Michael O’Leary, presidente executivo da companhia de baixo custo irlandesa Ryanair, volta nesta segunda-feira, dia 18 de setembro, à cena mediática internacional, por motivos que pouco abonam a sua pessoa e a empresa que dirige.
Perante os jornalistas, numa conferência de imprensa, em Dublin, sede da companhia aérea, justificou que o cancelamento de voos nas próximas seis semanas (LINK notícia relacionada) não se deve a falta de pilotos, mas sim a um “erro” na distribuição de férias, tendo assumido “toda a responsabilidade pessoal”.
O executivo da Ryanair, conhecido pelas suas declarações desconcertantes, pediu desculpas aos milhares de passageiros que serão afetados por esta medida, mas insistiu que apenas serão afetados 2% de todos os voos da companhia, líder na Europa no segmento de baixo custo.
“Não temos falta de pilotos. Houve uma falha na distribuição das férias e não temos uma reserva de pessoal suficiente para enfrentar os transtornos sofridos, como os provocados por controladores ou pela climatologia”, explicou o dirigente.
As declarações de Michael O’Leary e as justificações da semana passada da companhia, estão a provocar uma onda de contestação, não só da parte dos passageiros, como também dos controladores aéreos europeus, que se sentem atingidos. Mas é o caos aeroportuário, também, que começa a preocupar algumas entidades europeias, a braços com cancelamentos de última hora que poderão afetar, em seis semanas, cerca de 300.000 passageiros, causando-lhes ainda prejuízos irreparáveis, como seja o cancelamento das suas férias.
O jornal ‘The Independent’ de Dublin noticiou nesta segunda-feira, que a decisão da Ryanair se deve a falta de pilotos e não a uma eventual arrumação da casa, com o objetivo de conseguir uma melhor ocupação dos voos. O periódico cita Kenny Jakobs, diretor de marketing da companhia, que terá afirmado que há falta de quadros na empresa para acorrer a tantos voos.
Outros meios dizem que a concorrente Norwegian terá levado da Ryanair cerca de 140 pilotos, para poder abrir as suas novas linhas transatlânticas para os Estados Unidos da América com os novos aviões Boeing 737 MAX, o que deixou os quadros de pessoal da congénere irlandesa desfalcados.
Seja como for, a verdade é que não se adivinham fáceis as próximas semanas para os passageiros da Ryanair, nem para a própria companhia aérea que, normalmente, coloca ao cliente, a quem é recusado o embarque em determinado voo, duas opções: viajar num outro voo posterior ou reembolsar o dinheiro pago pelo bilhete. Ora, a legislação europeia que abrange, naturalmente, a empresa de transporte aéreo irlandesa, é inequívoca e determina que quando se produzem cancelamentos de viagens por culpa das companhias aéreas “os passageiros têm direito a receber gratuitamente refeições e refrescos durante o tempo de espera, e alojamento nos casos que implique pernoitar nesse lugar durante uma ou mais noites” até que a companhia lhes forneça adequado transporte. Os passageiros poderão ainda solicitar uma indemnização, com valores fixados para voos de médio curso e de longo curso.
Em diversos aeroportos europeus existem desde sábado passageiros da Ryanair que aguardam uma resposta para o transporte que lhes foi negado pela companhia irlandesa, embora tenham sido notificados do cancelamentos dos seus voos.
As férias mal programadas dos pilotos da Ryanair, a última justificação assumida por Michael O’Leary, poderá custar muito caro à companhia, nomeadamente se as autoridades nacionais e europeias de Defesa do Consumidor levarem à letra a legislação em vigor e aplicável neste caso. Além do mais, os concorrentes da companhia irlandesa estarão atentos e procurarão fazer tudo para que O’Leary pague pelas suas ‘falhas’ e cumpra com as suas obrigações.
Parece-me que ficará para a história como um daqueles case studies sobre como não gerir uma crise. E temo bem que o impacto na reputação da companhia seja significativo. A ver vamos. Abraço.