A ministra dos Negócios Estrangeiros (MNE) da República da África do Sul, Naledi Pandor, pediu ao seu homólogo português para “interceder junto” da TAP Air Portugal para “criar uma rota direta para a África do Sul”. Na verdade, será retomar a rota, já ela esteve ativa mais de 45 anos, entre 1965 e 2011, entre Lisboa e a Joanesburgo, operada com aviões da companhia aérea portuguesa..
“Um dos pedidos que fiz ao meu colega João Gomes Cravinho foi para interceder junto da liderança da TAP para criar uma rota direta entre Portugal e a África do Sul, para aumentar o turismo dos dois lados e garantir que o setor, que foi muito afetado pela pandemia, vai recuperar”, avançou a ministra sul-africana no final do encontro com o governante português, na semana passada em Lisboa.
Ainda no contexto desta confluência, Pandor deu primazia à economia azul e à energia, sublinhando que “qualquer pessoa ou empresa com soluções energéticas é bem-vinda”.
O encontro entre os dois ministros, em Lisboa, possibilitou “analisar as relações bilaterais, que são muito boas, e permitiu identificar várias áreas em que a colaboração e o trabalho conjunto podem ser intensificados, como na economia, nas energias renováveis, na agricultura e nos oceanos”, afirmou o MNE português.
O jornal regional ‘JM – Madeira’, que se publica na ilha da Madeira, que fez eco da pretensão do Governo de Pretória, solicitou ao deputado de ascendência portuguesa Manuel Simão de Freitas, designado pela oposição ministro sombra do Turismo, que comentasse o pedido da ministra Naledi Pandor, ao que aquele respondeu que “o lobi para reintroduzir uma rota direta entre Lisboa-Joanesburgo-Lisboa já existe há muitos anos”. É um assunto que tem sido abordado com alguma frequência nos últimos tempos. Não só devido à situação de falência da companhia aérea sul-africana – South African Airways (SAA) – presentemente em fase de refundação e reestruturação, mas também porque o hub de Lisboa é bastante importante para os movimentos de europeus. A SAA ainda não retomou os voos de longo curso, se bem que existam diversas companhias europeias e do Médio Oriente, que já abriram os voos para a África do Sul, nomeadamente para Joanesburgo, Cidade do Cabo e Durban. A companhia de bandeira sul-africana, outrora uma das mais destacadas companhias aéreas do mundo, passou por uma situação de grandes dificuldades nas últimas duas décadas, que levou ao seu encerramento. Em agosto de 2021 a SAA recuperou o seu Certificado de Operador Aéreo (COA), tendo sido constituída uma nova empresa com integração de capitais públicos e de um consórcio privado, que está a tentar recuperar a companhia. As últimas notícias são animadoras e espera-se que a SAA possa voltar em breve ao mercado internacional.
A TAP Air Portugal tinha programado, antes da pandemia, voltar à África do Sul, em novembro de 2020, com três voos semanais para a Cidade do Cabo, mas essa pretensão tem sido adiada consecutivamente. Primeiro devido à pandemia de covid-19 e, depois, por escassez de frota, determinada pelo Plano de Reestruturação da companhia, aprovado pela Comissão Europeia, com algumas restrições, devido à situação económica da TAP, um problema que se arrastava desde antes da pandemia.
Note-se que esta rota Lisboa-África do Sul é a que oferece mais acesso ao resto da Europa e isso tem impactos positivos no turismo, sector que os sul-africanos voltaram a fazer uma grande aposta. Além, naturalmente, do tráfego relacionado com a emigração. A TAP inaugurou os voos regulares para Joanesburgo em junho de 1965 e realizou o seu último voo entre a capital portuguesa e a capital económica da República da África do Sul em 9 de abril de 2011, abandonando a comunidade portuguesa numa decisão que a maioria reputa de inaceitável. As razões invocadas então, para cancelar a rota, que durou mais de 45 anos, foram os prejuízos anuais, estimados em cerca de seis milhões de euros. Por que a maioria dos cerca de 400 mil portugueses (registados nos consulados) e mais alguns milhares de luso-descendentes que vivem na África do Sul, são, maioritariamente, de ascendência madeirense, tem sido o Governo da Região Autónoma da Madeira, quem mais, ao longo dos últimos anos, se tem batido pela retoma dos voos da companhia aérea de bandeira nacional. Um tráfego que tem sido desviado ao longo da última década para companhias estrangeiras, obrigando os passageiros a desembarques noutros aeroportos da Europa e do Médio Oriente, antes de nova escala em Lisboa, onde acabam por embarcar num voo com destino à Madeira. No retorno o circuito repete-se. Há ainda a possibilidade dos portugueses residentes na África do Sul viajarem de e para Lisboa, com apenas uma escala num aeroporto africano: casos de Luanda (Angola), com a TAP ou a TAAG; e de Maputo (Moçambique) com a TAP. Depois terão voos de ligação para cidades sul-africanas, com as companhias regionais desses países de língua oficial portuguesa e da África do Sul.
Hoje, a TAP serve 25.000 portugueses (registados) residentes em Moçambique e cerca de 5.000 sem registo consular, número que vem diminuindo progressivamente, e ‘ignora’ a comunidade portuguesa na África do Sul.
“Para a comunidade na África do Sul existe uma falta de diálogo, persiste a perceção nuns e a convicção noutros que esta comunidade está a ser colonizada e parece que alguém teima em negar o seu lugar na democracia portuguesa e na sua história”, refere o ‘JM – Madeira’.