Risco de interferência da tecnologia 5G na aviação existe apenas nos EUA

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O português Luís Correia, professor do Instituto Superior Técnico de Lisboa, na área das telecomunicações, explicou à agência de notícias ‘Lusa’ que o risco da interferência da tecnologia 5G na aviação apenas existe nos Estados Unidos da América, garantindo que na Europa “não há problema nenhum”.

O risco de interferência do 5G na aviação levou os operadores AT&T e Verizon a anunciar, em 19 de janeiro, o adiamento temporário do desenvolvimento da tecnologia perto de “alguns aeroportos” nos Estados Unidos para evitar um potencial “caos” receado pelas transportadoras aéreas, o que o Presidente norte-americano, Joe Biden, saudou.

“O que está aqui em causa é a banda que é usada para os radares de altimetria dos aviões e é por isso que a situação é potencialmente complicada, porque um avião não ter a medida correta de altitude coloca questões de segurança”, afirmou o também investigador do INESC-ID (Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Investigação e Desenvolvimento).

Na Europa, explicou, a banda do 5G “vai dos 3,4 GHz aos 3,8 GHz, portanto, tem 0,4 GHz de diferença com a banda dos radares de altimetria”, ou seja, “está suficientemente afastada para não haver problemas de interferência”.

Nos Estados Unidos, “a banda que têm para o 5G é ligeiramente acima, dos 3,6 GHz a 4 GHz, portanto, só têm uma banda de intervalo de 0,2 GHz e é por aí que os problemas de interferência podem surgir”, referiu Luís Correia.

Os altímetros de radar funcionam na banda entre 4,2 GHz e 4,4 GHz.

“Qualquer avião que aterre nos Estados Unidos, independentemente de onde é que ele venha, pode sofrer interferência de antenas do 5G que estejam perto dos aeroportos nos Estados Unidos”, apontou.

Isto porque “a banda de frequências que é usada nos Estados Unidos é que está mais próxima dos radares de altimetria”, sublinhou.

Em suma, o serviço 5G nos Estados Unidos está mais próximo do espectro utilizado pelos altímetros, daí o risco de interferência, ao contrário do que acontece na Europa, onde a distância é maior.

Trata-se de um problema que os Estados Unidos já deviam ter resolvido há “muitos anos”, considerou.

Este assunto “foi falado nos fóruns próprios, a Europa decidiu que a banda seria dos 3,4 GHz aos 3,8 GHz também para evitar problemas de interferência noutros serviços”, os Estados Unidos foram alertados sobre os riscos da banda escolhida, mas “optaram por fazer nada”, prosseguiu.

A autoridade federal de regulação da aviação norte-americana (FAA, na sigla inglesa) manifestou preocupações sobre uma eventual interferência entre as frequências utilizadas pelo 5G e o instrumento de bordo essencial à aterragem de aviões em algumas condições, tendo exigido ajustamentos.

A FAA já validou a utilização de alguns modelos radio-altímetros e deu o seu aval para 48 dos 88 aeroportos dos Estados Unidos mais diretamente afetados pelos riscos de interferências, impondo, contudo, restrições em alguns casos.

Os dirigentes de 10 empresas de transporte aéreo tinham apelado, na semana passada, às autoridades federais que agissem “imediatamente”, para impedirem “uma importante perturbação operacional para os passageiros, os transportadores, as cadeias de aprovisionamento e a entrega de fornecimentos médicos essenciais”.

Neste contexto, a AT&T e a Verizon, que já adiaram por várias vezes o desenvolvimento do 5G, desde dezembro, aceitaram diferir a ativação das torres de comunicações em torno de alguns aeroportos, mas mantendo o lançamento do 5G no resto do país.

A AT&T, por exemplo, decidiu não ativar as torres instaladas num perímetro de 3,2 quilómetros em torno dos aeroportos especificados pela FAA.

Em comunicado, Biden agradeceu aos dois operadores por esta decisão, que evita, na sua opinião, perturbar o tráfego aéreo, ao mesmo tempo que permite a ativação da imensa maioria das torres de comunicações para a 5G, elemento considerado essencial para a competitividade dos Estados Unidos.

Os dois operadores lamentaram, contudo, que as autoridades tenham levado tanto tempo a reagir ao desenvolvimento do 5G, previsto pelo menos desde há dois anos.

A FAA e as transportadoras aéreas “não foram capazes de resolver a problemática do 5G perto dos aeroportos, apesar de estar instalado de forma segura e eficaz em mais de 40 países”, segundo um porta-voz da Verizon citado pela agência de notícias ‘France Press’ (AFP) na semana passada. Em mensagem separada, a AT&T reforçou a ideia.

A Airbus e a Boeing já tinham alertado as autoridades federais, em dezembro, para estas eventuais interferências.

 

  • Texto distribuído pela agência de notícias ‘Lusa’

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