O Governo da Guiné-Bissau anunciou nesta quinta-feira, dia 11 de Junho, a criação de uma nova companhia aérea de bandeira nacional que passa a chamar-se ‘Air Guiné-Bissau’.
O Secretário de Estado dos Transportes e Comunicações, Bernardo Vieira, fez o anúncio durante uma conferência de imprensa que decorreu num dos hotéis da capital do país, tendo considerado a decisão como “um motivo de orgulho e de muita satisfação para todos os guineenses”.
O governante referiu que na quarta-feira, a Secretaria de Estado dos Transportes e Comunicações teve uma reunião com os parceiros nomeadamente o grupo empresarial romeno ‘Tender’ e a companhia aérea portuguesa EuroAtlantic Airways, com vista a ultimar pormenores da criação da nova ‘Air Guiné-Bissau’.
“Neste sentido, quero informar que a reunião decorreu num bom clima de entendimento e houve passos significativos que foram dados”, frisou João Bernardo Vieira que sublinhou que os contactos com os referidos grupos decorrem desde há algum tempo e que a conclusão do processo é agora motivo de satisfação.
“Devo realçar que o grupo Euro Atlantic pediu-nos um tempo para poder dissecar alguns pontos que foram discutidos na reunião e tomará uma posição definitiva nas próximas semanas”, explicou o governante guineense que anunciou que nas próximas duas semanas se realizarão novas reuniões em Bucareste (Roménia) e em Lisboa (Portugal).
O secretário de Estado dos Transportes e Comunicações realçou que houve outros grupos da aviação civil que manifestaram igualmente o interesse de fazer parte nessa companhia, nomeadamente um grupo canadiano e outro norte-americano, revela um despacho da Agência de Notícias da Guiné (ANG).
“A porta da ‘Air Guiné-Bissau’ está aberta para receber outros grupos que queiram fazer com que a nossa companhia seja uma referência na Costa Ocidental Africana”, disse Bernardo Vieira antes de anunciar que a companhia iniciará actividades com duas aeronaves e mediante as necessidades no futuro o número de aviões pode aumentar.
As rotas identificadas pela Agência de Aviação Civil são: Bissau-Dakar-Bissau, Bissau-Lisboa-Bissau e Bissau-Praia, havendo ainda a intenção de ligar outras capitais da sub-região, concretamente Conacri e Banjul. O governo de Bissau espera que dentro de um ano a companhia esteja a voar para a cidade de Fortaleza, no Nordeste Brasileiro.
João Bernardo Vieira disse que têm em carteira a criação de uma escola de formação de hospedeiras e que a questão do pessoal técnico está a ser tratada.
O Governo da República da Guiné-Bissau detém 40 por cento das acções da companhia e o grupo romeno Tender é dono de 60 por cento das restantes, situação que poderá mudar de acordo com a evolução do interesse de outros empresários ou empresas interessadas no projecto.
O grupo romeno é dono de uma empresa de aviação comercial, que se dedica ao aluguer de aviões em ACMI e que tem o COA de duas companhias aéreas com sede na Roménia, no Aeroporto Internacional de Otopeni, em Bucareste: a TEN Air e a TEN Airways. Estas companhias têm uma frota comum de seis MD-82 com 160 assentos. Recorde-se que no interregno em que a Guiné-Bissau esteve sem ligações diretas para a Europa, devido à retirada da TAP (LINK notícia relacionada), o Governo de Bissau chegou a anunciar que a FlyRomania, empresa do grupo Tender, iria fazer os voos para Lisboa, o que não veio a concretizar-se por motivos burocráticos, nomeadamente pelo fato da companhia romena não estar incluída no acordo aéreo que regulamenta as ligações aéreas entre os dois países (LINK notícia relacionada).
No ano passado, em Outubro, a EuroAtlantic Airways assinou um acordo com o Governo da Guiné-Bissau mediante o qual assegura as ligações aéreas entre a capital portuguesa e a Guiné-Bissau (LINK notícia relacionada), que na presente época de Verão IATA é assegurada por aviões Boeing 767-300ER duas vezes por semana. Tal como foi dito no lançamento deste operação, em Julho passado, a cooperação da companhia portuguesa com as autoridades governamentais da antiga colónia portuguesa da África Ocidental, tinha em vista a fundação da sua própria companhia aérea de bandeira, o que está a verificar-se agora.
Aviação Comercial na Guiné-Bissau
A história da Aviação Comercial na Guiné-Bissau tem estado envolvido em diversos avanços e recuos, incidentes e acidentes, nomeadamente desde a independência do País em 1974.
A primeira companhia comercial do território foi criada ainda durante o período de colonização portuguesa, em 1960. Denominava-se Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa (TAGP) e estabelecia ligações entre as principais cidades da antiga colónia com aviões de pequena capacidade. Após a independência, a companhia mudou de nome para Linhas Aéreas da Guiné-Bissau (LAGB) e trabalhava com um avião Hawker Siddeley HS-748, um Dornier e um Cessna, todos turbo-hélices.
Em 1980 a Frente de Libertação da Palestina (FLP/OLP) comprou a companhia aérea guineense, tendo colocado na sua frota três aviões Fokker F-27 e tripulantes técnicos de nacionalidade palestiniana. Tratou-se de um negócio de contornos pouco claros, pois para muitos especialistas esta foi uma maneira da FLP/OLP contornou a criação de uma companhia aérea que pudesse trabalhar para o então líder da organização Yasser Arafat no transporte das suas comitivas em constantes viagens pelo mundo.
Um dos aviões despenhou-se no Burkina Faso, em 1981, tendo morrido três tripulantes palestinianos, únicos ocupantes da aeronave. Mais tarde, em Agosto de 1991, um Antonov An-24, ao serviço da TAGB/Air Bissau despenhou-se na Líbia durante uma tempestade de areia proveniente do Deserto do Saara, a cerca de 15 minutos do aeroporto onde deveria aterrar. O avião e os ocupantes só foram encontrados 12 horas depois, tendo morrido os três tripulantes de cockpit e se salvo os dez passageiros, entre eles o carismático Yasser Arafat.
Em 1988 a companhia fez um acordo com a Europe Aero Service (EAS) pelo qual esta empresa alugou à Air Bissau um Boeing 727-200 que era tripulado por pilotos estrangeiros, entre os quais alguns portugueses. Depois de algumas peripécias administrativas o avião que fazia ligações entre Bissau e Paris (França) e para Dakar (Senegal) abandonou clandestinamente a capital da Guiné-Bissau e chegou a França, onde a empresa dona da aeronave reclamava a sua devolução, devido a atrasos nos pagamentos. A Air Bissau foi encerrada em 1992.
Em 1996 o Governo da Guiné-Bissau fez um acordo com a companhia TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde), que assegurava as ligações para o exterior nomeadamente para Lisboa, Cabo Verde e Senegal, recebendo os bilhetes da Air Bissau. Em 1998 a companhia guineense foi liquidada e o serviço foi totalmente confiado à TACV, o que se manteve até 2012, quando por motivos de segurança suscitados pelo golpe de estado que assolou o país, a companhia cabo-verdiana abandonou o serviço.
Ao longo de todos os anos, no tempo da Guerra Colonial e depois da independência nacional, a companhia portuguesa TAP continuou a fazer voos de Lisboa para Bissau, sendo o único serviço direto da Europa para o país. Só em Dezembro de 2013 é que a companhia lusitana, que nesse tempo fazia três voos semanais para Bissau, se retirou devido a um incidente de segurança grave. Chegou a ter a retoma dos voos apontada para 26 de Outubro do ano passado, mas foi adiada ‘sine die’ por questões ainda pouco esclarecidas, mas que fontes da companhia atribuíram novamente à segurança e à falta de condições para controlo de passageiros no Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, em Bissau.
Entre os anos 2004 e 2006 a Air Luxor voou regularmente entre Lisboa e Bissau, chegando a ter COA (certificado de operador aéreo) do país. A companhia denominava-se Air Luxor GB e trabalhava com aviões da empresa mãe. Os voos terminaram com a falência da empresa que era controlada pela família Mirpuri, atuais donos da HiFly.