O Brasil acaba de entrar para a lista de lugares “criticamente deficientes em termos de segurança” elaborada pela IFALPA (Associação Internacional das Federações de Pilotos da Aviação Civil). O anúncio dessa condição (também chamada de ‘Black Star’) foi feito em carta oficial da organização, enviada pelo seu presidente, o britânico Martin Chalk, ao ministro da Secretaria de Aviação Civil, Guilherme Ramalho.
O motivo da entrada do país da ‘lista negra’ da segurança de voo é o risco cada vez maior imposto pela prática de soltar balões não tripulados (os chamados ‘balões festivos’), sem que tenham sido tomadas medidas reais de fiscalização e punição por parte das autoridades.
Até 15 ou 20 anos atrás, os balões não tripulados se resumiam a pequenos artefatos de papel, soltos sobretudo nos períodos de festas juninas. Hoje em dia, contudo, são construídos por ‘clubes’ com grandes recursos financeiros, alcançando dezenas de metros de tamanho e centenas de quilos de peso, devido às suas armações feitas de metal, suportes para fogos de artifício e grandes bandeiras carregadas. Por isso, tornaram-se ao longo do tempo um perigo em potencial para os aviões.
Em 2015, ocorreram 189 relatos de pilotos que avistaram balões em São Paulo e 88 no Rio de Janeiro ― e esses números têm aumentado, segundo o CENIPA. Entre os anos de 2013 e 2015, foram reportadas sete colisões de aeronaves com balões, seis delas na área terminal São Paulo, felizmente sem consequências graves.
No entanto, sabe-se de pelo menos um caso, ocorrido em 2011, em que os tubos de pitot de uma aeronave de linha aérea foram danificados após colisão com balão, ocasionando a perda de informações de velocidade e outros dados no cockpit da aeronave. Situação muito semelhante à que ocorreu com o voo 447 da Air France, que caiu no mar em 2009 e causou a morte de 228 pessoas, devido ao congelamento das sondas.
O ‘voo às cegas’ de 2011 só não se converteu em desastre devido à perícia de pilotos e controladores, aliada às boas condições meteorológicas e ao fato de ter ocorrido durante o dia, o que facilitou o voo e o pouso em condições visuais.
As entidades que representam os pilotos – SNA, ABRAPAC, ATT e ASAGOL – alertaram as autoridades brasileiras diversas vezes sobre o tema nos últimos anos. E a IFALPA cobrou medidas no começo de 2016, sem receber qualquer resposta.
Com a entrada na lista negra, o Brasil passa a fazer companhia a países com zonas de guerra, regiões do mundo com aeroportos improvisados e locais onde não há sistema de controle de tráfego aéreo.
Segundo a IFALPA, se medidas urgentes não forem tomadas, a entidade reforçará às companhias aéreas internacionais as orientações para evitar o espaço aéreo brasileiro, inclusive durante os Jogos Olímpicos.
- Matéria publicada a 25 de abril de 2016 no site da ABRAPAC – Associação Brasileira de Pilotos da Aviação Civil