O dia começou cedo. Pelas 07h30 já estávamos alinhados à final para a sala de pequeno-almoço, num contra-relógio para nos encontrarmos com a Tanja Strinisa, uma colega da Petra, cuja missão era entregar-nos o programa.
Todos os primeiros pequenos-almoços são como uma caixinha de surpresas: países diferentes costumes diferentes e sabores a condizer.
Embora já soubéssemos o que nos esperava, ou seja mais de metade da oferta seria composta pelos pratos tipo intercontinental breakfast, a expectativa era grande. Ao passarmos pelo corredor, do piso térreo do imponente Hotel BRDO, observámos uma série de quadros, emoldurados na perfeição, dos hóspedes mais importantes ou VIP, que o hotel já tinha acomodado. Mostravam com orgulho a Rainha Isabel II, o Papa João Paulo II, Margaret Tatcher, Rei Alberto do Mónaco, Rei Juan Carlos, George W. Bush, Durão Barroso, Vladimir Putin e Bill Clinton.
“Bill Clinton e George W.Bush?”, exclamei para o André, temos de deixar a nossa foto aqui…”
“Olha, descobri ali o local ideal para nos sentarmos”, interrompeu-me logo o André para que eu não continuasse a conversa dos quadros.
E que espaço!… Uma bela refeição circundada por um jardim luxuriante desfrutando de 360 graus de panorâmica e de uma vista épica para os campos verdejantes.
À nossa frente estavam duas mulheres, lindas, uma loura e outra morena, com um look cosmopolita e vestidas a rigor, que numa azáfama constante desdobravam-se em telefonemas e baforadas de fumo que libertavam os seus cigarros, e que estragavam todo este quadro
Começámos a aperceber-nos que podiam ser da organização já que estavam sempre a verificar uma lista em Excel.
Estávamos em cima da hora oito, eu ainda não tinha acabado a minha omeleta mista, feita na hora em show cooking, e já estava o André aos cliques em toda a volta, aproveitando cada momento para mais tarde recordar.
A loura aproxima-se e dispara:
“Are you Gâgez and Fenadez from NewsAvia?”
Apanhados!
Afinal as meninas eram mesmo o nosso contacto, assessoras de impressa da empresa que assegurava a organização deste evento para a Adria Tehnika, e os nossos nomes estavam na lista de Excel!
Ficámos apresentados e a conhecer a Tanja e a Sara ambas eslovenas.
Depois de algumas gargalhadas ao tentarmos ensinar-lhes a pronunciar correctamente os nossos nomes, recebemos o programa e o briefing.
As hostilidades começavam às 13h00 com o transporte do hotel para o evento da Adria Tehnika. Ali, na hora marcada, em frente do hotel estava uma frota de BMW à nossa espera.
Comandados com rapidez e com ares de protocolo presidencial lá fomos para o evento.
Chegámos perto do aeroporto, e parámos num edifício na zona, onde imediatamente sentimos o cheiro de óleo e combustível no ar.
Impecável, o evento é mesmo dentro do hangar de reparações, pensei.
Apeados do carro entramos numa porta onde estavam mais duas guias, que nos indicaram o caminho.
“Welcome NewsAvia, to Adria”
Isto promete, ainda por cima eram mais duas agradáveis figuras eslovenas.
“Olhei para o André, e comentei, ainda não vi nada feio aqui na Eslovénia”
“Pois, tu não te vês ao espelho!”, replicou o ‘amigo da onça’…
Virámos a esquina, apanhámos novo corredor estreito e de repente estávamos num hangar da Adria Tehnika, com um CRJ700 da Air India Regional mesmo à minha frente e um A320 ao fundo.
Air India? Pensei cá para os meus botões. Se os indianos estão por este lado é que deve ser uma manutenção acessível, ninguém voa para tão longe para uma manutenção se não valer a pena.
Passei pelo CRJ, que estava agora à minha esquerda, em direcção ao fundo do hangar, e logo perdi o André, que ficou a namorá-lo com a sua Canon.
Dois palcos gigantes ao meu lado direito, e em frente o A320 que me parecia familiar. Atrás do A320 decorria uma conferência de imprensa com o CEO da Adria, totalmente em esloveno.
Ainda aguardei a ver se saia a versão em inglês, mas não. Virei-me à procura do André, encontrei-o a subir umas escadas de manutenção na busca do melhor ângulo para apanhar o Airbus ali perto da zona de conferência. Claro que já tinha os seguranças à perna.
“Please, be careful. It’s better that you step down”
“Don’t worry I’m used to it”, retorquiu o André
Acaba a conferência, e de repente os jornalistas eslovenos começam a fazer uma série de questões, e eu ali sem perceber nada.
“Hello Federik?”
Acabava de conhecer a Petra! Bonita, com um toque gótico, um pirceing na boca chamava a atenção, e um autocolante no portátil que abraçava junto ao peito com a seguinte inscrição: ‘Be Nice to geeks’
“Olá, sim sou o Frederico, que bom que te encontrei, muito prazer.”
“Podes ajudar-me? O que é que eles estão a perguntar, não percebo nada”.
Atrapalhada, disse-me para não me preocupar, pois ela tinha um press-release em inglês para me entregar, com tudo o que se passou na conferência.
Recebi e continuámos a conversa de apresentação. Mas, apercebi-me de algo e coloquei o olho numa célula activa que parecia gerar mau ambiente já que dava para entender que as perguntas estavam a ser incómodas para o CEO.
Que será que se passa ali? Pensava enquanto fazia mais uma tentativa junto da Petra, que me direccionou outra vez para o programa que iria acontecer a seguir.
Atras de nós estava a zona de catering, para onde a Petra me levou para o primeiro copo. Nem liguei à bandeja de copos que me apresentavam, estava a tentar ver qual o jornalista que atacava para perguntar que questões estava a colocar.
A Petra repete a pergunta do barman, agarrei num copo de água, (sim muito cedo para começar a beber champagne) e dirigi-me aos jornalistas que agora saiam da zona da conferência.
Não tive sorte com o primeiro, não falava inglês, mas o segundo um jornalista do principal jornal esloveno, estava na disposição de ser meu intérprete e interlocutor.
Privatização! A empresa estava naquela lista que conhecemos muito bem em Portugal com prioridade para privatizar.
Este mês é o ‘mês de todas as decisões’.
E todos perguntavam, quem, quando, vale a pena, isto não é rentável, então porquê vender?
Estavam todos a apertar o CEO!
Na Eslovénia a Adria Tehnika resultou de um spin-off da companhia mãe, Adria Airways, numa altura de extremas dificuldades, agravado pelo facto de o governo ter perdido a capacidade de a financiar, através das nossas conhecidas (em Portugal ninguém fala noutra coisa) normas europeias.
Assim em vez de despedir mais de duzentas pessoas, optaram por uma solução criativa. Uma nova empresa, separada da Adria Airways, tendo na altura os gestores e governo conseguido convencer a Fraport, gigante dos aeroportos alemães, a ficar com 48% da companhia, tendo o governo assumido os restantes com o compromisso de rapidamente se desfazer. O dead-line é Junho de 2015!
A Adria Tehnika é agora um sucesso, com mais de 20 milhões de facturação anual e cerca de 900 mil euros de lucro. Jogava-se agora a privatização esse era o media bite que a imprensa queria explorar. A Adria tinha outras intenções e conseguiu comunicá-las na perfeição!
Antes de passarmos ao segundo momento do dia e enquanto todos se atiravam ao buffet tipico e delicioso, era hora de colocar on-line a primeira notícia do evento.
A sala ficou ainda mais escura. Numa tela branca enorme montada no palco, iniciava-se um vídeo. Nele os vários gestores de topo da empresa apareciam em modo filme institucional. Em comum tinham o discurso do reconhecimento, sim, o reconhecimento do esforço dos seus colaboradores, que estavam todos presentes na sala, ao lado dos jornalistas e dos clientes actuais e potenciais que a Adria convidou para aquele evento.
“Sem vocês isto não era possível”, era a frase mais utilizada.
Uma música épica, vários números operacionais, marcos históricos e fotos do pessoal a trabalhar nas aeronaves ajudavam a compor este filme completamente motivacional, e com uma mensagem clara.
A Adria Tehnika existe por causa da paixão, querer e sacrifício dos seus colaboradores, e é um sucesso de vendas que está aqui à vista de todos.
Esta era a mensagem da Adria Tehnika. Estava tudo dito quanto a posição de todos perante esta privatização.
Não vejo a hora de entrevistar amanhã o CEO. Será necessário marcar uma entrevista, pensei.
A meio da confusão já não via o André, quando novo estrondo saia do sistema de som. A tela convertia-se agora num enorme écran de sombras onde vários bailarinos apareciam por detrás de um pano em movimentos mecânicos e dinâmicos, com ferramentas na mão.
Com novo estrondo os bailarinos saltaram para a frente do pano e este caiu. Um número bem montado de dança. Segundos depois um clarão que se precipitava por detrás dos bailarinos. Era a porta do hangar abrindo-se para nos mostrar um bonito A319 da Adria com o registo S5- AAK precisamente o que tinha sofrido a intervenção 1.000. Era altura de cantar os parabéns e dos discursos.
Prémios à parte, era altura de sair para o passeio, o segundo grande evento do dia. Vamos conhecer Bled, um local de sonho, sobre o qual temos ouvido tantas histórias.
Este não é um blogue de viagens, por isso deixo os comentários à maneira de travel blog para quem percebe e deixo-vos com as espectaculares fotos do André Garcez, usando a pequena mas poderosa SONY ILCE-6000.
Tempo de regressar ao hotel para nos refrescarmos, estava calor, muito calor, e nos dirigirmos ao restaurante dentro de um lago luxuriante na propriedade do hotel em que nos hospedaram.
A Tajna aborda-nos e diz que consegue antecipar a entrevista com o CEO para hoje. Óptimo, vamos transpirados para o jantar.
“André não temos tempo de subir. Vamos avançar para a entrevista”
Em velocidade de cruzeiro o André encontra e monta o cenário ideal, enquanto eu vou revendo os meus apontamentos e pesquisas sobre a Adria Tehnika.
A entrevista correu muito bem, falámos sobre vários temas, desde o ao historial da empresa à privatização, da visão para o futuro, de novos modelos de aviões, de motores e suas prestações, da Embraer, de empresas portuguesas, e…
“Yes Tajnia, are we late?”
Nem me tinha apercebido que a Tajnia estava ao nosso lado de pé com um sorriso, fazia já alguns minutos.
“I’m glad that you understad without me saying a word” sorrindo para o seu CEO.
Tempo para mais duas perguntas, uma que já andava há muito tempo para fazer junto dos responsáveis do sector de manutenção e arrumamos tudo.
Ao chegar ao lobby estavam todos os convidados à nossa espera! Fomos para o jantar, caminhando a pé, com o pôr-do-sol no horizonte. As fotos falam por si.
Acabámos o segundo dia, a beber água, cansados mas com o espírito de missão cumprida. Na bagagem muita coisa para brindar os nossos leitores.
Até amanhã, último dia desta nossa incursão na Eslovénia e no universo da Adria.
Fotos: André Garcez/Newsavia, usando a pequena mas poderosa SONY ILCE-6000.