Cessna sobrevoam Arouca em homenagem ao Comandante Amado da Cunha

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No regresso a Portugal da Polónia, onde participaram no Campeonato do Mundo de Rali Aéreo, os dois Cessna utilizados pelas quatro tripulações portuguesas, vão sobrevoar Arouca, onde está sepultado o comandante Amado da Cunha, falecido na semana passada aos 93 anos.

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Esta foi uma forma encontrada pelo Aero Clube de Torres Vedras para prestar uma homenagem àquele que foi o seu primeiro instrutor, segundo disse à Newsavia o comandante da TAP João Carlos Francisco, líder da comitiva portuguesa.

O ferry flight das aeronaves deverá acontecer entre esta quarta e quinta-feira, porquanto não se sabe dizer ao certo quando é que a homenagem acontecerá. Sabe-se apenas que farão várias passagens por Arouca (concelho do distrito de Aveiro).

Amado da Cunha é uma das referências da TAP e tem no seu extenso currículo um voo do Papa João Paulo VI, conforme sublinhou João Carlos Francisco.

Publicamos a seguir, uma merecida homenagem, sobre forma de um texto,cedido à Newsavia pela Voa Portugal, que nos dá conta da longa, preenchida e apaixonante vida do comandante Amado da Cunha, ligado à aviação desde o berço.

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“Francisco Manuel de Macedo e Faro Amado da Cunha nasceu em Lisboa a 14 de Maio de 1921, segundo filho de Manuel de Barros Amado da Cunha e de D. Guilhermina de Macedo Pinto Menezes e Faro. Os aviões estavam-lhe no sangue, já que o seu pai foi Capitão piloto aviador da Aeronáutica Militar, um dos protagonistas do célebre “Cruzeiro Aéreo às Colónias” realizado em 1935, tendo em 1929 numa comissão civil sido o primeiro piloto comercial em Portugal, voando na também primeira companhia aérea no nosso país nascida dois anos antes (1927), os SAP – Serviços Aéreos Portugueses Lda., onde voou num Junkers F-13 registado como C-PAAC (3º registo de um avião civil em Portugal) e baptizado com o nome da cidade de “Lisboa”.
Francisco Amado da Cunha terminou a instrução primária na capital, tendo seguido para um colégio em Braga pertencente ao Liceu Sá de Miranda onde completou os seus estudos secundários por vontade expressa do seu pai.
Realizou com apenas 9 anos o seu sonho de menino, voando pela primeira vez na companhia da irmã em Alverca a bordo do Junkers “Lisboa” dos SAP pilotado pelo seu pai. Em Novembro de 1939, com apenas 18 anos de idade, iniciou a sua almejada instrução de pilotagem no Aero Clube de Braga, campo de aviação de Palmeira, tendo como instrutor José Esteves de Aguiar e utilizando para o efeito um pequeno monomotor Taylor Cub J-2 de 40 cavalos, o CS-AAU baptizado com o nome da cidade de “Braga” (nota: a Taylor Aircraft Company entretanto mudaria de nome para Piper Aircraft Corporation).
Amado da Cunha foi largado em Novembro de 1939 e, após ter obtido o seu Certificado de Piloto de Aviões de Turismo n.º 310, a 31 de Março de 1940, decidiu enveredar por uma licenciatura na Escola Superior Colonial (actual Instituto de Ciências Sociais e Políticas) entre 1941 e 1945.
Alistou-se na Aeronáutica Militar como Aspirante a Oficial Piloto Miliciano em 1942, já que a idade militar tinha entretanto chegado, tendo efectuado o curso de piloto militar no CITPAM – Centro de Instrução e Treino de Pilotos Aviadores Milicianos, voando num DeHavilland DH-82A Tiger Moth.
Passou à reserva anos mais tarde com o posto de Tenente Piloto Aviador. Terminada a licenciatura foi convidado em 1946 para instrutor do Aero Clube de Torres Vedras, onde permaneceu durante cerca de um ano formando vários pilotos civis.
Inscreveu-se por sugestão de um amigo em 1947 nos TAP – Transportes Aéreos Portugueses, nesta altura dependente do Secretariado de Aeronáutica Civil dirigido pelo Tenente-coronel Humberto Delgado, que recrutava pilotos para esta empresa aérea recém criada. Foi admitido a 7 de Maio desse ano integrando o 2.º Curso Geral de Pilotos Navegadores dos TAP, juntamente com mais oito candidatos todos sobejamente conhecidos no meio aeronáutico (José Freire Horta, Roque Brás de Oliveira, Manuel Guerreiro Figueira, Alberto Câncio Ferreira, Filomeno Sérgio da Silva, Alberto da Silva Pereira, João Manuel dos Santos Rato e Manuel Correia Reis).
Nos TAP foi-lhe atribuído o número “TAP 277”, iniciando a sua carreira de piloto de transporte aéreo no velho e lendário Douglas C-47 “Dakota”, 1.º avião comercial da companhia aérea. A 1 de Outubro de 1947 iniciou os seus voos de instrução nos TAP, tendo 6 anos depois, mais precisamente a 23 de Abril de 1953, realizado o seu 1.º voo em comando no “Dakota” na rota Lisboa – Porto. A sua progressão na carreira não parou, e a 19 de Março de 1956 nova mudança de equipamento voado, desta feita como co-piloto do quadrimotor Douglas C-54 “Skymaster”. A 14 de Dezembro de 1957 realizou o seu 1.º voo como co-piloto em Lockheed L1049G “Super Constellantion”, o novo equipamento que os TAP tinham entretanto adquirido em 1953, mais precisamente no CS-TLA “Vasco da Gama” na rota Lisboa – Londres. A 8 de Janeiro de 1959 foi promovido a comando em “Skymaster” num voo Lisboa – Madrid e a 5 de Março de 1962 chegou a vez de comandar um “Super Constellation”, o CS-TLF “Mouzinho de Albuquerque” na rota Lisboa – Bissau. A 5 de Fevereiro de 1963 e após o curso teórico e de simulador que realizou na escola de pilotagem da United Airlines em Denver (USA), efectuou o 1.º voo em comando num Sud Aviation “Caravelle VIR”, o CS-TCA “Goa” entre Lisboa e Porto Santo, naquele que foi o primeiro avião a jacto da companhia de bandeira portuguesa.

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A progressão de Amado da Cunha na carreira TAP continuou, acompanhando a evolução da frota da empresa com o início da era Boeing no final da década de 60. A 18 de Outubro de 1967 foi a vez de realizar o seu 1.º voo em comando num Boeing 727-100, no CS-TBM “Algarve” entre Lisboa e Londres. O Boeing 707 foi o avião que se seguiu, com o 1º voo a 5 de Agosto de 1969 no CS-TBB “Santa Maria” entre Lisboa e Paris (Orly). A 4 de Abril de 1972 e após curso realizado no fabricante norte-americano em Seattle, voou pela primeira vez no Boeing 747 CS-TJA “Portugal” entre Luanda e Lisboa.
Como factos a salientar na sua longa carreira de piloto TAP coube-lhe a 20 de Julho de 1960 realizar a primeira aterragem num voo de ensaio na nova pista do Porto Santo com o “Skymaster” CS-TSC. O avião pilotado por ele e por Marciano Bonnuci Veiga chegou à ilha pela hora de almoço, tendo os ocupantes (todos eles funcionários superiores da TAP e da DGAC) sido recebidos pelo Presidente da Câmara Municipal João Inácio Perestrelo. Efectuou alguns voos de teste durante a tarde e retornou a Lisboa ao final do dia. O aeroporto seria inaugurado oficialmente cerca de um mês depois, no dia 28 de Agosto.
No mês de Maio de 1967 o Papa Paulo VI deslocou-se a Fátima naquela que foi a 1.ª deslocação de um Sumo Pontífice àquele Santuário, como forma de assinalar os cinquenta anos das primeiras aparições de Fátima. A viagem para Portugal foi efetuada a 13 de Maio desde Roma (Fiumicino) em voo direto para a Base Aérea nº 5 em Monte Real, tendo Amado da Cunha e João Augusto Graça utilizado o “Caravelle” CS-TCC “Diu”. Antes da aterragem em Monte Real foi efetuada uma passagem baixa sobre o Santuário para que Sua Santidade pudesse observar o local que se encontrava repleto de peregrinos.
Realizou várias viagens inaugurais nas décadas de 60 e 70: Lisboa – Bruxelas – Copenhaga em “Caravelle” (Abril de 1967), Lisboa – Geneva – Zurique em “Caravelle” (igualmente em Abril de 1967) e o 1º voo a Lourenço Marques a jacto em Boeing 707 (Junho de 1970).

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Ocupou ao longo da sua longa carreira na TAP vários cargos de chefia para que foi convidado, entre eles o de Chefe da Secção de Movimentos (1962), Chefe da Secção de Controle (1965), Chefe da frota “Caravelle” (1966), Chefe da frota Boeing 707 (1970) e finalmente Chefe da frota Boeing 747 (1975), além de ter sido instrutor de voo em “Caravelle” e em Boeing 707.
Terminou a sua carreira de piloto a 7 de Maio de 1981 por limite de idade (60 anos), ao fim de 34 anos de serviço na TAP. O seu último voo realizou-o num Boeing 747, o CS-TJB “Brasil” entre Nova Iorque e Lisboa, com um total de 18.733 horas de voo.
Voou todas as aeronaves que a TAP possuiu nas mais de três décadas ao serviço da companhia.

 

 

 

No seu último Relatório de Voo escreveu:

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“Este é o meu último Relatório de Voo ao fim de trinta e quatro anos consecutivos em serviço de linha na TAP. Foi uma bela aventura técnica, uma grande experiência humana. Recordo com saudade e respeito os numerosos colegas de terra e ar que comigo conviveram e já desapareceram. A todos os Chefes de Serviços de todos os departamentos da TAP e a todos os colegas que em terra ou no ar comigo conviveram, trabalharam, me auxiliaram e ensinaram, os meus agradecimentos e amizade. Para o Conselho de Gerência da TAP os meus melhores votos de total sucesso na sua difícil tarefa de continuar a TAP/AIR PORTUGAL, elevando de novo o seu nome à altura digna que já tem tido. Recordo-me da viagem do Papa Paulo VI a Fátima. Aos colegas e amigos mais novos que ainda vão ficar. O meu respeito e votos de que cheguem à idade de reforma tão dignificados e felizes como eu me sinto hoje”.

Faleceu com 93 anos de idade a 20 de Agosto de 2014.

 

Textos e Fotos Gentilmente cedidos por Voa Portugal – Veja aqui

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