Como é que vemos o tráfego aéreo nos nossos aeroportos, de forma a preparar o amanhã, foi o desafio lançado a Francisco Pita, administrador da ANA Aeroportos, que participou no 31º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo, que decorre em Viana do Castelo, no norte de Portugal, no painel “Game Changing: a transformação da Indústria da Aviação e as implicações para Portugal”. Para o responsável, “nos momentos em que queremos preparar o futuro, muitas vezes esquecemo-nos de olhar para o passado, mas isso por vezes ajuda-nos a tirar algumas conclusões”.
Sendo assim, o administrador da ANA Aeroportos responsável pela área Comercial e de Marketing, aproveitou a ocasião para abordar a evolução do tráfego aéreo nos aeroportos nacionais desde 2000. Verifica-se que, entre 2000 e 2013, houve um período de crescimento moderado no tráfego aéreo, de 3,8%. De 2014 a 2019 assiste-se a um disparar deste crescimento, 10,8%, dividido por dois períodos. Claramente até 2017 mais rápido, de 13%, e depois, já com algum sinal de abrandamento, de 6,7% nos últimos dois anos.
“Porque é que isto aconteceu? Isto aconteceu por vossa causa”, destaca Francisco Pita, complementando: “os nossos clientes são vossos clientes. Isto aconteceu pelo efeito turismo. Foi efetivamente o efeito turismo que alavancou e potenciou este crescimento de tráfego. Este crescimento fez-se em todas as regiões do país, obviamente a ritmos diferentes”. Verifica-se que durante este período todos os aeroportos nacionais cresceram de forma sustentada, porque não foi um crescimento só em volume, mas com muita diversificação, de acordo com o orador.
Quando se olha para os principais mercados emissores ao longo deste período verifica-se que no TOP 10 não houve grandes alterações, em termos relativos. De acordo com o administrador da ANA Aeroportos, “vemos a França a crescer, a Alemanha a baixar, o Brasil a crescer, mas não temos alterações na composição do TOP 10. O que vemos é que fora do TOP 10 começamos a ter mercados como os EUA, Canadá, China, Coreia, Europa de Leste, que de facto começam a ganhar expressão, a ter dimensão”. De acordo com Francisco Pita, os EUA no final do ano vão entrar no TOP 10, sendo este “um mercado que está a crescer a mais de 20%”.
Considera o administrador da ANA Aeroportos que “já em termos de companhias aéreas, não temos tanta diversificação, o caminho até é o oposto, a vivermos tempos de consolidação na Europa”.
Noutra variante, Francisco Pita indica que “outro aspeto importante quando olhamos para o crescimento é o load factor agregado das companhias aéreas, aqui também assistimos a uma convergência dos valores deste load factor por valores extremamente altos. Isso tem muito a ver com a estratégia de gestão de receita das companhias aéreas que tendencialmente leva a load factors elevados, o que mais uma vez são boas notícias que estão por trás destas notícias de crescimentos”.
Continuando a analisar os dados disponíveis desde 2000 da ANA Aeroportos, agora relativamente à sazonalidade, o responsável considera que esta pode ser vista de duas formas. “Podemos considerar que nada mudou, ao nível macro, ou outra interpretação que é aquela que prefiro: no período acelerado, como foram os últimos cinco anos, e tendo em conta que preferencialmente o tráfego tende a crescer mais nos meses de verão, nós conseguimos não penalizar a sazonalidade. Isto são boas notícias, ou seja, tivemos um crescimento fortíssimo nos últimos cinco anos que não penalizou a sazonalidade, até assistimos a uma ligeira melhoria”, indica o interlocutor.
No caso concreto do Algarve, Francisco Pita chama a atenção que “a história particular do Algarve demonstra-nos que já tivemos uma sazonalidade inferior, por exemplo em 2005 e 2006. O Algarve, em termos de oferta de capacidade aérea, já foi menos sazonal. Este é um tema que nos deve fazer pensar. Nesta altura houve uma aposta das companhias aéreas em colocar mais capacidade no mercado agora o que aconteceu foi que os load factors não estavam lá”.
“Estamos em tempo de mudanças no transporte aéreo”
Relativamente ao que se segue, Francisco Pita assegura que “temos sinais opostos e contraditórios, o que significa que é cada vez mais difícil fazer previsões”. Mas relembra que “também falhámos as previsões dos últimos cinco anos pois não havia nenhuma previsão que desse resultados de crescimento a dois dígitos durante cinco anos”. Para o administrador da ANA Aeroportos “para a frente fazer previsões é ainda mais difícil, porque estamos num momento de muita incerteza. Estamos em tempo de mudanças no transporte aéreo, houve várias falências da Europa e a maioria delas tiveram impacto para os aeroportos da rede da ANA. Ainda assim, quando olhamos para aquilo que são os nossos resultados até setembro deste ano, o cenário não é mau”. Indica o orador que “temos um cenário positivo, em que a rede ANA cresce 6,7%, o que compara com a média de crescimento dos aeroportos europeus, que está em 3,6%. Até setembro crescemos o dobro do que estão a crescer os aeroportos europeus”.
Sendo assim, acredita o responsável que para encarar o futuro desde logo mudou uma premissa: “Independentemente do que venha a acontecer mais à frente, hoje estamos num bom ponto de partida, porque temos uma dinâmica de crescimento que ainda não parou, porque temos uma notoriedade turística muito superior e porque temos uma base de diversificação de mercados sobre a qual podemos trabalhar, como os EUA e Coreia, que nos dão algumas perspetivas e razões para estarmos otimistas”.
ANA empenhada no aumento da capacidade aeroportuária de Lisboa e do Porto
Relativamente à ANA Aeroportos, indica o responsável que “as nossas prioridades passam pela construção do Aeroporto do Montijo e ampliação do Aeroporto da Portela, como forma de aumentar a capacidade aeroportuária da região de Lisboa. Esta é a nossa maior prioridade neste momento”. Para o orador este “é um projeto que nos vai permitir ter duas infraestruturas de nova geração, com novos conceitos que vão aumentar claramente aquilo que é a eficiência destes aeroportos para as companhias aéreas, assim como dos passageiros”. Por outro lado, está em marcha o aumento da capacidade de pista do Aeroporto Sá Carneiro no Porto, uma obra que está em curso, e que vai permitir aumentar a capacidade deste aeroporto de 20 para 32 movimentos por hora. “Ao ritmo e à velocidade que estamos a ver crescer o embarque no aeroporto do Porto é absolutamente fundamental fazermos este aumento de capacidade”, indica Francisco Pita, que refere ainda que “como medida mais tática, é a adaptação que estamos a fazer para a necessidade do Brexit. Temos em curso a implementação de 31 novas e-Gates de controlo de fronteira exatamente para preparar a eventualidade da saída do Reino Unido da União Europeia”.
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