A mudança de base operacional da TACV [Cabo Verde Airlines] para o Sal, a disrupção dos voos que afectou milhares de passageiros e a celeuma entre a Binter e Agência de Aviação Civil (AAC) marcaram o ano 2018.
No início do ano, uma resolução publicada no Boletim Oficial dava conta que o Estado Cabo-Verdiano tinha concedido um aval à companhia pública de transportes aéreos no valor de 5,5 milhões de dólares, de forma a mobilizar no mercado uma aeronave em regime de wet lease como forma de fazer face à falta de aeronave que se encontrava avariada.
Em fevereiro, a empresa desloca a sua base operacional para ilha do Sal, deixando de operar voos a partir de outros aeroportos internacionais do País, o que levou também ao encerramento das delegações de São Vicente e Santo Antão, situação que provocou, em primeiro lugar, uma grande insatisfação junto dos trabalhadores, dos empresários da ilha, dos partidos políticos e da sociedade civil no seu todo.
Em face disso, alguns dos trabalhadores foram deslocados, outros tantos foram para a pré-reforma e alguns ficaram para a indemnização, num processo de negociação com os sindicatos conturbado e que ainda não está concluído.
Apesar da pretensão do Governo de ter o processo de privatização da TACV [Cabo Verde Airlines] concluído no decorrer de 2018, tal não aconteceu. Entretanto, em finais de novembro, a Unidade de Acompanhamento do Sector Empresarial do Estado (UASE) recebeu da Loftleidir-Icelandic, do Grupo Icelandair, a proposta final e vinculativa para a aquisição de 51% do capital social da Cabo Verde Airlines. Proposta que ainda está em fase de análise.
No mês de julho, a empresa viveu um momento de crise, em que a empresa ficou por cerca de duas semanas sem avião. Sofreu uma “disrupção” dos voos, gerando o cancelamento de mais de 50 viagens, afectando mais de 7.500 passageiros.
Na sequência, a companhia foi proibida de utilizar os aeroportos italianos de Roma e Malpensa, decisão que foi justificada pela reguladora italiana com a supressão de voos e que causaram “transtornos a centenas de passageiros”.
A situação veio a ser resolvida duas semanas depois, com a chegada de dois aviões adquiridos em regime de wet lease.
A situação da companhia, com um passivo acumulado de mais de 100 milhões de euros e que assegura agora apenas as ligações internacionais, depois de ter sido cedido à Binter Cabo Verde o mercado doméstico, tem aparecido sistematicamente na imprensa.
Em novembro, decidiu retomar os voos internacionais a partir da Cidade da Praia, uma situação que levou a ilha de São Vicente a reclamar também voos internacionais, a partir do Mindelo. O presidente da Câmara Municipal, Augusto Neves e o movimento ‘Sokols’, exigem quatro voos semanais da TACV na rota São Vicente-Lisboa.
Outro assunto que a nível dos transportes aéreos marcou o ano foi a celeuma entre a Binter Cabo Verde e a Agência de Aviação Civil. Na base deste problema esteve a fixação das tarifas máximas nos voos domésticos, como forma de “evitar eventuais situações de abuso” por parte da operadora.
A medida, que entrou em vigor no dia 28 de outubro, obrigou o operador dos voos domésticos a aplicar a tarifa publicada origem/destino, independentemente das escalas intermédias.
Com a nova medida, algumas linhas ficaram mais caras, como Praia-S. Filipe, Praia-Maio e há outras em que o preço se manteve, nomeadamente Sal-Boa Vista. Algumas rotas, nomeadamente Praia-Sal e Praia-S. Vicente, registaram uma diminuição.
Em reação, a Binter Cabo Verde adiantou que ficou “gravemente prejudicada” com a redução das tarifas dos voos domésticos e afirmou que esta medida põe em perigo a continuidade do serviço tal como estava planeado e vinha a ser feito.
Na sequência, mandou cancelar a venda dos bilhetes a partir da data da entrega em vigor na medida. Uma ação que foi entendida como sendo chantagem.
Entretanto, mais tarde a companhia reabriu a venda dos bilhetes e pediu a prorrogação da entrada em vigor da medida de outubro para janeiro 2019, pedido esse que foi recusado pela AAC.
Para vingar, a Binter anunciou o fim do ‘Bintaço’ e de todas as tarifas económicas e promocionais e passou a aplicar apenas as tarifas máximas fixadas.
- Este texto foi separado e adaptado de uma retrospectiva global sobre o sector dos transportes na República de Cabo Verde produzida pela INFORPRESS – Agência de Notícias Cabo-Verdiana. Publicamos, com a devida vénia, a parte que se refere ao transporte aéreo.
- Foto de abertura © Nelson Dias