A demanda ou procura por voos domésticos no Brasil avançou 0,8% em 2015 em comparação com todo o ano de 2014. Evoluiu ligeiramente acima da oferta, que cresceu 0,7%. A média de ocupação de assentos por voo (denominado fator de aproveitamento) ficou praticamente inalterada (cresceu 0,06 ponto percentual), fechando o ano em 79,95%. Considerando a série histórica da ANAC, esse foi o pior resultado anual para a demanda desde 2003 (quando houve retração de 6%). Ao todo, foram realizadas 94,3 milhões de viagens domésticas, uma retração de 0,4% na movimentação de passageiros.
Estes dados foram revelados nesta quinta-feira, dia 28 de janeiro, pela ABEAR – Associação Brasileira das Empresas Aéreas, e referem-se a uma compilação dos últimos 12 meses de estatísticas fornecidas pelas companhias aéreas que integram a entidade.
“Em 2014 – quando não tivemos crescimento nos meses da Copa [Campeonato Mundial de Futebol], apesar do gigantesco desafio operacional – ainda conseguimos progredir 5,7%. Nesse ano, desde julho estacionámos e a partir de agosto começámos a regredir”, diz o presidente da ABEAR, Eduardo Sanovicz. De acordo com o dirigente a perspectiva de nova retração do PIB em 2016 não permite relaxamento. “Somos um setor que tem sua dinâmica intimamente ligada à atividade económica nacional”.
Ao longo de 2015, os resultados da aviação doméstica revelaram momentos bem distintos: desaceleração, estagnação e queda. Embalada por vendas realizadas ainda no final de 2014, quando os sinais de desaquecimento da economia ainda eram esparsos, e apoiada pela intensificação dos esforços de vendas das companhias, a demanda teve alta em janeiro (9,1%). Mas, com o clima desfavorável aos negócios e as repercussões das apurações de irregularidades nas esferas pública e privada, a participação do segmento corporativo (de viagens frequentes, elevado gasto médio e que predomina no dia a dia da aviação) logo ficou reduzida à metade do usual.
A reação do setor passou por incentivar o público geral. Todavia, mesmo com a oferta de tarifas vantajosas, o vácuo deixado pelos clientes corporativos não foi ocupado pelos demais passageiros (de viagens mais esparsas e muito sensíveis a gastos). Com isso, ainda no começo do ano a demanda passou a caminhar a taxas progressivamente menores, variando entre 1% e 2%. Até experimentou uma reação pontual em julho, época de férias (segundo melhor resultado do conjunto, alta de 8,3%), mas com a exaustão das medidas promocionais e o agravamento da crise económica, em todos os meses restantes a demanda teve retrações. Elas saíram de um patamar abaixo de 1%, mas se acentuaram no último trimestre: queda de 5,7% em outubro, de 7,9% em novembro e de 4,9% em dezembro.
“Dezembro é tradicionalmente um mês bom para a aviação, porque nessa época a demanda corporativa se soma à de lazer e turismo. Com estes dois grupos controlando gastos, dessa vez ficamos bem abaixo. Saímos de um crescimento de mais de 7% em dezembro de 2014 (sobre o mesmo mês de 2013) para uma queda de quase 5% agora”, explica Maurício Emboaba, consultor técnico da ABEAR. “Como em janeiro de 2015 ainda tivemos um bom desempenho, é provável que esse quadro de dezembro volte a se repetir em janeiro”, projeta.