O presidente da Cabo Verde Airlines (CVA), Erlendur Svavarsson, afirmou que até agora foram feitos “todos os esforços” para “evitar a falência” da companhia e que além do Estado é necessário envolver os credores na futura solução.
A companhia aérea, liderada desde março de 2019 por investidores islandeses e sem voos comerciais há quase um ano, devido à pandemia de covid-19, ainda não tem planos para a retoma da atividade, dada a indefinição internacional na procura provocada pela pandemia, como admitiu o presidente do conselho de administração da CVA, em entrevista à agência de notícias portuguesa ‘Lusa’, divulgada nesta quarta-feira, dia 10 de fevereiro.
“Até ao momento, todos os esforços foram feitos para evitar a falência da Cabo Verde Airlines. Assim como acontece com a reestruturação de companhias aéreas em todo o mundo, o esforço de todas as partes interessadas, incluindo fornecedores e financiadores, será necessário para relançar a companhia aérea com sucesso”, afirmou Erlendur Svavarsson, questionado diretamente sobre um eventual cenário de encerramento da companhia pela ‘Lusa’.
Em março de 2019, o Estado de Cabo Verde vendeu 51% da então empresa pública TACV (Transportes Aéreos de Cabo Verde) por 1,3 milhões de euros à Lofleidir Cabo Verde, empresa detida em 70% pela Loftleidir Icelandic EHF (grupo Icelandair, que ficou com 36% da CVA) e em 30% por empresários islandeses com experiência no sector da aviação (que assumiram os restantes 15% da quota de 51% privatizada).
Atualmente, permanece no Estado cabo-verdiano uma quota de 39% do capital social da companhia aérea (10% entre emigrantes e trabalhadores da CVA) e desde Maio que são conhecidas negociações, ainda sem desfecho, com o Governo de Cabo Verde para um apoio à companhia, face às consequências da pandemia de covid-19.
“O Estado de Cabo Verde perdeu receitas significativas devido à redução do turismo como resultado da pandemia. Essa perda de receita pode reduzir a capacidade do Governo para ajudar a companhia aérea. Estou convencido de que os acionistas chegarão a um acordo, mas estou igualmente convencido de que outras partes interessadas, como os credores comerciais, terão de fazer parte da solução de forma significativa”, defendeu Erlendur Svavarsson, embora sem adiantar valores sobre dívidas da companhia.
Questionado sobre as estimativas de necessidades financeiras para relançar a companhia, o presidente do conselho de administração não quis entrar em detalhes: “Os acionistas estão avaliando vários cenários, cada um deles com um custo diferente. Não seria prudente da minha parte divulgar qualquer número neste momento”.
O ministro dos Transportes cabo-verdiano, Carlos Santos, afirmou em outubro de 2020 que a intervenção do Estado na CVA é “inevitável” e será anunciada “muito brevemente”, envolvendo a reestruturação da companhia, que não realiza voos comerciais desde março.
Ao intervir na Assembleia Nacional, na cidade da Praia, num debate sobre os transportes e os seus impactos no desenvolvimento do país, agendado pela oposição e visando especialmente a CVA, o governante garantiu que a “companhia vai continuar”.
“Nós vamos continuar a apostar na TACV, que esta companhia deve recentrar os seus objectivos no curto prazo, olhar para a diáspora e para o turismo, que deve redimensionar a empresa, sim”, afirmou, depois de várias críticas e perguntas da oposição sobre o negócio envolvendo a CVA.
O ministro, que acumula as pastas dos Transportes e do Turismo, justificou que esse redimensionamento é justificado por haver “retração na procura” em todo o mundo: “Não é o Governo que está a induzir isto, mas sim esta realidade”
A CVA não realiza voos comerciais desde 18 de março de 2020, quando o arquipélago encerrou a ligações internacionais, para conter a pandemia de covid-19, por decisão do Governo. Esses voos foram retomados em 12 de Outubro, com a reabertura de fronteiras, mas a administração da CVA não tem ainda planos para retomar a operação.
“Muito brevemente nós teremos um anúncio sobre a companhia Cabo Verde Airlines, com aposta do Governo. Objectivamente e obviamente que o Governo terá que intervir neste processo, tendo em conta que da noite para o dia a Cabo Verde Airlines deixou de ter vendas, mas continuou a ter custos. Inevitavelmente terá que haver uma intervenção do Estado”, afirmou o ministro Carlos Santos, recordando tratar-se de um cenário idêntico a outras companhias internacionais, intervencionadas pelos respectivos Estados.
“Vamos salvaguardar os interesses dos cabo-verdianos e dos contribuintes cabo-verdianos nesse processo negocial”, garantiu.
Cabo Verde regista um acumulado de 14.478 casos da doença desde março de 2020, quando foi diagnosticado o primeiro doente com a covid-19 no arquipélago, e soma um total de 137 óbitos por complicações associadas à covid-19.
- Foto de abertura ©HugoGuerraPlanespotter