Quem viu o filme com Nicole Kidman lembra bem do insistente nevoeiro que tomava toda a paisagem. Seguindo nosso artigo passado, no qual abordamos o nevoeiro de radiação, hoje falaremos justamente deles: os outros tipos de nevoeiro. Claro que se procurar bem, existem vários subtipos, como nevoeiro marítimo ou nevoeiro congelado. Mas vamos nos ater aos principais tipos, que são no final o que importa para quem faz uma análise rápida de qual impacto ele terá no seu voo, ou seja, abordaremos os nevoeiro do ponto de vista de um piloto.
Um dos tipos mais comuns de nevoeiro, após o de radiação, é o chamado nevoeiro de advecção. Como o nome sugere, ele é resultado do movimento horizontal do ar, ou seja, do vento. Uma massa de ar úmida é trazida pelo vento para cima de uma superfície fria, fazendo com quem este ar perca calor e condense a umidade nele contida. Isso pode acontecer por exemplo, quando o ar sopra do oceano e encontra correntes relativamente mais frias. Como algumas correntes profundas encontram a superfície ao atingir a costa, esse é um tipo de nevoeiro que se forma em regiões costeiras específicas, sendo pouco comum em outras. Partindo do princípio de que o oceano é uma formidável fonte de umidade, fica claro que esse é um tipo de nevoeiro bastante persistente. Planeje um alternado com carinho, pois é bem possível que você vá precisar. Mesmo porque é difícil prever quando ele se dissipará ou, o que é mais provável, com um vento mais forte, se transforme em nuvens baixas estratificadas.
Quem também acaba sofrendo influência do vento mas se forma pelo processo de perda de temperatura por queda de pressão – processo adiabático – é o nevoeiro de encosta (upslope fog). O vento úmido encontra uma montanha ou cadeia de montanhas e é empurrado para cima, perdendo calor e pressão conforme se eleva. O nevoeiro se forma no ponto em que essa queda não permite mais que esse ar contenha o vapor d´água. É um processo semelhante à formação das nuvens em si, mas cujo deslocamento vertical é causado por um obstáculo, e não por uma corrente convectiva. E antes que você pergunte, esse foi o nevoeiro que se formou em Tenerife no acidente citado no artigo anterior. O ar úmido do oceano subiu as encostas das Canárias e formou rapidamente o nevoeiro que não permitiu que os dois jumbos vissem um ao outro.
Já no filme “Os outros”, o nevoeiro que persiste fora da casa é o nevoeiro frontal. Um massa de ar gigantesca – uma frente fria ou quente – passa e deixa atrás de si ar úmido e cuja temperatura é mantida por uma camada de nuvens acima. Nevoeiros frontais também não são comuns em qualquer lugar, mas onde costumam acontecer, acontecem e por um bom tempo, que pode chegar a dias.
Um tipo parecido mas de duração bem mais curta é o nevoeiro de chuva (rain induced fog). Seguindo-se a uma tempestade forte geralmente, ele advém do ar saturado de umidade após a tempestade se dissipar. Um exemplo comum é o que acontece na Amazônia, conhecido pelos índios locais como arú.
Há outros tipos, menos comuns às áreas densamente habitadas do planeta, como os nevoeiros que acontecem nas regiões árticas ou no meio do oceano. Mas em menor ou maior grau, são variações dos tipos que comentamos aqui. E o tipo de nevoeiro de Avalon, qual será?
Foto: a névoa que sobe das imensas Cataratas do Iguaçú, na fronteira entre Brasil e Argentina, é causada pelos mesmos mecanismos que formam o rain induced fog.