Um Airbus A340-300 da Hi Fly Malta, registo 9H-SUN, foi transformado em avião sanitário para transportar, da cidade de Montevideu, capital do Uruguai, para a cidade de Melbourne, na Austrália, 112 pessoas que estavam a bordo de um navio de cruzeiro que iniciara uma viagem-expedição no Antártico, e que foram infetadas, em número ainda desconhecido, pelo novo coronavírus.
O voo saiu de Montevideo, na madrugada deste sábado, dia 11 de abril, pelas 01h44 locais (04h44 UTC), com destino à cidade de Melbourne, onde aterrou pelas 06h54 deste domingo, dia 12. Em termos horários há uma diferença de 10h00 para a hora UTC. Na hora de Lisboa eram 21h50 deste sábado, dia 11 de abril. Um voo que teve a duração de 16h10.
O avião utilizado, pertence a uma das duas companhias aéreas do Grupo Hi Fly, de matriz portuguesa, controlado pela família Mirpuri. A aeronave, que estava estacionada no Aeroporto de Chateauroux, em França foi levada para Lisboa na quinta-feira, dia 9 de abril, onde foi preparada para esta missão, e iniciou o voo transatlântico pelas 11h30 do mesmo dia com destino a Montevideu, onde foi posicionada para este serviço especial contratado pela companhia que organiza o referido cruzeiro marítimo, a ‘Aurora Expeditions’.
A travessia direta até ao Uruguai, um dos países mais a sul do continente americano, demorou cerca de 11h30, tendo o avião aterrado no Aeroporto Internacional Carrasco que serve a capital uruguaia, pelas 05h00 locais da sexta-feira, dia 10.
Segundo relatos da imprensa uruguaia foi criado um corredor sanitário entre o Porto de Montevideu e o Aeroporto de Carrasco, tendo os passageiros desembarcado diretamente para quatro autocarros que os transportaram sob escolta policial para dentro do aeroporto, mesmo junto do avião da Hi Fly. Não houve controlo de papéis. Todo o despacho foi digital e a bagagem foi levada pelos passageiros para dentro da cabina para minimizar os contágios. Foram sempre acompanhados, no processo de transferência do porto e depois na viagem para a Austrália, por pessoal médico-hospitalar devidamente equipado e resguardado para evitar qualquer eventual contaminação, já que havia notícia de que a maioria dos viajantes, todos residentes na Austrália (96) e na Nova Zelândia (16), estavam infetados. O Ministério da Saúde do Uruguai, aliás, considerou que todo o grupo era de alto risco e que a maioria estava contagiada. Esta notícia foi confirmada pela agência ‘Reuters’ num despacho de Montevideu. O principal canal de notícias de televisão na Austrália anunciou neste sábado que 70% dos australianos estão infetados.
O navio de cruzeiro ‘Greg Mortimer’, com bandeira das Bahamas, tinha iniciado no porto de Ushuaia, cidade argentina no extremo sul da América do Sul, situada numa ilha do denominado arquipélago da Terra do Fogo, no passado dia 25 de março, um cruzeiro-expedição por terras da Antártida.
Logo nos primeiros dias verificou-se a bordo, segundo notícias do médico do navio, que dois passageiros desenvolviam sintomas de covid-19. O ‘Greg Mortimer’, que tinha a bordo 128 turistas de diversas nacionalidades e 83 tripulantes, navegou então em direção ao porto mais próximo – Montevideo – onde solicitou atracagem que lhe foi negada. O navio teve de manter-se fundeado a cerca de 20 milhas da costa uruguaia, no Rio de La Plata. Depois de outros países sul-americanos terem recusado receber o navio, a companhia voltou a solicitar a assistência humanitária do Uruguai. Então, uma equipa de médicos e enfermeiros uruguaios deslocou-se a bordo onde pode constatar que a situação era de quase completa contaminação, tendo sido desembarcados os doentes mais graves e hospitalizados em Montevideu.
Sendo um navio estrangeiro e com passageiros estrangeiros a bordo não competia ao governo do Uruguai a resolução do problema, pelo que partiu dos governos da Austrália e da Nova Zelândia, que tinham maior número de cidadãos a bordo, as diligências diplomáticas para retirar de bordo os passageiros que não conseguiram seguir no cruzeiro-expedição que iria visitar as ilhas das Malvinas/Falklands, Ilhas Geórgias do Sul e depois navegar ao longo da costa Antártica.
No final e quando estava encontrada a solução, os governos da Austrália e da Nova Zelândia agradeceram ao Governo do Uruguai a disponibilidade encontrada para a solução e a maneira profissional como lidaram com a situação, assim como da companhia aérea que está preparada para lidar com mais esta situação de grande risco, e dos funcionários aeroportuários.
Após a aterragem do A340-300 da Hi Fly Malta em Melbourne os passageiros foram levados em transporte especial para hospitais da cidade onde serão sujeitos a novos testes de despiste do novo coronavírus, informou a empresa organizadora da viagem. O Governo de Melbourne alertou que os recém-chegados não infetados irão cumprir um período de quarentena em hotéis da cidade, formalidade exigida também aos tripulantes do avião.
- Neste LINK os leitores encontram mais informações sobre este voo sanitário realizado pela Hi Fly, com um avião registado em Malta, mas com a maioria da tripulação de nacionalidade portuguesa.
- Fotos © TWITTER/Aeroporto Internacional de Carrasco e de alguns passageiros