Complementar a análise de dados de voo, recolhidos diretamente dos aviões, com outras bases de dados para estudar alguns dos riscos que todas as companhias gerem diariamente nas suas operações foi o desafio lançado pela Agência Europeia para a Segurança da Aviação (EASA) aos mais de 30 estados membros que a integram. Um avanço com o objetivo de aumentar a segurança operacional, pedido pela indústria, e concretizado em Portugal com o contributo de uma equipa de engenheiros da TAP Air Portugal.
Pedro Soares, especialista em Flight Data Monitoring e Bernardo Lourenço, especialista em Safety Risk Management, participam nos grupos de trabalho do Fórum de Monitoria de Dados de Voo dos Operadores Europeus (EOFDM) e desenvolveram trabalhos que são agora recomendados pela EASA como boas práticas a implementar por operadores de todo o mundo.
Estes grupos de trabalho são maioritariamente constituídos por operadores de larga dimensão, mas o trabalho é feito num contexto verdadeiramente global de construção de conhecimento na indústria da aviação, que têm realidades completamente distintas e com frotas também muito diversificadas, construindo a visão geral do sector em termos de monitoria de dados de voo. Bernardo Lourenço explica que “é a oportunidade de estar num fórum com os decisores e a lidar com aquilo que se preconiza que dentro de algum tempo venha a ser uma legislação e já estamos envolvidos no que vai acontecer. Isto permite-nos antecipar alguns tipos de procedimentos e formas de atuação que vão existir e adaptá-los ou criá-los na empresa. O ganho que isto nos traz não é quantificável à partida mas vemos que existe depois, no dia-a-dia de trabalho, quando percebemos que nos ajuda a estruturar processos”.
A análise das aproximações a um dos aeroportos incluídos na operação da Companhia, com recurso a bases de dados de terreno foi o modelo pioneiro implementado pela TAP e agora reconhecido pelo regulador europeu EASA. Trata-se da utilização de uma base de dados que mapeia toda a superfície terrestre e que permite analisar qual a percentagem de avisos emitidos pelo Sistema de Alerta e Prevenção de Terreno (EGPWS) aos pilotos que são efetivamente validados e que significam uma proximidade ao terreno abaixo do limite estabelecido. A diferença entre o aviso ser ativado ou não pode ser devido a uma distância pequena, definida por um algoritmo informático muito complexo. Segundo Pedro Soares, “o trabalho consistiu em modelar o terreno das imediações na área do aeroporto, com base no mapa de dados de terreno, para construir o envelope (zona de segurança) para a manobra de aproximação. Se tivermos o terreno mapeado por células, sempre que o envelope penetre numa das células de terreno gera-se um aviso. Assim, quando a área de Risco da Safety deteta alguma situação destas, são combinados os dados de voo com a base de dados de terreno para uma análise mais pormenorizada e exata”. O recurso a esta técnica em voos em que surgiram avisos de ‘Terrain Ahead’ permitiram à equipa de engenheiros concluir que se trata de “um modelo muito fiável, principalmente por causa da perspetiva visual que esta ferramenta fornece”, acrescenta Pedro Soares. A ideia foi lançada num dos grupos de trabalho da EASA e foi desenvolvida no âmbito de uma tese de mestrado de um aluno de engenharia aeroespacial que realizou um estágio na Safety da TAP.
Este modelo foi apresentado em Bruxelas, em maio, no âmbito de um fórum europeu sobre Segurança na Aviação e o reconhecimento chegou, com a publicação do ‘Guidance for the implementation of FDM precursors’ pela EASA que recomenda a implementação deste modelo a toda a indústria.
Esta referência, feita agora pelo regulador europeu, foi precedida de um trabalho extenso de identificação de precursores das tipologias de acidentes mais comuns da indústria, nos quais a TAP também se destacou tendo contribuído para a publicação de quatro documentos divulgados pela EASA a todo o mundo da aviação.
“É um enorme orgulho ver reconhecido o papel das equipas da TAP na construção global de um ambiente em aviação mais seguro para todos os que nela voam e trabalham” assume o Safety Manager da TAP, Gonçalo Nápoles, relembrando que “além deste trabalho técnico, a segurança só existe com o contributo diário de cada um de nós, individualmente, no exercício das nossas funções”.
- Na imagem de abertura vemos Bernardo Lourenço e Pedro Soares que integram, respetivamente, as equipas da Safety da TAP de Risk Management e da Promotion and Safety Intelligence.