O diretor de Operações de Voo (DOV) da TAP, Carlos Damásio, vai cessar funções até à próxima sexta-feira, depois de, em fevereiro passado, ter manifestado “elevada preocupação” com a reestruturação da companhia, segundo uma mensagem interna.
Na missiva, a que a que a agência de notícias ‘Lusa’ teve acesso, enviada pelo presidente executivo em exercício da transportadora, Ramiro Sequeira, o responsável informou que “o Comandante Carlos Damásio irá cessar as suas funções como Diretor de Operações de Voo (DOV)”. “Estimamos que o processo de mudança esteja concluído até à próxima sexta-feira, altura em que será emitido um novo Certificado de Operador Aéreo (COA), atestando a aceitação por parte do Regulador Nacional (ANAC)”, lê-se na mesma mensagem.
“O Comandante Nuno Duque, atual Piloto-Chefe, irá assumir a função de Diretor de Operações de Voo de forma interina”, diz a nota, acrescentando que, “neste período, a administração irá iniciar um processo de seleção de um novo responsável“, que espera “concluir de maneira célere num prazo máximo de 60 dias”.
A administração da TAP agradece ainda “ao Comandante Carlos Damásio o trabalho, a dedicação e o empenho que empregou no desempenho das suas funções”. “Ao Comandante Nuno Duque queremos deixar uma palavra de apreço e de reconhecimento pela disponibilidade que manifestou para assegurar o desempenho da função nesta fase”, remata a nota.
Em 12 de fevereiro, Carlos Damásio manifestou, numa mensagem interna, a sua “elevada preocupação” face ao plano de reestruturação da companhia e disse que os profissionais “têm sido alheados do conhecimento da estratégia” da empresa. Na comunicação, a que a ‘Lusa’ teve acesso, Carlos Damásio deu conta de várias preocupações quanto à forma como tem sido conduzido o processo.
“Não escondo a minha elevada preocupação, na medida em que temos sido alheados do conhecimento da estratégia adotada desde o início do processo de restruturação, das medidas planeadas, dos acordos firmados, dos critérios que poderão vir a ser utilizados para eventuais despedimentos, enfim, de toda a vasta informação que nos é endereçada dos mais diversos quadrantes”, lê-se na missiva.
“Independentemente, temos sempre demonstrado total disponibilidade, presente, passada e futura, para colaborar onde e sempre que necessário, com o intuito de encontrar as melhores soluções face à complexidade do momento que atravessamos”, referiu, indicando que não têm sido convocados a participar, “os pilotos em geral e a DOV em particular, exceto na complexa gestão diária da operação e da crescente irregularidade que a caracteriza”, explicou.
“Não me afasto do dever de comunicar convosco na plenitude do exercício das funções e responsabilidades que me assistem na qualidade de Nominated Person for Flight Operations, designado pela TAP e reconhecido pela Autoridade Nacional [de Aviação Civil]”, começa por dizer o DOV, dirigindo-se aos pilotos.
“Não é lugar-comum afirmar que a segurança da operação é a nossa maior preocupação“, salientou, recordando que para que tal aconteça “concorrem numerosos fatores que constituem os alicerces de base para que diariamente os nossos aviões, tripulados pelos nossos pilotos, possam transportar os passageiros em segurança, com elevados padrões de qualidade e rigorosa pontualidade”.
“Acreditamos que todos somos chamados a avaliar, individual e coletivamente, as condições essenciais à normalidade das operações de voo”, salientou, alertando que “o clima atual de enorme instabilidade e incerteza em nada contribui para o exercício tranquilo, focado e seguro da atividade de voo“.
Carlos Damásio realçou ainda que, “muito para além dos nefastos efeitos da pandemia, transversais a toda a indústria da aviação e com efeito colaterais inimagináveis, avoluma-se a preocupação resultante do modelo de gestão do processo de restruturação em curso e das medidas gravíssimas, anunciadas a uma cadência assinalável”.
O DOV avisou ainda que as medidas conhecidas são “fator de enorme instabilidade e justificam um esforço superior de interpretação e eventual aceitação das mesmas”, voltando a assinalar que os profissionais são “mantidos à margem de um processo cujas consequências impactam diretamente na gestão da operação”.
“De forma proativa, em tempo útil elencámos um conjunto de ‘hazards’ [perigos] que julgamos de extrema importância e que devem ser evitados, não podendo nunca ser negligenciados”, indicou, salientando “que a sua monitorização tem sido constante”, mas alertando que se encontram “desvios que não se coadunam com as boas práticas operacionais há muito adotadas” na empresa.
Carlos Damásio alertou ainda para “o espetro dos avultados cortes salariais, assimétricos e sem igual, do desemprego, da rescisão contratual, da perda de um conjunto alargado de regalias e a sua abrangência” condicionantes “geradoras de elevada instabilidade e ansiedade numa população que se quer distante de problemas dessa índole”.
“Importa encontrar um modelo substancialmente diferente do que tem vindo a ser praticado e que garanta, mesmo reconhecendo a complexidade das medidas a implementar, a dignidade e respeito pelos pilotos e pela classe”, referiu, rematando que a DOV continuará a trabalhar, partilhando das “legítimas preocupações” dos profissionais, “com total disponibilidade e incondicional apoio”.
Contactada esta quarta-feira pela agência ‘Lusa’, a TAP disse que “não comenta questões internas de estrutura”.