Investigação põe em causa relatório oficial preliminar sobre o acidente com o avião das Linhas Aéreas de Moçambique

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As conclusões preliminares anunciadas no dia 21 de Dezembro, em Maputo, pelo presidente do IACM (Instituto de Aviação Civil de Moçambique), João de Abreu, ex-comandante de longo curso e ex-administrador das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM), sobre a queda de um Embraer 190 da companhia, não convencem o especialista moçambicano em assuntos de aviação António Alves Gomes, que decidiu realizar, por sua iniciativa, uma pesquisa mais alargada para esclarecer alguns pontos do acidente. As suas conclusões não coincidem com as do primeiro documento oficial sobre o desastre que vitimou os 33 ocupantes do aparelho no passado dia 29 de Novembro.

Aquele especialista, piloto e ex-presidente do Aero Clube de Moçambique, é investigador de acidentes aéreos e vice-presidente da Confederação das Actividades Económicas de Moçambique para área da aviação. Cruzou dados do manual do Embraer, entrevistou pilotos, médicos e analisou a investigação. Desse trabalho resultou um documento que publicou no jornal “O País” de Maputo, que em seguida reproduzimos e que relança a dúvida sobre a verdade e as bases que levaram o IACM a revelar um relatório preliminar em que indica, com alguma determinação e certeza que o acidente foi provocado pela intenção voluntária do comandante da aeronave, Hermínio dos Santos Fernandes, de cometer suicídio. Eis o texto de Alves Gomes:

«Da análise que fiz, depois de consultar vários pilotos deste avião, o manual da aeronave e médicos, cheguei às seguintes conclusões: primeiro, no relatório preliminar é dito que na posição ‘Exodo’, que é o ponto de reporte obrigatório na região de informação de voo Gaborone, a aeronave começou, repentinamente, uma descida do nível de voo cruzeiro.

Devo dizer que o último reporte dos voos que vão a Luanda não é ‘Exodo’, mas sim ‘Agra’, fora do espaço aéreo do Botswana e mais próximo à fronteira com Angola. É um ponto bem mais adiante do que o que é aqui referido.

Depois, e de acordo com o manual, verifiquei que os pontos 2, 3, 4, 5 e 6, que reportam a decisão do piloto em seleccionar a potência, ver a altitude, velocidade, parâmetros de freios aerodinâmicos… fui descobrir que tudo isto está no manual da Embraer.

Estas manobras são feitas obrigatoriamente quando há uma descida de emergência. Tudo o que o piloto fez coincide, exactamente, com o que está no manual. Não fez nada de anormal. O que há de anormal aqui é que ele iniciou uma descida de emergência. Portanto, é preciso perceber por que é que ele iniciou a descida de emergência. E mais: iniciou esta descida sozinho no cockpit do avião, quando o manual refere que este procedimento deve ser acompanhado por outros membros da tripulação. Também refere que, durante a descida de emergência, deve haver uma permanente comunicação para identificar a possível incapacitação do piloto. Incapacitação do piloto significa este não poder dominar a aeronave.

Mas estas manobras de descida de emergência, segundo o que me informaram, são feitas cada vez que os comandantes e os pilotos vão fazer simuladores para testes de verificação, etc. e devem ser executadas sem consultar o manual, ou seja, os profissionais devem decorar.

É interessante verificar que embora o relatório faça essa descrição, não refere que estas manobras que foram executadas constam do manual da aeronave, o que leva a crer que os peritos não conheciam o manual do avião.

Por outro lado, há aqui uma referência que já foi verificada por alguns comandantes deste avião: ‘o selector de altitudes foi manualmente actuado, três vezes, de 38 mil pés para uma altitude de 592 pés abaixo do nível do solo’. Já foi experimentada a introdução desta altitude no piloto automático e ele não aceita. Portanto, é uma coisa muito estranha que está aqui. Era preciso que a Comissão de Inquérito explique como é que chegou a esta altitude negativa.

Há também outra questão: ‘foram ouvidos toques de alerta de baixa e alta intensidade’. Isto pode-se referir à tentativa de entrada no cockpit por alguém que está no exterior, mas há formas de abrir a porta das duas partes, ou seja, quem está por dentro e por fora dispõe de mecanismos para abrir a porta.

Outro aspecto importante é que, de facto, o co-piloto saiu do cockpit, mas não foi obrigado sair como se tem dito. Fê-lo naturalmente, de acordo com o que está nas gravações de voz. Mas há um procedimento que não foi cumprido: normalmente, quer em Moçambique, quer fora de Moçambique, nesta e noutras aeronaves, o que está estipulado depois do 11 de Setembro nos Estados Unidos é que no cockpit nunca pode estar um piloto só. Se um piloto sai para fazer qualquer coisa, deve chamar o chefe de cabina para ocupar um lugar dentro do cockpit, e isto não foi feito. Esta é uma norma que, pelo que percebi, muitos poucos a cumprem.

Na conclusão a que o relatório chega chamou-me atenção a leitura do artigo da Reuters, que é completamente distinto do que tem saído no nosso país, e da Namíbia, onde se afirma que a nossa Aviação Civil disse, categoricamente, que o piloto tinha intencionalmente despenhado a aeronave.»

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