Emirates prepara vida longa para os seus A380 e B777… mas a preços mais baixos

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Tim Clark, o carismático presidente executivo da Emirates, lançou um repto indireto às empresas de leasing, nomeadamente àquelas que são proprietárias dos aviões Airbus A380 e Boeing 777 que a sua companhia utiliza, e dos quais detém as maiores frotas mundiais, que está a ser entendido no mundo ocidental como um certificado de óbito aos dois aparelhos gigantes da aviação comercial. Mas, na verdade, não será esse o objectivo do entrevistado, segundo os observadores mais atentos.

O presidente executivo da Emirates, que chegou à companhia do Dubai em 1985 e que assumiu os destinos da empresa em 2003, tem uma experiência de mais de três décadas nos Emirados Árabes Unidos e tem no seu currículo o feito de ter construído e desenvolvido a maior companhia aérea de serviço global do mundo, com departamentos de passageiros e de carga de grande sucesso e com uma dimensão inquestionável. A empresa tem sido (e continuará a ser), aliás, um dos grandes veículos de desenvolvimento dos Emirados, tendo contribuído para o lançamento de negócios de sucesso que hoje caracterizam toda a zona da Península Arábica, com destaque para o turismo, que foi alavancado pela existência de uma companhia aérea que, nomeadamente, nas últimas duas décadas, transportou (e continuará a transportar), de todos os continentes, os turistas que desembarcam no País.

Depois de ler a entrevista que Tim Clark concedeu ao jornal ‘The National’, que se publica em língua inglesa no Médio Oriente, com sede no Abu Dhabi, e perante as afirmações do presidente da Emirates, foi evidente o desânimo dos que defendem a continuação dos A380, mesmo da Airbus ou dos lessors que continuam a cobrar substanciais rendas pelos alugueres dos seus aviões. Ao mesmo tempo assiste-se à procissão de Airbus A380 e A340 , e de Boeing 747 e 777, precisamente os de maiores capacidade, que chegam aos aeroportos para parqueamento prolongado, em diversos continentes. Chegam com a indicação de que irão aguardar a retoma do mercado ou que serão devolvidos às empresas de leasing, ou, até, entregues a empresas de desmantelamento e de venda de peças. Mas nem todos. A exceção poderá ser mais extensa que a regra, se atentarmos nos números.

A crise provocada por esta pandemia veio colocar a aviação comercial numa encruzilhada. Há vários caminhos, logo que o mercado se reanimar e todos serão percorridos com determinação, quando os passageiros voltarem. Os aviões navegarão de acordo com a resistência financeira das companhias e dos governos e entidades que as apoiem e delas necessitem.

Não podemos deixar de duvidar que os Emirados Árabes Unidos (EAU) precisam da sua companhia aérea. Melhor: os EAU e os países árabes do Golfo precisam das suas companhias aéreas e não as deixarão cair. A dúvida não existe e, dentro de pouco tempo, temos a certeza, que ela se dissipará.

Ao retomar a atividade, após a pandemia, com todas as incertezas que uma situação destas pode ainda suscitar, a Emirates não vai adquirir imediatamente os Boeing 787 e Airbus A350 que Tim Clark sugere como os aviões do futuro para as companhias de voos intercontinentais, “e com muito conforto”, na entrevista dada ao ‘The National’. Nem sabemos se essa é a sua agenda ou do seu sucessor. O presidente da companhia do Dubai disse que os A380 e os Boeing 747 estão acabados, sem mercado e sem encomendas. Provavelmente esqueceu, com algum propósito, os B777, cavalos de batalha, também da sua frota. Afirmou depois que nenhuma fábrica irá construir aviões grandes em quantidade nos próximos cinco anos. Não há mercado, nem procura, e resta a incerteza quanto à recuperação do tráfego de 2019. Deixou a mensagem, que está a ser bem entendida entre as empresas de leasing que é necessário baixar os preços de aluguer dos grandes aviões, reinventar novos interiores, os denominados retrofits, que satisfaçam as várias clientelas, para dar mais vida às frotas que, certamente, voltarão a voar em força, pese embora a reconhecida qualidade das alternativas: os dois extraordinários aviões que a Airbus e a Boeing lançaram na última década para o longo curso: o A350 XWB e o B787 Dreamliner, respectivamente. Sem esquecer o novo Boeing 777X, que já anda em testes, despertando a curiosidade geral, de companhias e de pilotos.

Por isso mesmo, Tim Clark, que deveria abandonar a Emirates em junho deste ano, ficará o tempo necessário para que se consolide o presente e desenhe com segurança o futuro da companhia. Por outro lado, não esqueçamos que a Emirates é o grande meio para o sucesso da EXPO-2020, exposição mundial que foi adiada para outubro de 2021 no Dubai. Os EAU não prescindirão de uma companhia forte com aviões de grande capacidade e com rotas para todo o mundo, a trabalhar em pleno daqui por um ano e quatro meses.

A dúvida parece-nos ter sido esclarecida nesta entrevista que merece ser lida.

 

  • LINK para a entrevista em inglês

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