O avião aguenta: nós, não

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banner-newsavia-app-android-750x65Se há uma maneira de resumir o perigo das turbulências para a aviação, é essa. Graças a um voo entre Moscow e Bangkok, onde uma turbulência severa deixou quase três dezenas de feridos, alguns gravemente, esse foi o assunto da semana no meio aeronáutico. Turbulências não são algo incomum, e embora a maioria seja inofensiva, todo mês várias pessoas, em especial comissários, acabam se machucando.

No Brasil, as companhias em geral têm a política de acender o cinto quando se suspeita ou se confirma que a aeronave vai cruzar uma área turbulenta. Em outros países, é comum ver o cinto aceso mesmo quando não há sinal de turbulência, o que pode acabar banalizando o aviso. De qualquer forma, a exemplo do que fazem os tripulantes, sempre que estiver em seu assento, mantenha o cinto confortavelmente afivelado. É uma medida simples mas bastante eficaz.

Há muitos tipos de turbulência. Algumas são mais comuns a baixas altitudes, como a turbulência térmica, mas todas se tornam mais sérias nos níveis mais altos. A orográfica, por exemplo, comum na final de alguns aeroportos com montanhas ou prédios altos próximos, pode se tornar perigosa quando associada a uma cordilheira, no que chamamos “onda de montanha”. Na Cordilheira dos Andes, entre Argentina e Chile, usamos a diferença de pressão entre Mendoza e Santiago, e a velocidade dos ventos em altitude, para prever a possibilidade de encontrarmos turbulência severa no caminho. Se isso se confirma, há rotas alternativas, onde sua influência é menor.

Dentre as turbulências mais comuns está a associada a tempestades. Geralmente convectiva, é das mais fáceis de se evitar, pois o radar meteorológico dos aviões consegue antever com bastante precisão os pontos onde estes sistemas estão mais ativos. Por isso, se alguma turbulência deste tipo é encontrada durante o voo, esteja certo de que é a menor possível, onde um desvio mais longo não podia ser feito.

Mas a grande vilã, misteriosa, invisível e difícil de prever, é a chamada “turbulência de céu claro”, ou CAT: clear air turbulence. Ela pode ser extremamente potente, e embora tenhamos meios para desconfiar de que ela possa estar à espreita, podemos passar muito perto e não sentí-la, ou sermos atingidos em cheio sem nenhum aviso.

As mais fortes turbulências de céu claro estão associadas às correntes de jato, ou jet streams. Aliadas comuns da aviação, ao reduzirem o tempo de voo de Oeste pra Leste em horas, dependendo de sua velocidade e latitude, as suas bordas acabam por esconder muitas vezes um ar extremamente turbulento. As correntes de jato se formam em dobras da tropopausa, onde áreas de baixa pressão encontram áreas de alta. No inverno, elas se intensificam e ocorrem mais próximas ao equador, no verão, se enfraquecem e ocorrem mais próximas aos pólos. O lado polar da jet stream, em geral, tem as turbulências mais fortes. Mas, como as estatísticas mostram, as correntes de jato têm nos ajudado muito mais que atrapalhado, e todos os dias, voos do mundo todo são direcionados para esse verdadeiros “rios de ar”, economizando milhões em combustível e emissão de poluentes. Cabe a nós, em voo, mantermos os cintos afivelados, para aproveitarmos suas vantagens sem que para isso, nos exponhamos em demasiado aos seus humores.

Foto: uma enorme cumulonimbus se forma próxima ao Rio de Janeiro, Brasil. Boa parte das turbulências está associada a esse tipo de nuvem, mas mesmo à noite, graças às atuais tecnologias, é relativamente fácil evitá-las. Para as turbulências de céu claro, ainda não há equivalente. 


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