A Aigle Azur, que é a segunda maior companhia francesa, está a passar por momentos difíceis, em termos económicos, e as perspectivas de continuidade são incertas, tendo em conta um enorme passivo, com as rendas dos alugueres dos seus aviões atrasadas, além de outras dívidas que não foram satisfeitas junto de fornecedores.
O jornal francês ‘Le Figaro’ publicou nesta quarta-feira, dia 7 de agosto, uma matéria em que alerta para a grande incerteza quanto ao futuro da companhia que emprega 1.400 pessoas. O governo francês está a acompanhar a situação.
O sócio maioritário da companhia (49%) é presentemente o grupo chinês HNA, dono da Hainan Airlines e de outras companhias aéreas chinesas, além de investimentos em diversos sectores económicos e áreas geográficas, que também, nos últimos anos, tem passado por dificuldades financeiras obrigando a uma grande reestruturação, que incluiu a venda de diversos ativos. O segundo maior acionista é David Neeleman, um empresário bastante conhecido no Brasil e em Portugal, que em novembro de 2017 comprou a participação do Grupo Weaving (ex-GoFast).
O ‘Le Figaro’ escreve que a Aigle Azur, que detinha no início do ano uma frota de 12 aeronaves Airbus viu-se obrigada a devolver um dos nove aviões A320 que estão ao seu serviço em junho passado. Entretanto, outra empresa de leasing está a pressionar a companhia para devolver outros aparelhos que estão alugados, dado que as rendas estão em atraso desde há muito tempo. A Aigle Azur tem dois aviões A330-200 desde julho de 2018, quando iniciou a sua primeira rota intercontinental entre Paris/Orly e Campinas/Viracopos, em São Paulo, Brasil, com três frequências semanais.
A companhia voa para 25 destinos, com grande oferta para a Argélia, antiga colónia francesa no norte de África, onde serve seis cidades. Aliás a companhia tem uma grande ligação a esse país africano, e teve no passado laços comerciais com acionistas de países árabes do Mediterrâneo, que, sobretudo no início da empresa e até há cerca de dois anos, estiveram ligados à sua gestão.
Atualmente a Aigle Azur voa para Portugal (Faro/Algarve, Lisboa, Madeira e Porto) com diversos voos semanais, para a Argélia, Mali, Líbano; Rússia, Tunísia e Ucrânia, além de São Paulo, no Brasil.
Desde há alguns meses em dificuldades para pagar os leasings dos seus aviões, a companhia tem optado por subalugar aeronaves, estando duas ao serviço da TAP Air Portugal, desde o ano passado, enquanto por outro lado, tem recorrido a serviços de outras companhias (exemplo da francesa ASL Airlines) para realizar alguns dos seus voos regulares.
Presença histórica na aviação comercial europeia
A Aigle Azur tem uma presença histórica de destaque na aviação comercial europeia. Foi fundada em 1946 e é, presentemente, a companhia aérea privada mais antiga de França e da Europa. Já passou por diversas fases ao longo da sua existência. Em 2001 a sua frota tinha um único avião ao serviço, quando foi comprada pelo Grupo GoFast (depois Grupo Weaving), conectado com interesses económicos de países francófonos do Norte de África. Primeiro liderado por d’Arezki Idjerouidéne, e depois por seu filho Meziane Idjerouidéne, o Grupo GoFast conseguiu fazer renascer a Aigle Azur, afirmando-a como a segunda maior companhia aérea de bandeira francesa.
Em 2010 a família Idjerouidéne resolveu abrir o capital da empresa aérea, tendo como objectivo concorrer no segmento de longo curso. Em 2012 deu-se a entrada do Grupo HNA que adquiriu 48% das ações. Em 2016 o grupo Lu Azur, liderado pelo empresário francês Gérard Houa, adquire 20%, em novo aumento de capital, restando ao Grupo Weaving os 32% que vendeu em 2017 a David Gary Neeleman. Da história do empresário que fundou a Azul, todos conhecemos um pouco. Resumidamente fundou quatro companhias aéreas: Morris Air, WestJet, JetBlue e Azul. Em 2015 associou-se à TAP Air Portugal. Neste momento lidera um novo projeto de transporte aéreo nos Estados Unidos da América, para o qual encomendou 60 aviões Airbus A220-300.