Várias companhias aéreas fizeram saber nesta quinta-feira que estão decididas a adotar procedimentos que impeçam a presença solitária de pilotos nos cockpits dos seus aviões.
Logo que foi conhecido o relatório preliminar do acidente em que esteve envolvido o Airbus A320 da Germanwings, cuja queda foi atribuída 48 horas depois do desastre à ação direta do co-piloto, a Norwegian Air Shuttle, terceira maior companhia europeia de baixo custo, anunciou que iria implementar novos procedimentos (Vide notícia) e solicitou à Autoridade Nacional de Segurança Aérea da Noruega, que autorizasse esse procedimento na companhia, de forma oficial, e que estudasse a questão com vista a uma obrigatoriedade futura.
Durante a tarde surgiram outras companhias a falar sobre o assunto, não só na Europa, onde a lei não obriga à presença permanente de dois tripulantes no cockpit, como também no continente americano (à excepção dos EUA onde essa medida já é obrigatória).
Depois da Norwegian, que foi a primeira empresa europeia a solicitar a uma entidade oficial a implementação da medida, surgiram outras companhias a tomar igual decisão. Foram elas a Icelandair (Islândia); a Air Canada, a Air Transat e a WestJet, as três de bandeira do Canadá; a Virgin Atlantic, a EasyJet e a Thomas Cook Airlines, todas do Reino Unido. Este número tenderá a aumentar nos próximos dias, pois as autoridades de segurança aérea de alguns países, nomeadamente do Reino Unido e do Canadá, já anunciaram que irão, para já, aconselhar as companhias dos seus países a passarem a ter dois tripulantes nos cockpits.
Entretanto, a Finnair revelou na tarde desta quinta-feira que já utiliza esse procedimento desde há algum tempo. Sabe-se ainda que outras companhias já vinham a seguir essa medida de segurança desde há alguns anos, sem que disso fizessem bandeira. São os casos da low cost britânica Ryanair, da portuguesa EuroAtlantic Airways (dedicada aos fretamentos em ACMI e aos voos especiais ou fretados para operadores turísticos), das espanholas Iberia e Vueling, e da TAM, no Brasil, que desde há algum tempo também exige que os seus tripulantes não deixem o cockpit entregue a um único piloto. Outras existirão, porventura, sem que estejam referenciadas publicamente. Esta questão só agora tomou maior destaque e acuidade, resultante, como se referiu, do fato das autoridades francesas terem culpabilizado o jovem co-piloto alemão, acusado agora de homicídio voluntário de 149 ocupantes do aparelho sinistrado. Uma decisão que está a ser contestada por algumas organizações de pilotos que defendem que ainda é cedo para chegar a uma conclusão desta natureza. Uns acusam a França de estar a defender a Airbus, construtora da aeronave, por ter matriz de empresa francesa, outros que “é mais fácil atribuir a culpa ao morto”. Um longo debate que, certamente, se avizinha.
As regras atuais para a aviação civil europeia não impõem a presença permanente de duas pessoas no ‘cockpit’ quando um dos seus ocupantes, o piloto ou o copiloto, tenha de se ausentar por qualquer razão. A companhia finlandesa Finnair, por exemplo, já aplicava esta medida. “O manual já prevê duas pessoas em permanência no ‘cockpit’. Se um piloto se quiser ausentar, outro membro da tripulação tem obrigatoriamente de entrar”, explicou a porta-voz da Finnair, Päivyt Tallqvist, citada por agências noticiosas internacionais.
Também na quinta-feira, dia 26 de Março, a BDL – Federação Alemã das Empresas do Sector Aeronáutico anunciou que vai propor à AESA – Agência Europeia de Segurança Aérea a implementação, com carácter obrigatório, dos procedimentos atrás referidos em todas as companhias de registo europeu e que circulem em espaço aéreo do continente europeu.
- Face à polémica que o assunto tem despertado sugerimos aos nossos leitores a visualização de um vídeo que está no Youtube há muito tempo e que mostra o procedimento de fecho e abertura de uma porta de segurança do cockpit de um Airbus. Está falado em língua inglesa, mas facilmente entendível para quem está ligado à aviação. Ressalta o facto da Airbus indicar que a porta pode ser aberta da cabina para o cockpit, quando em caso de bloqueio ou, no caso extremo, de os pilotos estarem inanimados, com um código que é do conhecimento da tripulação de cabina, o que não terá sido feito no caso do avião da Germanwings.