A construtora aeronáutica europeia Airbus ameaça retirar algumas das suas fábricas de componentes do Reino Unido, caso a saída do país da União Europeia seja feita sem acordo. O presidente do grupo aeronáutico, um dos gigantes mundiais dos setores da Aviação e da Defesa lançou um aviso direto aos britânicos e lamenta a sua falta de eficácia e clareza no tratamento do dossier do ‘Brexit’.
Tom Enders, presidente do grupo, que resultou precisamente da fusão de diversas fábricas britânicas, francesas e alemães, numa mensagem divulgada nesta quinta-feira, dia 24 de janeiro, solicitou ao governo de Londres para esclarecer a sua posição sobre o ‘Brexit’ e destacou que “estão errados” aqueles que dizem que, como a Airbus tem grandes fábricas no Reino Unido, vai ali ficar “para sempre”.
Embora tenha admitido que não é possível mudar estas fábricas “no imediato”, sublinhou que o setor aeroespacial é um negócio de longo prazo e que a Airbus “pode ser forçada a redirecionar futuros investimentos em caso de saída [da UE] sem acordo”.
“Há muitos países que adorariam construir asas para os aviões da Airbus”, acrescentou o responsável, referindo-se à principal atividade que o consórcio europeu tem em território britânico.
A Airbus tem uma equipa de mais de 14.000 pessoas no Reino Unido e há cerca de 110.000 empregos que dependem de seus programas, que geram cerca de 6.000 milhões de libras (cerca de 6.900 milhões de euros) de faturação anual.
Tom Enders disse que, devido à atual situação de incerteza, “o setor aeroespacial britânico está à beira do precipício”, sublinhando que “o ‘Brexit’ está a ameaçar destruir um século de desenvolvimento baseado na educação, investigação e capital humano”. É por isso que, se a saída da UE for feita sem um acordo, a Airbus “teria que tomar decisões muito negativas para o Reino Unido”.
Tom Enders argumentou ainda que, “numa economia global, o Reino Unido não pode seguir por conta própria”.“Os grandes projetos aeroespaciais são empresas multinacionais”, acrescentou.
O presidente da Airbus, que tem sede em Toulouse, na França, criticou o facto de mais de dois anos após o referendo de 2016 sobre o ‘Brexit’ as empresas sejam incapazes de planear o seu futuro, porque não sabem como é que a saída se vai materializar, e lembrou que a sua empresa, como muitas outras, pediu repetidamente “clareza”.
Tom Enders indicou que este mercado cresce a uma taxa de 5% ao ano e que o seu grupo “não depende do Reino Unido” para o seu futuro e sobreviverá em qualquer condição.
“A questão é se o Reino Unido quer fazer parte desse futuro de sucesso”, para o qual o ‘Brexit’ deve acontecer de maneira ordenada, resumiu.