Os tripulantes de cabina da companhia europeia de baixo custo EasyJet em Portugal anunciaram uma greve para 1, 2 e 3 de abril, depois de um impasse nas negociações com a empresa, anunciou nesta sexta-feira, dia 17 de março, o Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC).
Na nota, a estrutura sindical portuguesa recordou que, desde a última assembleia, em 9 de março, ficou mandatada pelos associados desta companhia aérea “para continuar o processo negocial e para recorrer a qualquer meio de luta que fosse considerado pertinente, incluindo o último recurso: o direito à greve”.
“Tendo em consideração o atual momento das negociações, o impasse vivido e a postura intransigente e incompreensível por parte da EasyJet, foi hoje [sexta-feira, dia 17 de março] enviado ofício à empresa, ao Ministério das Infraestruturas, Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ministério da Economia e do Mar e DGERT, comunicando um pré-aviso de greve para os dias 01, 02 e 03 de abril de 2023″, indicou o SNPVAC.
A estrutura sindical referiu ainda que “também foi realizada uma ronda parlamentar, de maneira a expor aos partidos políticos a situação atual dos tripulantes da EasyJet”.
“Temos consciência do que este pré-aviso representa”, realçaram, indicando que esperam “que a empresa também tenha noção de todas as suas implicações”.
No pré-aviso de greve, o SNPVAC indicou que, nesses três dias, a greve “abrange todos os voos realizados pela EasyJet, bem como para os demais serviços a que os tripulantes de cabina estão adstritos”, cujas horas “de apresentação ocorram em território nacional com início às 00h01 do dia 01 de abril e fim às 24h00 do dia 03 de abril de 2023”.
Por outro lado, o sindicato entende que “o conceito de necessidades impreteríveis apenas se confina às Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, por razões de coesão nacional e isolamento das populações para quem é essencial este meio de transporte”.
No entanto, “porque tais destinos são assegurados por outras companhias aéreas (TAP, SATA, Ryanair e Transavia) e atenta a natureza e as demais rotas realizadas pela EasyJet, consideramos que não existem serviços mínimos a assegurar”, rematou.
Na sua fundamentação para avançar com a iniciativa, no dia 9 de março, o SNPVAC recordou a recuperação do setor nos últimos anos, depois da pandemia, lembrando que em Portugal, os tripulantes da easyJet “sempre tiveram uma postura séria de compreensão para as necessidades operacionais da empresa ao longo dos anos”, tendo votado “unanimemente quando a empresa pediu um auxílio, aceitando congelar as suas condições de trabalho por três anos”.
No entanto, indicou o SNPVAC, “durante a pandemia a EasyJet decidiu apoiar com ‘top ups’ bem superiores aos de Portugal a alguns países como a Alemanha e UK [Reino Unido], que por sua vez já tinham apoios bem maiores do Estado”.
O sindicato apontou ainda que, “aquando da retoma da operação, a EasyJet decidiu por si ajudar” os “colegas espanhóis com uma garantia mínima, quando os tripulantes em Portugal passaram dificuldades financeiras” e que “as bases e as rotas portuguesas estão entre as mais rentáveis na rede”.
“Devido à conjuntura económica, os trabalhadores da EasyJet têm perdido poder de compra ao longo dos últimos três anos”, salientaram, destacando que “o aumento do custo de vida asfixia os trabalhadores e põe em causa o bem-estar e conforto das suas famílias”.
“Nos últimos dois anos, os tripulantes de cabine tiveram de lidar com experiências que ninguém previa, encontrando-se na linha da frente mesmo em períodos críticos”, disse ainda o SNPVAC, garantindo que “noutros países e bases onde a empresa não apresenta o mesmo nível de rentabilidade apresentado em Portugal, os colegas obtiveram aumentos significativos” e que “nesses países foram negociados acordos durante o verão, de maneira a proteger a estabilidade de horário dos trabalhadores”.
No comunicado, o SNPVAC defendeu que os tripulantes de cabine da easyJet “não podem continuar a permitir que a empresa adote uma postura de indiferença, quanto aos problemas da classe há muito identificados”, garantindo que se “gerou um clima de tensão e desagrado pelo longo impasse na resolução dos diversos diferendos laborais”.
Para o sindicato, “não é tolerável o impasse a que se chegou nas negociações do AE/CLA em curso, as quais se podem prolongar indefinidamente no tempo”, assegurando que os profissionais em Portugal “desejam ver a sua lealdade e produtividade mostradas para com a empresa reconhecidas”.
Contactada pela Lusa nessa altura, fonte oficial da easyJet disse que a transportadora “leva muito a sério as suas responsabilidades como empregador e emprega toda a sua tripulação ao abrigo de contratos locais, acordados com os sindicatos e em conformidade com a legislação local relevante, pelo que não é possível comparar os termos e condições entre diferentes jurisdições”.
A empresa disse ainda que graças aos “recentes investimentos no mercado”, contratou “um número significativo de colaboradores nos últimos meses” e continua “a receber um elevado número de candidaturas para funções de tripulantes de cabine em Portugal, o que é uma prova das condições competitivas” que oferece, garantiu.
“Estamos empenhados em trabalhar de forma construtiva com os representantes dos nossos funcionários para abordar as suas preocupações com o objetivo de assinar um acordo sustentável”, rematou.