Michael O’Leary, CEO da Ryanair, já agendou com David Neeleman, líder industrial do consórcio vencedor da privatização de parte do capital do grupo TAP, que assim que o empresário estiver em Lisboa com a sua equipa na companhia portuguesa, terão uma conversa sobre como ‘alimentar’ o tráfego de longo curso da transportadora portuguesa com os voos da low cost na Europa.
Mas sem code-shares, que “a vida é muito curta”, respondeu quando questionado pelo ‘PressTUR’ na manhã desta quarta-feira, dia 2 de Setembro, durante um encontro com a imprensa na cidade de Lisboa.
A Ryanair anunciou no início de Agosto a sua pretensão de se tornar ‘feeder’ de voos de longo curso de outras companhias aéreas como a TAP e já ter falado com a empresa portuguesa, mas, na altura, a companhia aérea portuguesa, questionada pelo ‘PressTUR’, disse desconhecer essa situação.
Michael O’Leary afirmou agora em Lisboa que conversou foi com o futuro proprietário da TAP, David Neeleman, que integra o consórcio ‘Atlantic Gateway’ com Humberto Pedrosa, que está a finalizar a compra da companhia.
“Falei com o David Neelman há cerca de um mês e disse: se a aquisição for para a frente porque é que não conversamos? Nós poderíamos alimentar muitos dos voos de longo curso da TAP à partida de Lisboa, usando os voos de curta distância da Ryanair de e para Lisboa”, revelou Michael O’Leary.
David Neeleman, prosseguiu o CEO da Ryanair, “achou que era uma ideia interessante e combinámos que quando cá estiver [em Lisboa] com a sua equipa na TAP teremos uma conversa sobre isso”.
O CEO da Ryanair considera o modelo de ‘feeder’ de companhias aéreas que não têm uma boa rede própria de voos de curta distância na Europa “um desenvolvimento óbvio” para as low cost nos próximos anos. Michael O’Leary explicou, então, qual a sua perspectiva em relação aos moldes em que se poderá desenvolver essa estratégia, sublinhando que seria “como um code-share, mas não é um code-share”, porque isso fica “demasiado complicado”, com partilha de “rotas, receitas… a vida é muito curta”.
Uma companhia aérea como a Aer Lingus, que tem voos de longo curso, poderia comprar lugares na Ryanair, explicou O’Leary, tomando como exemplo uma viagem de Manchester a Nova Iorque: “a Aer Lingus faria toda a papelada, mas em Manchester o passageiro faria o check-in nos balcões da Ryanair, e em Dublin nós entregávamos as malas à Aer Lingus”.
“Seria a papelada toda da Aer Lingus, a relação com passageiro seria toda com a Aer Lingus, tanto na curta distância, como no longo curso, mas o voo de curta distância seria feito pela Ryanair”, disse.
Ao permitir à Aer Lingus comprar capacidade na Ryanair “estamos a dar-lhes muito mais lugares a preços mais baixos do que eles conseguem fazer em tráfego ‘feeder’ para eles próprios. E poderíamos fazer algo semelhante para a TAP aqui em Lisboa”.
Resumindo, “se quer comprar o nosso lugar por 25 libras de Manchester para Dublin, vende ao passageiro uma tarifa de 400 libras de Nova Iorque para Manchester e regresso. Nós ficamos com 50 libras e vocês podem guardar o resto do dinheiro”.
O “desafio”, acrescentou Michael O’Leary, é que “estamos com muito movimento”, com um taxa de ocupação em Julho de 95%, pelo que “não temos assim tantos lugares de sobra para vender”.
“Especialmente no Inverno teríamos alguns lugares que seriam de bom uso para algumas das companhias aéreas de longo curso, como a TAP e como a Aer Lingus”, concluiu o CEO da companhia low cost irlandesa.
- Texto do portal de notícias de turismo e viagens ‘PressTUR‘, parceiro editorial do NewsAvia em Portugal
- Foto: André Garcez/Newsavia