uma revistinha da moda. Tudo é amarelo em meu redor, mas lá está, é uma low cost, não se pode pedir muito. Respira fundo e conta até dez!
Descolamos de Lisboa e aí começa o circo a bordo! É o anúncio da venda da raspadinha que vale um milhão de euros, um automóvel e ajuda as instituições de caridade pela módica quantia de 2 euros ou o pack de 10 a sete euros; é a extensa descrição das instituições que serão ajudadas; é a venda das bebidas quentes ou frias sempre pelas “módicas quantias de x”; é a venda dos snacks maravilha a preços desmedidos; é a venda dos perfumes e cosmética em saldo e cujos preços são também anunciados aos passageiros. Enfim é sempre a tentar vender qualquer coisa e descanso que é bom, NADA! Quase apetece dizer “ó menina se eu comprar a raspadinha vocês param de falar e deixam-me dormir um bocadinho”. Mas não!
Depois das vendas o anúncio mais giro de sempre: “Senhores passageiros estamos a descer para o Porto. Neste momento já não é possível ir aos lavabos”. Uma pessoa pensa: será que a afluência ao WC estava assim tão grande. Medo! Mas no regresso percebi que faz mesmo parte dos procedimentos falantes dos assistentes. Aterramos e soa toda uma música circense, jocosa em estilo Benny Hill, que é como quem diz “chegamos seus palhaços, toca a sair do avião vite vite, que lá à frente há uma fila de povo a querer embarcar e seguir para Lisboa! E estava mesmo!
Valem as excelentes infraestruturas do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, a rapidez dos serviços e a simpatia dos funcionários que nos mimam a valer.
E agora para aqueles que pensavam que só estava a enunciar coisas desagradáveis vem aí a parte boa. Em primeiro lugar o voo foi excelente. Além disso, para quem quiser fazer pequenas viagens, como por exemplo, de Lisboa ao Porto o serviço é muito bom. Isto porque o preço de um bilhete ida e volta à cidade invicta é mais acessível do que ir de comboio e leva muito menos tempo. O mais barato dependerá sempre do horário pretendido e do meio de pagamento, mas acredite-se ou não, fica mais em conta que outro meio de transporte. Para quem viaja em negócios também é tudo muito mais rápido porque não há tempos de espera longos para desembarcar.
Considero que as viagens mais longas não sejam muito confortáveis, mas para se voar barato tem que se cortar nalgum lado. Perde-se todo o glamour e o elã das viagens de avião de outrora, mas é como diz a canção: “mudam-se os tempos mudam-se as vontades”. E são muitos os que preferem poupar uns trocos no transporte para gastá- los no destino. É legítimo.
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Rute Lacerda, natural dos Açores, formada em Jornalismo pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Iniciou a carreira na SIC Notícias em 2006, tendo feito parte da equipa fundadora do projeto Parlamento Global da SIC Notícias/RR/Expresso até ao final de 2010. Atualmente é pivô da ARTV, Canal Parlamento, colaboradora da Newsavia e da Revista Avião. O gosto pela aviação começou em 2012 por acaso, aquando do convite do fotógrafo André Garcez para uma reportagem. Foi o início da aventura aeronáutica.