O britânico Peter Hill, presidente executivo da TAAG – Linhas Aéreas de Angola, diz que a companhia “enfrenta a maior crise financeira da sua história” e que “o Governo não irá suprir as necessidades de tesouraria”.
O novo responsável pela TAAG, nomeado na execução do acordo que o Governo da República de Angola assinou com a Emirates Airline, um dos maiores grupos de aviação comercial do mundo, com sede no Dubai, Emirados Árabes Unidos, falava num encontro com directores da companhia aérea estatal angolana, realizado em Luanda no passado dia 19 de novembro. Curiosamente o documento que serviu de base ao encontro, classificado de confidencial e exclusivo, está à disposição do público em geral, em diversos sites informativos do país.
O aviso de Peter Hill, que tem sido reproduzido nalguns meios de comunicação, via Internet, em Angola, foi tema de uma notícia publicada na segunda-feira, dia 23, na edição online do ‘Jornal de Negócios’ que se edita em Lisboa, que reproduzimos em seguida:
«A transportadora angolana registou em 2014 prejuízos de 89 milhões de euros. Já este ano, o Governo assinou um contrato de gestão da TAAG pela Emirates, durante um período de cinco anos (2015-2019) prevendo que no fim do mesmo a TAAG atinja resultados operacionais positivos de 94 milhões de euros.
Peter Hill, nomeado no âmbito do acordo de parceria entre a TAAG e a Emirates, anunciou, na reunião mantida a 19 de Novembro, que “um dos primeiros sacrifícios” a fazer, “este mês [Novembro] e provavelmente o próximo” é o de cortar nos vencimentos do pessoal da companhia, pagando apenas o salário base.
“De momento não podemos aceitar fraco desempenho, absentismo, negligência ou indisciplina. O nosso negócio é transportar passageiros e gerar receita em vez de custos” acrescentou o gestor, avisando que “não haverá retorno aos velhos tempos de performance indiferente, de enganar a companhia e de apropriação indevida dos fundos da companhia e de equipamentos” .
Peter Hill fez o retrato do que encontrou na TAAG e revelou o seu desagrado. “Muitos excessos, equipamentos em duplicado, armazéns com enormes quantidades de tudo”, práticas que “duram nos dias de hoje”. E de seguida responsabilizou: “é vossa responsabilidade assegurar que todas as compras serão absolutamente vitais para a vossa operação e que o actual stock justifica a aquisição, pois estão a ser monitorizados e serão responsabilizados pelas más práticas”.»
Nos sites informativos angolanos não-alinhados com o Governo de José Eduardo dos Santos, há até referências à aquisição de um motor de avião que teria sido comprado à General Electric, supostamente no valor de nove milhões de dólares, mas que nunca chegou a Luanda, assim como Peter Hill terá também descoberto a existência de 80 pilotos fantasmas afectos à Direção de Operações de Voo (DOV) da companhia, então sob a responsabilidade de um ex-administrador afeto a círculos governamentais.
Naturalmente que será uma fase de muita ‘lavagem de roupa suja’ e descoberta de coisas menos boas, razão fundamental que forçou o Governo de Angola a contratar a Emirates, como entidade independente, para este trabalho que será de ‘segunda refundação’ da companhia aérea angolana. No início da década, Luanda tinha tentado o que chamou a “Refundação da TAAG”, um objectivo não conseguido em plenitude, já que o Executivo não permitiu a limpeza desejada, nem terá colocado na TAAG as pessoas certas para esse trabalho. Contudo, a companhia cresceu e tem hoje uma frota de grande qualidade e conta com novos pilotos e pessoal técnico mais qualificado, que presta um serviço de qualidade.
Agora, com medidas mais assertivas, esta nova Administração caminha certamente para uma segunda ‘refundação’ da TAAG, que está a ser encarada com muito optimismo pelos verdadeiros interessados no desenvolvimento e crescimento da companhia aérea angolana.
- Foto: Carlos Seabra