Depois de duas décadas votada ao abandono, eis que o primeiro Boeing 747 recebeu o tratamento há muito aguardado por todos os profissionais e entusiastas da aviação.
Estacionada na placa exterior do Museu do Ar em Seattle (EUA), muito fácil de localizar para quem visitava o museu, por lá ficou exposta aos elementos naturais que danificaram muito o seu exterior, deixando os visitantes desagradados quanto ao seu estado.
Este aparelho Boeing 747-121, foi o primeiro que saiu da fábrica em Seattle, em 1968, desenhado por Joe Sutter. Tinha duas vezes mais o tamanho do seu competidor mais próximo, e fez o seu primeiro voo a 9 de Fevereiro de 1969, dando início a uma nova era na aviação comercial. Abriu o mundo aos viajantes em massa, permitindo uma economia de escala para as companhias tal que prometia revolucionar a mobilidade humana, embora o programa inicialmente tivesse vendas aquém do esperado e que poderia ter determinado a sua falência.
Todos os modelos de testes, acabaram sendo entregues a várias companhias, contudo esta aeronave foi ficando nas instalações da Boeing, servindo para testes de voo, e testes de novos motores inclusive os da família 757 e 777. Retirou-se em 1993 com umas impressionantes doze mil missões para a Boeing.
Apesar da sua importância para a Boeing e simbolismo para o mundo da aviação comercial, a reforma desta aeronave não foi fácil de encarar. A primeira ‘rainha dos céus’ foi deixada desde então no exterior do Museu, e sujeita a uma deterioração das suas estruturas durante quase duas décadas.
Outras prioridades do Museu, mas sobretudo a falta de fundos, não permitiam recuperar o primeiro avião Boeing 747 à glória de outros tempos.
Em 2012 chegou finalmente a luz verde. Mas quando chegou o primeiro orçamento para a reparação da aeronave, os ânimos acalmaram-se e quase que tudo voltava ao princípio. Contudo, a vontade de uma série de voluntários foi mais forte e com a ajuda de fundos disponibilizados por amigos e entusiastas, foi possível iniciar a intervenção no Boeing 747, mesmo no exterior.
Quase dois anos passados desde o início da intenção de intervenção o ‘City of Everest’, o primeiro 747 com o numero de serie RA001, abriu durante este mês de Outubro ao público, e os seguidores e fans deste modelo de avião ganharam novo.
No dia da abertura viam-se filas enormes de pessoas a aguardar a sua vez, tal foi a afluência ao Museu para visitar a Velha ‘Rainha dos Céus’, com um exterior agora resplandecente, num branco fresco e com a linha vermelha viva que caracterizava as cores da casa mãe.
A restauração do exterior do avião iniciou-se neste verão em Julho e foram usadas mais de 15 mil peças de lixa, e cerca de 250 litros de tintas.
No interior uma viagem ao tempo com cadeiras ao estilo dos anos sessenta, as únicas mais confortáveis que existiam a bordo e que estavam situadas no ‘Upper Deck’, para convidados especiais dos primeiros voos. O equipamento de testes analógicos, lastros e demais cabinas dos engenheiros, foram reconstituídos e colocados de volta, tal como foram usados no final dos anos 70.
O cockpit é uma das zonas mais procuradas. Embora voasse até 1993 este manteve-se inalterado desde o primeiro voo em 1969. Destaque para todos os mostradores analógicos e muitos instrumentos experimentais na altura que hoje são autênticas peças de museu.
Este trabalho de restauração só estará terminado quando a ‘Rainha Dos Céus’ entrar para um pavilhão especial, em 2016, que está a ser projectado, e onde a aeronave ficará preservada como merece. Continuará em exposição no exterior do museu contudo nem sempre será possível a sua visita ao interior. A direcção do museu opta assim por épocas especiais, de modo a proteger a aeronave ao desgaste das visitas.