Sindicatos reclamam gestão “eficiente” e “transparente” da TAP

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Sindicatos dos pilotos, tripulantes e técnicos de manutenção reclamaram nesta quarta-feira, dia 12 de outubro, uma gestão “eficiente” e “transparente” da TAP, seja num modelo público ou privado, enquanto a Comissão de Trabalhadores rejeitou a privatização e os sindicatos de terra a defenderam.

O texto que publicamos em seguida é da autoria da agência de notícias ‘Lusa’, e resume as diversas intervenções de representantes das estruturas sindicais da companhia aérea portuguesa durante a audição na Comissão de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação da Assembleia da República, em Lisboa.

 

“Mais do que perguntar se os trabalhadores são a favor ou não da privatização, o que nós somos é a favor de uma administração competente, transparente e com sensibilidade social, algo que ao longo dos últimos meses, semanas e dias não se tem verificado por parte desta administração”, afirmou o presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) durante uma audição conjunta sobre a privatização da TAP na Comissão de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação, a requerimento do PCP.

Sustentando que “a atual situação da TAP não advém de ser privada ou pública, houve foi incompetência”, Ricardo Penarróias disse que, “nos 77 anos da história da TAP, os erros foram uma constante” e assumiu-se “preocupado” que se estejam a repetir “os mesmos erros do passado”: “Uma privatização feita à pressa, em cima do joelho e sem ouvir os trabalhadores”.

Na mesma linha, o presidente do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC) referiu que a estrutura “não toma partido [sobre a melhor forma de gestão da TAP], seja privada ou pública”: “O que queremos é uma TAP fiável, racional, lucrativa e que, acima de tudo, respeite os trabalhadores”, enfatizou.

Ainda assim, e fazendo uma comparação entre os anos de gestão pública e gestão privada da TAP, Tiago Faria Lopes elencou um conjunto de opções tomadas pela primeira que resultaram em “45 milhões de euros de prejuízos em um ano e meio, dois anos”, apontando, nomeadamente, a transformação de cargueiros em aviões de passageiros, os custos com contratações externas e a recente polémica em torno da renovação da frota automóvel das chefias.

Pelo contrário, e embora ressalvando não estar “a defender” a gestão privada da TAP, recordou que foi esta que “renovou a frota de aviões” da companhia (e “não a de automóveis”, gracejou), que estendeu o core business de longo curso do Brasil para a América do Norte e registou um resultado operacional positivo de 47 milhões de euros no último relatório e contas que apresentou.

Também para o vice-presidente do Sindicato Independente de Pilotos de Linhas Aéreas (SIPLA), André Marques, o essencial é “uma gestão eficiente da companhia ao nível operacional e dos recursos existentes, que siga as recomendações da Comissão Europeia e que procure as melhores práticas na indústria”.

“Os erros de gestão repetem-se tanto na gestão privada, como na gestão pública e quem são responsabilizados são sempre os trabalhadores”, sustentou, enfatizando que “a TAP precisa de estabilidade”, mas “o plano de reestruturação, que poucos conhecem na sua génese, é um racional económico assente somente em cortes”.

Salientando que “o transporte aéreo é extremamente competitivo”, o dirigente do SIPLA considerou, contudo, que “só há duas formas de subsistência no setor”: O modelo low cost ou a “aliança com um grupo grande de aviação internacional, com um mercado próprio e com o peso financeiro para potenciar o equilíbrio e estabilidade necessários”.

Por sua vez, o vice-presidente do Sindicato dos Técnicos de Manutenção de Aeronaves (SITEMA) garantiu que a aquela estrutura sindical “não tem qualquer tipo de preconceito com a gestão [da TAP], seja ela de índole pública ou privada”.

“Apenas queremos que funcione e que faça funcionar. O que definitivamente não é o caso atual”, disse Jorge Alves.

Apontando os “milhões” gastos em opções de gestão relacionadas com os aviões cargueiros, a “absurda mudança de sede” para o Parque das Nações, os alugueres de aviões ou a substituição dos motores ‘Rolls Royce’ da frota A330, o dirigente do SITEMA considerou que são “exemplos daquilo que se passa e que não pode vir a acontecer”.

Jorge Alves manifestou ainda muita preocupação com a “sangria de técnicos de manutenção” no grupo TAP, sustentando que “configura uma irreparável perda de conhecimento que não se vai conseguir recuperar nunca”.

“Desde que terminou a fase de rescisões, a TAP e a Portugália já perderam 60 técnicos que saíram voluntariamente da companhia em procura de melhores condições de vida. Se nada for feito rapidamente para reter mão de obra experiente, as consequências podem ser irreversíveis para a manutenção da TAP. E esperemos que não seja esse o plano, acabar com a manutenção da TAP, com a desculpa, daqui a uns tempos, de que não há técnicos para reparar os aviões quando os estamos a deixar sair de forma gratuita”, sustentou.

Relativamente à gestão do antigo acionista da TAP David Neeleman, o dirigente do SITEMA diz ter ficado “mal habituado, pela positiva”: “Porque tínhamos alguém com quem podíamos dialogar, a quem chamávamos à atenção das perdas de dinheiro e daquilo que se estava a fazer mal e, hoje, temos completamente o oposto a nível de gestão. Não temos ninguém que nos ouça, ignoram-nos e olham para nós de forma arrogante como se soubessem tudo”, disse.

Quanto a uma eventual reprivatização da TAP, defendeu que, “se o parceiro for bem escolhido”, a “grande preocupação” do sindicato é “a manutenção do hub em Lisboa, a manutenção de rotas e a continuação de um polo de manutenção e engenharia forte”.

Já a coordenadora da Comissão de Trabalhadores da TAP, Cristina Isabel Carrilho, assumiu-se “manifestamente contra a privatização” da companhia aérea, argumentando que “obviamente vai ser má para os trabalhadores”.

“Somos manifestamente contra a privatização e somos por uma gestão eficiente, honesta e transparente, que tenha em conta não só o bom desempenho financeiro da empresa, como o bem-estar e a qualidade de vida dos trabalhadores e a reposição e melhoria dos seus direitos” sustentou.

Lembrando que, “historicamente, estas febres não têm bons resultados”, apontou “a não concretização da privatização com a falida Swissair”, “a falta de garantias da falida Avianca, que interrompeu o processo, ou os dividendos que David Neeleman foi retirando em benefício da Azul e a sua fuga perante a crise”.

“Tudo isto com elevados custos para o Estado português, que acabou por ter que capitalizar a empresa com as consequências que são hoje públicas”, disse.

Questionando “o que é que mudou para se querer agora vender assim a TAP à pressa e na sua totalidade, porque não era este o plano” – numa referência ao recente anúncio do primeiro-ministro, António Costa de que o plano é concretizar a privatização nos próximos 12 meses – Cristina Carrilho defendeu, antes, as virtudes das “parcerias de code share e acordos com outras companhias”.

Em sentido oposto, a plataforma de sindicatos de terra do grupo TAP defendeu que “não há outra alternativa que não seja” a privatização: “A TAP tem que ser privatizada, tem que ter um parceiro para se poder desenvolver, caso contrário está condenada. Porque factualmente, quando os Estados são proprietários das companhias aéreas na Europa, não as podem capitalizar”, argumentou.

Segundo André Teives, o futuro da TAP depende de “encontrar um parceiro que ajude a aumentar a sua capilaridade em termos de rede e a desenvolver-se, porque caso seja necessário fazer investimentos, o privado pode fazê-lo, mas o Estado, sendo dono, não”.

“As privatizações não são um papão, muito menos neste setor, porque na aviação ninguém sobrevive sozinho. Os holandeses não iriam sobreviver sozinhos, juntaram-se à Air France; os espanhóis não iriam sobreviver sozinhos, juntaram-se aos ingleses, e por aí fora. Na Europa tem que ser assim, não há outra hipótese”, sustentou.

Para a plataforma de sindicatos de terra, essencial é que, “se de facto é para avançar [com a privatização], contem com a participação dos trabalhadores” no processo, de modo a “fazer um trabalho sério e rigoroso para, depois, não se vir chorar sobre o leite derramado”.

 

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