Aterrou ontem, sexta-feira 14 de Novembro, em Bissau, no Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, o Boeing 737-800 da EuroAtlantic Airways, registo CS-TQU, que inaugurou uma nova carreira aérea entre Lisboa e a capital da Guiné-Bissau.
Na história de quase 40 anos da Guiné-Bissau independente esta é a terceira companhia aérea que irá ligar regularmente a antiga colónia portuguesa à Europa e a Lisboa, cidade para onde há mais procura, dado viverem em Portugal alguns milhares de guineenses e ao facto de uma boa parte das trocas comerciais serem feitas com Portugal. Há ainda uma grande ligação entre os dois países resultante da vigência de diversos acordos, nomeadamente nos sectores da saúde e do ensino, que obrigam a uma movimentação mais intensa de passageiros de Bissau para Lisboa e em sentido inverso.
A EuroAtlantic é a terceira empresa, depois da TAP Portugal, que se manteve em Bissau, continuando no período pós independência a garantir as ligações necessárias entre os dois países, e da extinta Air Luxor. Em 2003 esta companhia aérea portuguesa liderada pela família Mirpuri criou uma delegação em Bissau, tendo obtido das autoridades guineenses um Certificado de Operador Aéreo (COA) sob a denominação de Air Luxor GB, cujos voos tinham o prefixo L8. Os aviões utilizados eram os da Air Luxor, nesse tempo a ganhar uma quota importante de mercado em Portugal. Esta companhia entretanto abriu falência, em 2007, tendo os voos da Air Luxor GB sido suspensos em Setembro de 2006.
Nos últimos anos foram registadas algumas outras companhias na República da Guiné-Bissau. Todas tiveram vida efémera. A melhor estruturada foi a Air Bissau que tinha suporte governamental e que trabalhou com aviões alugados a uma companhia francesa, a EAS, realizando voos entre Bissau e Paris, onde também existe uma assinalável colónia de emigrantes guineenses.
O voo de ontem da EuroAtlantic regressou à noite a Lisboa, depois de uma estada de algumas horas da aeronave em Bissau, onde os cerca de 80 passageiros, entre eles diversos convidados da companhia, foram recebidos com muita alegria, música e danças tradicionais africanas, que patentearam a satisfação da Guiné-Bissau em receber este novo voo regular.
Há cerca de um ano que o aeroporto de Bissau não recebia nenhum voo comercial proveniente da Europa pelo que o dia de hoje era mesmo de festa. Assim foi. O avião chegou com cerca de uma hora de atraso, mas mesmo assim fez-se festa. Logo na entrada da aerogare os ‘Netos de Bandim’ (o mais célebre grupo da música tradicional guineense) davam as boas-vindas ao som de batucadas e dança local.
“Os cerca de 80 passageiros desceram do avião, entraram em dois autocarros que os foram recolher à saída do aparelho e ao se dirigirem para a sala das formalidades aeroportuárias tiveram direito às boas-vindas de maneira típica guineense, isto é, com música e dança. Alguns passageiros, jornalistas e figuras da sociedade portuguesa (artistas e atrizes convidadas) ensaiaram passinhos de dança ainda que no aeroporto fazia um calor de 34 graus à sombra a contrastar com o tempo frio que se faz sentir em Lisboa”, assinala o relato da Lusa.
Houve festa, com a actuação do grupo ‘Netos de Bandim’, mas tal não fez com que as autoridades sanitárias descurassem as medidas de prevenção do vírus Ébola, refere um despacho da agência noticiosa Lusa. Cada passageiro foi sujeito a um controlo de temperatura corporal através de um termómetro a laser que era apontado à cabeça de quem estava a chegar.
Cumpridas as formalidades sob o olhar de vários elementos do corpo de segurança que as autoridades fazem questão de notar que está reforçada no aeroporto, os passageiros, ou seja, os convidados e que deviam regressar a Lisboa, assistiram a mais um sarau cultural, desta feita no terraço da aerogare. A anteceder os discursos da praxe, mais uma vez os Netos de Bandim exibiram passos de dança sincronizada ao ritmo do tambor africano e mostraram algumas acrobacias.
O aeroporto Osvaldo Vieira estava cheio de curiosos, que foram assistir à chegada do avião não só para ver quem estava a chegar mas também para testemunhar o regresso, cerca de um ano depois, de um aparelho proveniente da Europa.
A TAP, única companhia que fazia ligação direta entre Bissau e a Europa, suspendeu os seus voos no dia 10 de Dezembro do ano passado na sequência do embarque forçado pelas então autoridades guineenses de transição de 74 sírios com documentos falsos. O reinício dos voos esteve remarcado para o dia 28 de Outubro, quando foram consideradas que estavam repostas garantias de segurança no Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, em Bissau, mas novamente a TAP adiou, devido ao surto de Ébola que afecta a região, se bem que o governo de Bissau não tenha reportado casos mortais.
- A imagem mostra o avião da EuroAtlantic na placa de estacionamento do Aeroporto Internacional Osvaldo Vieira, na cidade de Bissau. O autor da imagem é António Ali da Silva, um jornalista guineense, autor do blog ‘Ditadura do Consenso’ (www.ditaduradoconsensoblogspot.pt)