Uma empresa portuguesa recolheu “várias horas” de imagens aéreas do vulcão há quase um mês em atividade, na ilha cabo-verdiana do Fogo, que agora serão analisadas pela Proteção Civil cabo-verdiana, revela hoje a agência noticiosa Lusa.
Durante uma demonstração na Cidade da Praia, o administrador da empresa ‘Takever’, Ricardo Mendes, engenheiro informático, indicou à agência Lusa que foram obtidas imagens térmicas, através de sistemas autónomos aéreos – aviões não tripulados, também conhecidos por drones -, em missões diurnas e noturnas.
“Recolhemos algumas horas de imagens, em toda a extensão das lavas”, deu conta o responsável da empresa, que, para a missão de três dias, utilizou um sistema denominado “AR 4 Light Ray”.
Todas as imagens recolhidas serão agora disponibilizadas à Proteção Civil de Cabo Verde, que terá a tarefa de as analisar, para saber como agir e como acompanhar a erupção vulcânica que teve início no passado dia 23 de Novembro.
“Toda a informação recolhida será passada à Proteção Civil cabo-verdiana, para que depois possa difundi-la junto dos seus parceiros, nomeadamente as universidades e os institutos envolvidos”, sublinhou Ricardo Mendes.
“O nosso papel aqui era ajudar, em tudo o que pudéssemos, as autoridades cabo-verdianas, recolhendo a maior quantidade possível de informações, da forma mais precisa possível”, prosseguiu.
Ricardo Mendes avançou que, através das informações recolhidas, é possível perceber onde estão as lavas, a que distância estão das populações, se estas poderão ser ou não atingidas e que novas frentes podem surgir.
O gestor português, acompanhado pelo operador João Mestrinho e pela técnica Filipa Martins, salientou que a missão na ilha do Fogo também permitiu testar os equipamentos.
“Deve ter sido das missões mais complicadas que já fizemos. [Mas] conseguimos ultrapassar [as dificuldades] e foi uma prova muito boa para testar e melhorar sistemas”.
Entre as dificuldades encontradas, o responsável citou o vulcão, a cratera, o terreno acidentado, a altitude a que se realizavam os voos, as correntes, a temperatura da lava e a existência de muito metal em Chã das Caldeiras.
O responsável pelas operações da Proteção Civil no terreno, Jair Rodrigues, considera a iniciativa da empresa portuguesa “muito importante”, uma vez que vai permitir aceder, pela primeira vez, em quantidade e qualidade, a imagens que dão uma perspetiva global sobre o avanço das lavas e os estragos causados.
“Estávamos a trabalhar com base [em dados] de 2013 (…) e não tínhamos uma imagem em tempo real do que se estava a passar”. “Tentámos ter uma imagem da caldeira, para fazer a avaliação, mas revelou-se impossível. Quando surgiu esta proposta para utilizar um ‘drone’, aproveitámos logo e foi uma grande valia”, disse Jair Rodrigues à agência Lusa.
O responsável disse que a proteção civil cabo-verdiana vai começar a analisar as imagens na segunda-feira, para delinear as ações a seguir.
Além desta missão na ilha do Fogo, Jair Fernandes e Ricardo Mendes avançaram que a ‘Takever’ poderá ajudar a Proteção Civil as outras autoridades de Cabo Verde em missões de segurança e vigilância da costa do arquipélago.
A equipa portuguesa reuniu-se no sábado com a ministra cabo-verdiana da Administração Interna, Marisa Morais.
A empresa, de capital inteiramente português, lidera nove projetos de segurança aérea e espacial, tendo parcerias e colaborações com várias empresas e instituições, no quadro da Agência Europeia de Defesa (EDA, na sigla inglesa).
- Texto da agência noticiosa Lusa que está a ser publicado neste domingo na imprensa portuguesa.
- Foto: Imagem retirada da Página de Facebook da empresa ‘Takever’ que mostra elementos da equipa de técnicos portugueses com um quadro cabo-verdiano em plena sessão de trabalho.