Nos últimos dias têm sido várias as preocupações manifestadas por dirigentes Cabo-Verdianos sobre as ligações aéreas entre o arquipélago e a Guiné-Bissau e entre Cabo Verde e Angola. Sem esquecer a dificuldade e o custo de deslocação para a diáspora Cabo-Verdiana de São Tomé quando viaja para o seu país de origem.
Em visita à Guiné-Bissau, o presidente de Cabo Verde, José Maria Neves, defendeu o desenvolvimento das ligações aéreas entre os dois países, mas não mencionou as duas frequências semanais operadas pela Royal Air Maroc entre Bissau e Praia, sendo que, para estes voos de 70 minutos operados a meio da madrugada, a empresa cobra cerca de 500 euros (ida e volta) com poucos lugares disponíveis para venda. “Na Europa, este tipo de voos tem preços a começar nos 20 euros devido à concorrência, ela própria estimulada por uma política de liberalização do mercado aéreo. Em África passa-se o contrário: um protecionismo elevado das companhias de bandeira que são deficitárias, esgotam o dinheiro público e não resolvem o problema essencial do acesso aéreo”, explica Pedro Castro, diretor da SkyExpert, empresa de consultoria especializada em transporte aéreo, aeroportos e turismo. “A Royal Air Maroc chega a vender voos para a Europa via Casablanca mais baratos do que o trajeto entre Bissau e Praia.”
Quase em simultâneo, o ministro do Turismo e dos Transportes cabo-verdiano, Carlos Santos, recebia Eduardo Fairen Soria, CEO da TAAG – Linhas Aéreas de Angola, para estudar mais uma tentativa de criar uma rota entre os dois países. “Independentemente de todas as reuniões e tentativas, a realidade é que as ligações aéreas entre os países africanos de língua Portuguesa são inexistentes ou são extremamente frágeis, caras e pouco adequadas à realidade”. Para Pedro Castro, a resolução deste problema passaria por:
- criar um mercado aéreo aberto e liberalizado entre os países de língua Portuguesa no âmbito da CPLP;
- estimular rotas aéreas e subsidiar tarifas em vez de subvencionar companhias aéreas estatais;
Pedro Castro dá o exemplo concreto da companhia pan-africana ASky com base em Lomé (Togo) que opera voos três voos semanais saindo de Lomé para a Praia, Bissau e São Tomé – “infelizmente, nenhum destes voos conecta entre si”, relembra. Os voos de Praia e Bissau fazem escala em Dakar (Senegal) e os de São Tomé param em Libreville (Gabão). Se os governos destes quatro países de Língua Portuguesa se juntassem e estimulassem a ASky para efetuar um trajeto Praia-Bissau- Lomé-São Tomé-Luanda, teríamos as quatro capitais ligadas mais facilmente do que alguma vez tiveram, a horários, preços e dias da semana adequados e sem necessidade de fazer escala em Lisboa. Idealmente, estes voos permitiriam igualmente ligar aos voos da TAAG de Luanda para Maputo para completar este périplo lusófono de África.