Thierry Ligonniére, presidente executivo (CEO) da ANA – Aeroportos de Portugal, considera que o crescimento da empresa mostra que os benefícios da privatização “são óbvios”, discordando da conclusão da auditoria do Tribunal de Contas de que não foi salvaguardado o interesse público (LINK notícia relacionada).
“Os benefícios da privatização são óbvios. Desde 2014 até agora tivemos um crescimento médio anual de 10%, 10,7%, quando comparamos com a década anterior, que era de 4,5%”, referiu o presidente da Comissão Executiva da ANA, sublinhando que o resultado “é um benefício notável da privatização”.
Em declarações à margem da segunda edição do Fórum de Reflexão “Um Mundo Mais Complexo”, promovido pela Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa, nesta quarta-feira, dia 10 de janeiro, Thierry Ligonniére afirmou não poder concordar com as conclusões da auditoria do Tribunal de Contas à privatização da ANA – Aeroportos de Portugal divulgada na sexta-feira, dia 5 de janeiro.
“Obviamente não podemos concordar” e isso “está escrito nas nossas exposições [no contraditório do relatório de auditoria]”, disse, acrescentando que a “evolução da conectividade, a própria produtividade da ANA” ou os valores atingidos, “comprovam” que o negócio não foi lesivo.
O Tribunal de Contas concluiu que a privatização da ANA, ocorrida em 2013, não salvaguardou o interesse público, por incumprimento dos seus objetivos, como o de minimizar a exposição do Estado aos riscos de execução.
Por outro lado, o Tribunal de Contas considerou que a oferta da Vinci à compra da ANA foi sobreavaliada, não havendo “evidência robusta” de ter apresentado a melhor proposta técnica, e que o Estado privilegiou o encaixe financeiro no curto prazo.
Em resposta aos jornalistas, o presidente executivo da gestora dos aeroportos nacionais afirmou que quem conhece a forma como se desenvolve o tráfego num aeroporto “sabe” que o crescimento registado pela empresa “não é por acaso”.
O relatório do TdC destaca ainda que, tendo em conta que o Estado concedeu à Vinci os dividendos de 2012, quando a gestão ainda era pública, e suportou o custo financeiro para cumprir o compromisso assumido no contrato de concessão, o preço da privatização (1.127,1 milhões de euros) foi inferior em 71,4 milhões ao oferecido e aceite (1.198,5 milhões).
O CEO da ANA discorda desta leitura, afirmando que “a questão dos dividendos é muito clara” e que quando a Vinci fez a avaliação do valor da ANA, “tinha integrado no valor pago ao governo português, o valor dos dividendos que ia receber”.
Trata-se, destacou, de um processo semelhante a quando se compra uma ação de mercado em bolsa: “antes da distribuição de dividendos tem o valor X, depois da distribuição de dividendos tem o valor X menos o valor do dividendo”.
Os lucros da ANA obtidos até 2023 permitiram à gestora pagar em 10 anos o investimento de cerca de 1.200 milhões na concessão de 50 anos dos dez maiores aeroportos portugueses.