A administração da Cabo Verde Airlines (CVA) afirmou na sexta-feira, dia 2 de outubro, à agência de notícias portuguesa ‘Lusa’ que está a pagar “hoje” os salários em atraso, processo que deverá estar concluído na próxima semana, garantindo que “não abandonou” os trabalhadores, como denunciaram os sindicatos (LINK notícia relacionada).
Questionado pela ‘Lusa’ sobre a situação da companhia, liderada por investidores islandeses e que desde março não opera voos regulares devido ao encerramento das fronteiras de Cabo Verde para conter a pandemia de covid-19, o presidente do conselho de administração da CVA, Erlendur Svavarsson, afirmou que o “foco dos acionistas e da administração é preparar a companhia” para “o reinício das operações assim que as condições pandémicas o permitirem”.
“Entretanto, as condições de saúde, segurança e financeiras dos funcionários da companhia aérea são de suma importância. Foi aprovada uma prorrogação do regime de lay-off implementado pelo Governo de Cabo Verde, pelo que já podem ser tomadas medidas que reflitam essa realidade”, acrescentou Erlendur Svavarsson, que é também diretor executivo da companhia.
Garantiu igualmente que os “acionistas continuam em conversações sobre a resolução futura das finanças da companhia aérea a longo prazo”.
A companhia aérea contava em março com 330 trabalhadores, não tendo a administração quantificado os valores em atraso.
“A administração e os acionistas não abandonaram os funcionários e, de facto, os salários estão a ser pagos hoje e esperamos que todos os saldos remanescentes aos funcionários sejam colocados em ordem o mais tardar na próxima semana”, afirmou ainda Erlendur Svavarsson.
Em conferência de imprensa realizada na terça-feira, o secretário permanente do Sindicato dos Transportes, Telecomunicações, Hotelaria e Turismo (Sitthur), Carlos Lopes, acusou a administração da CVA de deixar os trabalhadores da companhia “completamente abandonados e à sua sorte”.
O dirigente sindical acusou a administração de apresentar “todo o tipo de desculpas para tentar justificar o não pagamento dos salários aos trabalhadores e não dá nenhuma satisfação aos mesmos”. Apontou que os trabalhadores que se encontram em regime de lay-off – recebem 70% do salário, dividido em partes iguais pela empresa empregadora e pelo Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) estão a “sobreviver” com apenas 35% do salário normal, dados os atrasos por parte da CVA.
O primeiro-ministro cabo-verdiano, Ulisses Correia e Silva, afirmou em 7 de setembro que a negociação para o apoio público à CVA “é complexa”, mas garantiu que a companhia, parada há mais seis meses, “continuará a existir”.
Em entrevista à agência ‘Lusa’, Ulisses Correia e Silva assumiu que a situação que a CVA atravessa, com o arquipélago encerrado às ligações aéreas internacionais regulares para travar a pandemia de covid-19, é idêntica à da “maior parte das companhias aéreas do mundo”.
“Isto relativamente à não realização de voos e as consequências económicas e financeiras daí advenientes. As soluções de viabilização das companhias no contexto da pandemia do coronavírus não são fáceis na Alemanha, em França, em Portugal, em qualquer outro país e obviamente também em Cabo Verde”, disse.
O chefe do Governo acrescentou que o executivo está a trabalhar com a administração da CVA – desde março de 2019 liderada por investidores islandeses – num “quadro complexo” de apoio, mas deixou a garantia: “Sendo certo que qualquer que seja a decisão final, a CVA continuará a existir e a ser a companhia de bandeira”.
Há várias semanas que são conhecidas negociações entre o Governo e a administração da CVA sobre o apoio estatal à companhia, ainda sem entendimento.
Em causa está uma companhia privatizada há um ano e meio, em que o Estado ainda detém uma participação no capital social de 39%, mas que está totalmente parada desde a suspensão dos voos internacionais para o arquipélago.
Cabo Verde permanece encerrado a voos internacionais, mantendo apenas, desde 01 de agosto, um “corredor aéreo” com Portugal para “voos essenciais” nos dois sentidos, que obrigam à apresentação de testes negativos à covid-19.
Em março de 2019, o Estado de Cabo Verde vendeu 51% da então empresa pública TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde) por 1,3 milhões de euros à Lofleidir Cabo Verde, empresa detida em 70% pela Loftleidir Icelandic EHF (grupo Icelandair, que ficou com 36% da CVA) e em 30% por empresários islandeses com experiência no setor da aviação (que assumiram os restantes 15% da quota de 51% privatizada).
O Governo cabo-verdiano concluiu este ano a venda de 10% das ações da CVA a trabalhadores e emigrantes, mas os 39% restantes, que deveriam ser alienados em bolsa, a investidores privados, vão para já ficar no domínio do Estado, decisão anunciada pelo executivo devido aos efeitos da pandemia.