Já está em Cabo Verde o primeiro avião ATR 42-320 que irá integrar a frota de duas aeronaves deste modelo contratadas pela Cabo Verde Airlines (CV Airlines) para os voos inter-ilhas, onde a companhia com participação estatal irá competir com a Binter Cabo Verde, e com os quais pretende resolver os problemas de acessibilidade de outras ilhas do arquipélago ao hub da ilha do Sal.
O avião, que tem matrícula portuguesa (CS-DVO), é propriedade da empresa ‘Lease Fly’ com sede em Lisboa, com grande experiência neste modelo de aeronaves e em aeroportos africanos. Aterrou na terça-feira, dia 30 de julho, no Aeroporto Internacional Nelson Mandela, na cidade da Praia, ilha de Santiago.
Descontentes com os serviços prestados pela Binter Cabo Verde, nomeadamente em termos de rotas e de preços, alguns círculos políticos cabo-verdianos, desde há alguns meses que têm vindo a sugerir que a Cabo Verde Airlines, companhia que resultou da reestruturação da antiga TACV, se deveria dedicar também ao transporte inter-ilhas.
Contudo, em declarações recentes dos responsáveis pela companhia e de alguns políticos afetos ao regime político que governa o País, nunca foi dito que a Cabo Verde Airlines iria para o mercado inter-ilhas em concorrência direta com a Binter CV, mas sim “numa base de complementaridade ao hub da ilha do Sal”, onde hoje a CV Airlines concentra os seus voos internacionais.
A propósito da chegada do primeiro ATR para a CV Airlines, o jornal ‘Expresso das Ilhas’ escreve nesta quarta-feira, dia 31 de julho, na sua edição digital:
“No início do ano, em Março, o director-geral da companhia, Mário Chaves, ao reafirmar o foco no hub, havia mesmo realçado a necessidade de alimentar o Sal com passageiros do mercado nacional. O plano inicial passava por uma articulação com a Binter, mas em carteira estava, como alternativa, a operação de voos próprios.
“Estamos a trabalhar com parcerias, mas não podemos esconder que precisamos de ter opções para garantir esse serviço”, dizia, na altura.
Num modelo diferente àquele que mantinha até 2017, o regresso da Cabo Verde Airlines no mercado inter-ilhas marca uma alteração da estratégia definida pelo governo, e apresentada a 23 de Maio de 2017, quando o então ministro da Economia (agora dos Transportes), José Gonçalves, anunciou o fim da operação doméstica da TACV, então de capitais maioritariamente públicos.
Na altura, o governante esclareceu que a Binter Cabo Verde, ao assumir o papel monopolista do mercado interno, ficava obrigada a reforçar as ligações inter-ilhas e a estabelecer uma parceria com a TACV “em termos de transporte aéreo internacional, por forma a permitir à companhia de bandeira continuar a vender os bilhetes internacionais até ao seu destino aeroportuário final em Cabo Verde”. Contudo, essa parceria nunca existiu, motivando críticas de diferentes quadrantes e insatisfação por parte dos passageiros residentes.
A privatização da transportadora aérea nacional foi concluída 1 de Março, com a assinatura do contrato entre o Estado e a Loftleidir Cabo Verde, subsidiária da Loftleidir Icelandic.”
O regresso dos ATR à companhia de bandeira cabo-verdiana (agora a CV Airlines em vez da TACV, por motivos bem conhecidos) marca também a reentrada da empresa nos voos domésticos, quebrando o ‘monopólio’ (que nunca existiu em termos legais) da Binter Cabo Verde que, naturalmente, não irá ficar de braços cruzados a ver o que irá acontecer nas rotas e no tráfego inter-ilhas.
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Mais uma sucata com quase 25 anos para os caboverdianos, como se já não bastasse as sucatas dos 757-200 com média de 28 anos cada.