A Boeing revelou que no primeiro trimestre do ano fiscal teve um prejuízo de 628 milhões de dólares (558 milhões de euros), devido ao impacto da pandemia da covid-19, e que vai despedir 16.000 trabalhadores enquanto procura liquidez.
“Vamos ser uma empresa mais pequena durante um tempo. Temos trabalhado arduamente para manter a estabilidade da força de trabalho (…), mas vemos que nos próximos anos, com a queda da procura, a produção não permite suportar a força laboral que hoje temos”, disse o presidente executivo da empresa aeronáutica norte-americana, David Calhoun, numa teleconferência de apresentação dos resultados trimestrais, realizada nesta quarta-feira, dia 29 de abril.
O gestor referiu ainda que a Boeing está a “adotar medidas para reduzir a sua força de trabalho em cerca de 10% até ao final deste ano”, de um total de 160.000 trabalhadores, através da “combinação de rescisões amigáveis e despedimentos”.
A Boeing está a enfrentar “uma crise global sem comparação alguma com outras” e está a focar-se em “conseguir liquidez”, tendo agradecido aos 26 países que avançaram com pacotes de ajuda económica específicos para o setor aeroespacial e das companhias aéreas.
A Boeing está ainda a “avaliar as opções de financiamento” que lhe foram oferecidas pelo Estados Unidos, através da Reserva Federal (Fed).
Após fechar 2019 com o seu primeiro ano de prejuízos, o que aconteceu em mais de duas décadas, a Boeing, que está submersa pelo escândalo com os acidentes ocorridos com o modelo 737 MAX, teve no primeiro trimestre do ano mais um impacto negativo com a pandemia da covid-19.
Assim, entre janeiro e março deste ano, reportou 628 milhões de dólares de prejuízos, contra um lucro de 2.149 milhões de dólares alcançados no mesmo período do ano passado.
A faturação trimestral da Boeing recuou 26% em termos homólogos, para 16.908 milhões de dólares, enquanto o fluxo de caixa operacional passou para negativo, com as despesas no montante de 4.300 milhões dólares, já que os seus clientes, principalmente as companhias aéreas atingidas pelo colapso do tráfego aéreo, atrasaram as suas compras, o que se repercutiu nas entregas e adiaram a manutenção e recuperação dos equipamentos.
David Calhoun referiu também que os “princípios fundamentais” nos quais assentam as viagens aéreas desde há cinco décadas e que permitiram dobrar o tráfego aéreo nas duas últimas décadas “permanecem intactos”, mas prevê que vai levar “dois ou três anos para retornar aos níveis das viagens de 2019 e mais alguns anos para que o setor regresse à tendência de longo prazo”.
A empresa tomou medidas para enfrentar a “nova realidade do mercado”, tendo abandonado a recompra de ações e a distribuição de dividendos e pedido um empréstimo de longo prazo no montante de quase 14.000 milhões de dólares.
Esta semana, a Boeing desistiu de uma parceria comercial, acordada desde há dois anos, com a construtora aeronáutica brasileira Embraer que lhe custaria cerca de 4.200 milhões de dólares.