Paisagens deslumbrantes de campos verdes recortados por muros de basalto, que de um lado ascendem a uma colina, que outrora foi cone de vulcão, e do outro arrastam o olhar pelo horizonte de um oceano azul profundo. Voos repletos de uma beleza única sobre caldeiras e lagoas durante o I Festival Rubis Gás Balões de Ar Quente, que decorreu de 1 a 5 de julho, no concelho da Ribeira Grande, na ilha de São Miguel, nos Açores.
Reportagem de Rute Lacerda / Fotos : André Garcez
Ainda o sol não nasceu e sente-se a azáfama na ilha. Ouvem-se carros todo o terreno a passar, vozes de ordem, passos apressados sobre terreno agrícola molhado pelo orvalho. Cheira a gado, hortênsias, silvas e mentrasto. O olhar vem comprovar os restantes sentidos. É um reboliço autêntico junto ao Aeródromo de Santana, primeira infraestrutura aeroportuária da ilha de São Miguel, criada em 1941 como base de apoio aos aliados durante a II Guerra Mundial e transformado atualmente numa feira agrícola. História à parte chegámos mesmo a tempo.
Os envelopes estão esticados no chão e começam a ser insuflados por ventoinhas gigantes. Lá mais à frente há dois balões na vertical, prontos a descolar. A equipa da organização do Festival encarrega-se de distribuir os muitos passageiros pelos balões fazendo um encaminhamento extremamente rápido com apresentações básicas. “Estão entregues. Vocês vão aqui e já terão tempo para conversarem. É assim rápido por causa do tempo. Vamos aproveitar que agora não está vento”. É que as condições meteorológicas são fundamentais para a prática do balonismo.
Os balões descolam com o mínimo vento possível. Nas ilhas essa atenção é redobrada, uma vez que a direção do vento poderá empurrar os balões para o mar, o que dificultará a aterragem. “Isto não é um dirigível”, diz Aníbal Soares, fundador do Alentejo sem Fronteiras – Clube de Balonismo e um dos principais responsáveis pela realização da primeira edição do festival no arquipélago dos Açores. “Vamos para onde o vento nos levar, por isso, é que lançamos sempre dois balões comuns antes de descolarmos para vermos para que lado sopra o vento. Se estivesse na direção do mar o voo seria muito curto”.
Descolamos rapidamente atropelando um balão que ainda está a ser insuflado. Aos olhos parece que vamos sofrer um grande impacto, mas a passagem é suave e nada de mais acontece. Subimos bem alto e juntamo-nos aos que já estão no ar. Estamos mais próximos da serra onde do outro lado fica a Lagoa do Fogo, o vulcão mais jovem da ilha verde, cuja última erupção data de 1563. Acima de nós está um balão espanhol que irá com certeza sobrevoar a caldeira. Do outro lado estão muitos pontinhos coloridos junto à praia de Santa Bárbara. “Olha já estão em cima do mar. Espetacular. Como é que depois saem dali?”, pergunta um dos passageiros intrigado com o briefing inicial. “Pois! É um risco! Responde Aníbal. “Mas o tempo está bom e daqui a nada já estarão sobre terra”.
À medida que os outros balões se aproximam do nosso ouvem-se os comentários dos passageiros: “Lindo! Maravilhoso! Fantástico! Brutal! Excelente!” Afinal a manhã está linda e o retrato que fica é digno de um postal turístico.
Cá em baixo avistamos as equipas de resgate. São jipes e pick-up que seguem por terra a direção do balão e mantêm contato via rádio ou telemóvel com o piloto. Só este poderá garantir à equipa de resgate se o local de aterragem é bom e se tem alguma entrada para que as viaturas consigam chegar o mais próximo do cesto e do envelope para serem recolhidos. “Nisto do resgate existem as equipas que seguem os balões à moda antiga, ou seja, visualmente, e ainda as outras dotadas de novas tecnologias” explica Aníbal. São tablets e outros gadgets repletos de aplicações que medem distâncias, velocidades, altitudes, litros de gás utilizado, mapas, todo um complexo de informação prestável para quem faz voos de longa distância.
É hora de aterrarmos. Descemos lentamente até a uma pastagem próxima da estrada até o balão tocar no chão, na vertical, direito. Aterragem perfeita. Os curiosos aproximam-se do muro que veda o terreno. Aníbal grita “Esse portão está aberto?” Do outro lado acenam de modo afirmativo. Chega a carrinha com o atrelado. O envelope é esticado no chão, enrolado e arrumado. O cesto é pegado a braços e colocado na viatura. “O primeiro voo do dia já está. Ainda vou arrumar este balão mais duas vezes hoje, veja lá”, desabafa um elemento da equipa de resgate.
A festa dos balões continuou com voos durante a tarde e com os night glow, espetáculos de luz, cor e música realizados em complexos desportivos e que contaram com a atuação do Presidente da Câmara da Ribeira Grande, Alexandre Gaudêncio, que abrilhantou a noite ao som do seu violino acompanhado pelo DJ Tojó. Para o autarca, o festival é uma mais-valia para o concelho numa altura em que com a chegada das low cost a São Miguel, o “número de visitantes à região disparou consideravelmente, ultrapassando os 20% em relação aos anos anteriores e torna-se necessário alargar a oferta de atividades aos turistas e também à população local”.
A primeira edição do Festival Rubis Gás Balões de Ar Quente da Ribeira Grande, organizado pela associação sem fins lucrativos Learn to Appreciate e pelo Alentejo sem Fronteiras – Clube de Balonismo, contou com a participação de 15 equipas oriundas de Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Luxemburgo e Bélgica. Para a organização o “balanço é muito positivo, uma vez que foram realizados mais de 50% dos voos programados, foram gastos cerca de 10 mil litros de gás, o que ficou aquém do esperado, dado que os voos foram curtos e ainda os voos cativos proporcionados às escolas do concelho”.
O desafio está lançado “venham voar aos Açores”.