Após anos de preparação, as Olimpíadas do Rio de Janeiro, primeiros jogos realizados na América do Sul, tiveram fim após um relativamente calmo progresso. A cidade toda sofreu grandes modificações, e seus aeroportos e espaços aéreos, por onde chegaram mais de doze mil atletas e centenas de milhares de turistas, também passaram por mudanças de longo e curto prazo.
Por ter minha base na capital fluminense, vi e vivi de perto esses Jogos Olímpicos memoráveis. Mas como é voar baseado numa cidade que sedia o maior evento esportivo do planeta? É disso que falaremos hoje.
O Rio de Janeiro já tinha enfrentado com alguma desenvoltura a final da Copa do Mundo de futebol em 2014, mas nada se comparava ao desafio de receber, por 21 dias, os Jogos Olímpicos de Verão. Por acontecerem desta vez no hemisfério Sul, eles obviamente foram realizados no inverno local, mas o Rio de Janeiro é conhecido justamente por não ser um lugar frio nem nessa época. Por acaso, esse ano, o inverno foi mais rigoroso que de costume, e duas frentes frias com ressaca no mar e ventos fortes nos céus atingiram a cidade nas três semanas em que os jogos foram realizados. Após anos de preparação, o Aeroporto Internacional Tom Jobim, também conhecido como Galeão (GIG/SBGL), se saiu bem. Pátio e terminais foram modernizados e ampliados, e uma taxiway de quase quatro quilômetros foi usada como estacionamento para várias das aeronaves menores que visitaram a cidade. Nos pátios maiores, dezenas de aeronaves que jamais haviam visitado o Brasil, do Y-8 da Venezuela ao A340 do Azerbaijão, deram o ar da graça. Tudo culminou no dia seguinte ao encerramento dos jogos, quando o aeroporto registrou o maior movimento de passageiros da sua história em um só dia: 85 mil pessoas, coroado pela presença no Rio, pela primeira vez, do Airbus A380.
Embora em menor escala, os jogos também influenciaram nas operações do aeroporto central do Rio, para onde voa a ponte aérea, o cinematográfico Aeroporto Santos Dumont (SBRJ/SDU). Durante as tardes olímpicas, o aeródromo ficava fechado, pois as regatas aconteciam exatamente numa de suas cabeceiras, em plena Baía de Guanabara – que ao ser confundida com um grande rio pelo português Gonçalo Coelho numa manhã de janeiro de 1502, deu nome à cidade. O Dumont ficou lotado de aeronaves executivas também, mas foi no espaço aéreo que a coisa ficou mais complicada.
Cinco áreas restritas com 8 milhas de diâmetro foram criadas na cidade, protegendo, cada uma, um determinado local de competições. Copacabana, Barra da Tijuca, Maracanãzinho, Engenhão, Deodoro. Os cinco círculos, vigiados permanentemente por aeronaves da Força Aérea Brasileira, são cortados pelos principais procedimentos de chegada em uso na cidade. Portanto, toda a dinâmica de chegada ao Rio teve de mudar, e procedimentos bastante longos – alguns que chegavam a afastar-nos trinta milhas mar adentro, foram utilizados durante os jogos.
Na noite do encerramento, ventos de até 120km/h atingiram a cidade olímpica, e o orgão que cuida do espaço aéreo brasileiro precisou restringir a chegada de aeronaves aos aeroportos, para o desespero das companhias aéreas que precisavam dessas aeronaves lá no dia seguinte. Mas com windshears e ventos de rajada, poucos foram os que pousaram no Rio naquele domingo, e boa parte dos voos acabou arremetendo e alternando, o meu inclusive. Mas com planejamento e profissionalismo, todos chegaram e se foram com segurança. E é esse o nosso trabalho, seja num dia normal, seja num dia histórico.
Foto: o Aeroporto Santos Dumont, encravado entre os cartões postais e zonas de competição da cidade olímpica foi também bastante afetado durante os jogos.