O julgamento da Air France e da empresa aeroespacial Airbus por “homicídio involuntário” pelo acidente com uma aeronave Airbus A330 da companhia aérea francesa que, em 2009, provocou a morte de 228 pessoas no Oceano Atlântico, iniciou-se nesta segunda-feira, dia 10 de outubro, no Tribunal Correcional de Paris.
Entre as 489 acusações particulares neste julgamento, que se estenderá até 8 de dezembro, está a apresentada por Carl de Vivo, de 32 anos, e pela sua irmã, que perderam a mãe no acidente de 1 de junho de 2009, em que o voo AF447, que seguia do Rio de Janeiro para Paris, se despenhou no mar.
“O que queremos é que a Airbus e a Air France aceitem que são culpadas neste caso. O nosso objetivo é mitigar um pouco a nossa dor, que reconheçam que não administraram de maneira correta a situação, que não fizeram as modificações [técnicas] necessárias [para evitar o acidente]”, disse De Vivo à agência de notícias espanhola ‘EFE’, minutos antes da abertura do julgamento.
Para De Vivo, que perdeu a mãe na adolescência, não se trata de uma indemnização, uma vez que a Air France já lhes concedeu uma, mas sim o reconhecimento da culpa de ambas as empresas para permitir à família avançar.
“O que sinto hoje é tristeza, porque é um retorno a um passado doloroso”, acrescentou Carl de Vivo.
O julgamento, presidido pela magistrada Sylvie Daunis, ocorre 13 anos depois do acidente, devido a um longo período de investigação que terminou em 2019, após várias peritagens, em que o processo contra as duas grandes empresas multinacionais acabou por ser arquivado.
Os juízes de instrução determinaram, na altura, que a culpa do acidente se deveu a uma interpretação errónea da situação pelos pilotos e, portanto, não era apropriado levar a companhia aérea [Air France], proprietária do dispositivo acidentado, ou o seu construtor [Airbus] ao tribunal.
No entanto, os recursos apresentados pelas famílias e pelo Ministério Público francês permitiram invalidar o arquivamento do caso graças a uma decisão do Tribunal de Recursco de Paris e colocar a Air France e a Airbus no banco dos réus. As duas empresas vão defender a sua inocência em tribunal.
A diretora-geral da Air France, Anne Rigali, e o diretor-geral da Airbus, Guillaume Faury, que pretendem dar declarações à imprensa no final do dia, apresentaram-se nesta segunda-feira no tribunal e participam na sessão inicial do julgamento.
De acordo com as conclusões do Escritório de Investigação e Análise de Segurança da Aviação Civil (BEA), o acidente do Airbus A330, ocorrido em 1 de junho de 2009 quando o avião sobrevoava o Oceano Atlântico, ocorreu após as sondas de medição de velocidade da aeronave congelarem, assim, os pilotos não obtiveram essa informação [sobre a velocidade do aparelho] enquanto passavam por uma zona de turbulência.
Os pilotos não aplicaram o protocolo adequado e elevaram a posição do aparelho até este perder a horizontalidade, deixar de ter sustentação e ter sido colocado em situação de queda livre a 1.150 quilómetros da costa da cidade do Recife (nordeste do Brasil).
Os pilotos pensaram que estavam a subir quando na verdade estavam a perder altitude.
A catástrofe causou a morte de 228 pessoas (216 passageiros e 12 tripulantes) de 33 nacionalidades diferentes – entre as quais um bebé e sete crianças –, das quais 73 eram francesas e 58 brasileiras.