A República Islâmica do Irão assinou na tarde desta quinta-feira, dia 28 de janeiro, em Paris, dois acordos com a construtora europeia de aviões Airbus, que marca a regresso da aviação comercial iraniana à comunidade aeronáutica internacional, depois de um longo período de marginalização devido às sanções económicas impostas ao país, primeiro pelos regimes ocidentais face à criação de um estado que, em 1979, se passou a reger pelo que era considerado um grupo de aiatolas fundamentalistas islâmicos xiitas, e, depois, pela Organização das Nações Unidas, face ao dossiê nuclear.
Normalizadas as relações, depois de quase quatro décadas de costas viradas, estão agora a ser assinados os primeiros acordos, alguns dos quais em negociação desde há algum tempo, quando as relações diplomáticas com o Ocidente davam sinais de recuperação.
Assim, nesta quinta-feira, durante a visita de Estado do Presidente Hassan Rouhani à França, e na presença do Presidente da República Francesa, François Hollande, foram assinados no Palácio do Eliseu, na capital francesa, importantes acordos de grande importância para o desenvolvimento futuro da República Islâmica do Irão e dos seus cerca de 76 milhões de habitantes.
Na área da aviação os primeiros dois acordos foram com a Airbus. Um acordo diz respeito à aquisição de 118 aviões comerciais de passageiros e carga, entre os quais 12 A380, o popular ‘Super Jumbo’, que é o avião com maior lotação para passageiros em serviço nas linhas comerciais mundiais. A encomenda inclui ainda 16 A350-100, 18 A330-900 neo, 27 A330 ceo, 24 A320 neo e 21 A320 ceo. O valor total da compra, a preços de catálogo e à saída de fábrica, está avaliado em cerca de 27 mil milhões de dólares norte-americanos
O outro acordo assinado com a Airbus refere-se à criação de uma plataforma técnica para formação e o treino de pilotos e pessoal de manutenção aeronáutica, bem como serviços de apoio para agilizar a entrada em serviço e operacionalização eficiente destas novas aeronaves.
Os acordos foram rubricados por Farhad Parvaresh, presidente executivo da Iran Air, companhia de bandeira do país para onde seguirão esses aviões, e por Fabrice Brégier, presidente executivo do Grupo Airbus.
A Iran Air, a principal companhia aérea do Irão, constituída por capitais públicos, tem actualmente uma frota de 43 aviões, a maioria em fim de vida. A empresa precisa proceder imediatamente ao ‘phase-out’ de quatro Boeing 747-200 e SP e de oito aparelhos Airbus A300 B2 e B4, todos com muitos anos de serviço.
Existe mais cerca de duas dezenas de companhias aéreas no Irão, a maioria constituídas por iniciativa privada, mas todos se queixam do mesmo problema que a antiguidade dos aviões que têm nas suas frotas, além de uma manutenção muitas vezes deficiente face à dificuldade que até agora o Irão tinha em adquirir sobressalentes certificadas e originárias das fábricas das aeronaves.
Especialistas em aviação comercial estimam que para remodelar de forma minimamente eficiente o sector do transporte aéreo, em termos de aparelhos novos, as necessidades do Irão atingirão as cinco centenas de aviões, sendo 100 para linhas regionais. Os quatrocentos aparelhos restantes, com capacidade acima dos 100 lugares, já incluem as aeronaves que foram agora adquiridas à Airbus (73 para o longo curso e 45 para médio curso).
Vinci Airports vai ficar com a concessão de dois aeroportos iranianos
Paralelamente, na cerimónia desta quinta-feira no Palácio do Eliseu, em Paris, o ministro das Estradas e do Desenvolvimento Urbano do Irão, Abbas Ahmad Akhoundi, assinou um acordo de cooperação para a modernização do sector de aviação civil do país, para apoiar o desenvolvimento da gestão do tráfico aéreo (ATM), operações aeroportuárias e aéreas, harmonização reguladora, formação técnica e académica, manutenção e cooperação industrial.
Este acordo de cooperação prevê a entrega da concessão do Aeroporto de Teerão, o principal da República Islâmica do Irão, situado na capital do país, a um consórcio francês liderados pelas empresas ‘Aéroports de Paris’ e ‘Bouygues’. O grupo Vinci Airports, também de matriz francesa, actual dono da ANA Aeroportos de Portugal, também terá ganho a concessão de dois aeroportos: o de Mashad, na segunda cidade mais importante do Irão, com um movimento anual de 8,2 milhões de passageiros em 2014, e que é considerado a porta de entrada para os lugares santos do Irão, onde chegam anualmente cerca de 20 milhões de peregrinos; e o de Ispahan, o quinto mais importante do país, numa zona de grande desenvolvimento industrial e que em 2014 registou 2,6 milhões de passageiros.
Nesses três aeroportos os novos concessionários terão de proceder a avultadas obras de beneficiação e instalação de novos equipamentos actualizando-os face aos avanços tecnológicos actuais e tornando-os mais eficientes. Os contratos serão negociados, após serem decididos os respectivos cadernos de encargos e obrigações das partes, presentemente em apreciação.
- Notícia atualizada – 23h30 UTC
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