O presidente do Conselho de Administração da companhia aérea portuguesa White Airways disse nesta quarta-feira, dia 7 de dezembro, na Assembleia da República, em Lisboa, que o comunicado da TAP Air Portugal a anunciar o fim do contrato com a companhia foi “desastroso” e teve efeitos “muito maus”, acusando a transportadora de bandeira de incoerência.
José Miguel Costa, que esteve numa audição na Comissão de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação, indicou que duas horas antes de a transportadora divulgar esse comunicado, em que dava conta do lançamento de uma consulta ao mercado para um novo operador, a White esteve reunida com a tutela.
“Duas horas depois, a TAP emitiu um comunicado desastroso que teve efeitos muito maus para a empresa”, referiu, adiantando que o seu mercado não é só Portugal e que “tem sido muito difícil controlar os danos gerados por um comunicado que foi gratuito e sem nenhuma justificação”, indicou.
“Consideramos particularmente grave a nossa situação”, adiantou, salientando que não entende “muito bem o que efetivamente se passou”.
“Ao longo da vigência do nosso contrato com a TAP transportámos qualquer coisa como quatro milhões e 700 mil passageiros e voamos cerca de 200 mil horas”, referiu o presidente da White que foi durante vários anos prestador de serviços externos para a TAP, operando voos para a companhia de bandeira portuguesa.
A opção por escolher outro operador, neste caso da Estónia, foi justificada “com a performance recente da White, contudo queriam ficar com a tripulação e manutenção da White”, destacou José Miguel Costa, sublinhando que “não faz nenhum sentido” entregar aviões a um operador estrangeiro e apontando que “se o problema era de performance da White” lhe parece “pouco credível e coerente que depois se venha dizer que querem ficar com os técnicos, pilotos e manutenção”.
“Esquecerem-se de dizer que quem era responsável pela manutenção era a Portugália”, salientou, indicando que “a White simplesmente se limitava a cumprir com os voos”.
“A White está numa situação de sobrevivência”, garantiu, apontando, no entanto, para outros projetos, nomeadamente no Brasil.
Ainda assim, alertou para a situação de 120 trabalhadores, que ficam em risco devido à decisão da TAP.
A TAP disse, em 19 de outubro, que tinha lançado um pedido de proposta a vários operadores para um contrato de prestação de serviços para dois aviões ATR, em substituição da White Airways, cujo contrato terminava em 31 de outubro.
“A White Airways tem vindo a operar uma frota de seis aviões ATR para a TAP, o que tem sido um desafio constante, com múltiplos aviões ATR a ficarem em terra por avaria e a registarem uma regularidade operacional decrescente”, justificou a companhia, indicando que, de acordo com o seu plano de reestruturação, “tem uma limitação em termos de dimensão da frota, que não pode exceder as 99 aeronaves”.
De acordo com a transportadora, “só durante o último ano, a White Airways teve uma média mensal de 10 eventos AOG (Aircraft on Ground) devido a razões técnicas”, sendo que, “entre novembro de 2021 e setembro de 2022, razões técnicas resultaram num agregado de 342 voos cancelados, com uma média de 31 voos cancelados por mês”.
“Só em setembro de 2022, a White teve 84 voos cancelados por razões técnicas”, referiu a empresa, adiantando que “em 2022 (acumulado), a White Airways tem 1,9 AOG por 100 voos, contrastando com a relação da TAP de 0,52 AOG por 100 voos. A White Airways operou 94% dos voos planeados, enquanto na TAP esta percentagem sobe para 98,2%”, destacava o comunicado da TAP.
A TAP assinalou que, “desde janeiro de 2022, o baixo desempenho da frota ATR operada pela White teve um impacto financeiro negativo na TAP de 4,8 milhões de euros devido a cancelamentos, necessidade de troca de aviões com aumento de capacidade e indemnizações aos passageiros” (LINK notícia relacionada).
- Texto distribuído pela agência de notícias ‘Lusa’ e publicado na imprensa portuguesa