As empresas portuguesa Navigator e alemã P2X Europe fecharam um acordo de princípio para a criação de uma joint-venture denominada P2X Portugal que visa desenvolver uma unidade industrial para a produção de combustível verde destinado à aviação, foi divulgado nesta quinta-feira, dia 21 de julho.
O objetivo é desenvolver “uma unidade industrial de última geração para produzir, em larga escala, combustíveis não fósseis para o setor da aviação, também conhecidos como e-SAFs (e-Sustainable Aviation Fuels) – jet-fuel (querosene) sintético, neutro em carbono, produzido a partir de hidrogénio verde e CO2 biogénico”, refere a Navigator, em comunicado.
O projeto “tira partido da elevada competitividade de Portugal na produção de energia renovável (solar e eólica) e do CO2 biogénico gerado pelas biorrefinarias da Navigator que utilizam como recurso as florestas sustentáveis”, adianta.
Em conjunto, “estes são os dois elementos críticos para o sucesso da produção à escala industrial de jet-fuels sintéticos net-zero (neutros em carbono), com vista à descarbonização da indústria da aviação”, acrescenta a Navigator (The Navigator Company).
A nova joint-venture reúne, por um lado, “o vasto know-how da P2X Europe, precursora no desenvolvimento de projetos PtL (Power-to-Liquids) a nível internacional e trader experiente em combustíveis líquidos, e por outro lado a vasta experiência industrial da Navigator na gestão de biorrefinarias e florestas sustentáveis”.
A instalação da P2X Portugal no complexo industrial da Navigator na Figueira da Foz “marca um passo fundamental para Portugal e para a Europa no caminho para a construção de um ecossistema totalmente integrado de produção de combustíveis verdes”.
A P2X Portugal vai reunir “empresas líderes em tecnologia e engenharia e integra toda a cadeia de valor do processo, composto por captura de carbono de até 280.000 toneladas de CO2 biogénico e várias centenas de megawatts de nova energia renovável”.
Em ano cruzeiro, a capacidade total de produção de eFuel é de 80.000 toneladas, assim que totalmente desenvolvido, permitindo reduzir as emissões anuais de carbono em até 280.000 toneladas.
“Para as duas primeiras fases de desenvolvimento, o investimento do projeto totalizará cerca de 550-600 milhões de euros na instalação de produção de H2 verde, na infraestrutura e processo de captura de CO2 biogénico, e na capacidade de produção de 40.000 toneladas por ano de crude e combustível sintético”, prossegue.
O Governo português “concedeu ao projeto PtL da P2X Portugal o estatuto de Projeto de Interesse Nacional (PIN), o que atesta a sua força, maturidade e qualidade global”, sublinha a Navigator, em comunicado.
Sujeito ao cumprimento de condições precedentes e à decisão final de investimento prevista para ocorrer até meados de 2023, o projeto “tem programado iniciar a operação comercial já no primeiro semestre de 2026”.
A Navigator refere que as condições precedentes exigidas para uma decisão final de investimento positiva incluem, entre outras, “disponibilidade de energia renovável a preços competitivos (tipicamente eólica e solar), adequado enquadramento regulatório para a produção de Hidrogénio Verde, a definir no UE Delegated Act atualmente em discussão em Bruxelas, acordos de off-take satisfatórios com companhias aéreas de referência, e obtenção de incentivos adequados ao investimento proporcionados pela União Europeia e pelo Governo português”.
Esta joint-venture “está em processo de obtenção de autorização das autoridades anti-trust da UE”.
Perspetivas futuras
O projeto contribuirá para o desenvolvimento de uma nova cadeia de valor estratégica em Portugal, bem como para a concretização das principais iniciativas da UE na área climática, nomeadamente o Green Deal, a EU Hydrogen Strategy e a REPowerEU.
O Parlamento Europeu tomou recentemente uma decisão histórica sobre a regulação dos combustíveis de aviação, estabelecendo metas vinculativas para a substituição do jet-fuel convencional (querosene) por combustível de aviação sustentável (SAF) em geral e, em particular, pelos combustíveis sintéticos verdes à base de hidrogénio produzidos a partir de fontes de energia renováveis (eSAF).
- Os combustíveis sustentáveis para aviação, conhecidos internacionalmente pelas siglas SAF e eSAF, baseados em Power-to-Liquids (PtL), são a alavanca mais importante para descarbonizar o setor da aviação. Para grandes aeronaves e voos de longa distância, o eSAF sintético será a única opção viável para diminuir as emissões de carbono. O eSAF (eKerosene) derivado de PtL, gerado a partir de eletricidade renovável e fontes biogénicas de CO2, como a P2X Portugal irá produzir, é especialmente promissor, pois reduz as emissões de carbono em 90 a 100% por comparação com o combustível de aviação convencional.
- Imagem de abertura ©The Navigator Company