Estalou o verniz entre o Governo Regional dos Açores e a Força Aérea Portuguesa (FAP). As contrariedades e constrangimentos que afetam esta relação verificam-se desde há algum tempo e colocam-se mais ao nível de comandos, do que das instituições em si, segundo conseguiu apurar o ‘Newsavia’ junto de pessoas relacionadas com o a aviação nos Açores. Há um sucedâneo de mal-entendidos, provocados por alguma intransigência na articulação de interesses ou na aplicação rígida de determinadas normas que os governantes açorianos consideram desajustadas em tempo de paz, e que continuam a minar a relação que, ao nível das instituições, sempre foi boa, duma maneira geral, ao longo dos últimos 50 anos.
Nesta sexta-feira, dia 11 de Setembro, a situação ‘implodiu’ com declarações muito pouco amistosas após a divulgação de uma carta enviada pelo secretário regional Vitor Fraga, que tem a tutela dos transportes, dirigida ao comandante da base aérea das Lajes, na ilha Terceira, que torna público o descontentamento do Executivo açoriano.
A Região Autónoma dos Açores, que integra a República Portuguesa, posicionada no Oceano Atlântico, formada por um arquipélago de nove ilhas habitadas, e muito conhecidas dos aviadores que atravessam essa zona geográfica, cruzando a Europa e a América do Norte (e vice-versa). Situam-se nestas ilhas três aeroportos com condições para receberem aviões de longo curso, sendo os das Lajes, na ilha Terceira, onde está situado uma base da FAP e um destacamento da US Air Force (Força Aérea dos Estados Unidos), e o da ilha de Santa Maria, os que possuem as melhores pistas para acolher aviões de longo curso, em escalas técnicas, e/ou em caso de emergência. Isto tem acontecido diversas vezes, algumas em situação extrema, salvando-se, por tal circunstância centenas de vidas.
O que despoletou oficialmente o conhecimento do mal-estar entre as autoridades regionais e a FAP é a divulgação pública de uma carta, que foi publicada esta manhã pela agência noticiosa Lusa, em despacho de Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, capital administrativa e política da Região Autónoma:
«O secretário do Turismo e Transportes dos Açores considera “intolerável” haver sucessivos constrangimentos no estacionamento de aeronaves civis na base das Lajes, uma situação criticada também pelo partido político CDS-PP regional, que teme um “estrangulamento” do desenvolvimento da Terceira.
Numa carta enviada ao comandante da zona aérea dos Açores, a que a Lusa teve acesso, o secretário Vítor Fraga recorda que o parqueamento na aerogare civil das Lajes (onde aterram os aviões comerciais que passam na ilha Terceira) ocorre preferencialmente numa área específica (a placa C) e que as situações de congestionamento são resolvidas com o centro de operações aéreas da base, mas indica que se têm “verificado, recorrentemente, impedimentos na utilização” das outras cinco placas de estacionamento da infraestrutura.
“O centro de operações aéreas da base tem mantido uma posição muito pouco flexível na autorização da utilização de outras placas […], situação que não é de todo compatível com as necessidades das companhias aéreas que voam para a ilha Terceira nem dos passageiros transportados por estas, já para não falar da má imagem”, lê-se na missiva, datada de quinta-feira.
A situação mais recente, aponta, ocorreu na manhã de quinta-feira, quando um avião da TAP esteve parado meia hora, com os motores ligados e 144 passageiros a bordo, à espera de um lugar na placa C, já que não foi autorizada a operação noutra placa.
“Impõe-se, assim, uma maior flexibilidade da parte do centro de operações aéreas da base aérea 4, pois a subsistência desta situação é intolerável, muito mais quando agravada pela frequência com que ocorre”, acrescenta Vítor Fraga.
O CDS-PP/Açores divulgou, além da situação da manhã de quinta-feira, a permanência de um avião da Sata Internacional no aeroporto das Lajes, na semana passada, durante uma hora, também com os motores ligados e os passageiros no interior.
Segundo um comunicado do presidente da estrutura partidária, Artur Lima, os constrangimentos acontecem “praticamente todos os dias” e levaram a uma redução do número de escalas técnicas na ilha.
“A Força Aérea Portuguesa continua a fazer gala em colocar dificuldades às companhias aéreas que voam para a Terceira e a humilhar os passageiros que ficam tempo excessivo dentro dos aviões à espera de autorização para desembarcar ou embarcar”, refere a nota.
Artur Lima disse à Lusa que o cenário se tem agravado, inclusive com o aumento do tráfego, e que, num momento em que há mais razões para flexibilizar as condições da aviação civil, o CDS não pode “permitir que a base militar estrangule o desenvolvimento da ilha Terceira”.
O responsável questionou como poderão as ‘low cost’ querer voar para a Terceira sob estas condições.»