Lendas vivas

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De vez em quando o Facebook aparece com lembranças. Hoje, ele resolveu me premiar com as reminiscências de um dia quatro anos atrás. Era final de março de 2013, e eu, recém checado Piloto Comercial pela FAA, me preparava para voltar ao Brasil, após quase um ano vivendo nos Estados Unidos. Mas, poucos dias antes de eu embarcar num reluzente Airbus A330 de cauda vermelha em Orlando rumo a oito horas de voo na direção sudeste, havia um último compromisso a honrar.

Eu fui, num sentido, relativamente azarado: como tive que fazer toda a minha formação de piloto num espaço curto de tempo, sobrou-me pouco deste para saborear tudo que um país com rica memória da aviação tem a oferecer. E um dos maiores eventos do mundo no ramo, a Sun N’ Fun, apesar dos 300 dias que passei em território norte americano, ficou caprichosamente de fora deste período. A feira, que acontece todo ano na próxima Lakeland – caminho dos nossos voos para a minúscula e simpática Wauchula – aconteceu uma semana antes de eu chegar, e uma semana depois de eu ir embora.

Mas a Florida, em especial, tem um calendário agitado, e deu para ver os Blue Angels em Jacksonville Beaches, os Thuderbirds em Daytona Beach, e Titusville… ah, Titusville. A pequena cidade, no quintal do Kennedy Space Center, abriga um museu proporcional ao seu tamanho, o Hall da Fama dos Astronautas da NASA, e um honesto aeroporto regional no qual tive a oportunidade de, exatos quatro anos atrás, ver de perto, em movimento, em voo, algumas das lendas da aviação.

E se em Jax Beaches vi o F-22 e em Daytona o F-18 SuperHornett, em Titusville o show ficou por conta de uma dupla de respeito: Douglas C-47 Skytrain e Boeing B-17 Flying Fortress, dois aviões fundamentais no curso da 2a Guerra Mundial. O C-47 foi o avião de transporte mais importante de seu tempo, e graças aos grandes excedentes de guerra, sua versão civil, o DC-3, se tornou um dos primeiros aviões comerciais de passageiros a dar lucro para seus operadores sem precisar de subsídios. Não fosse o DC-3, talvez não tivéssemos a aviação comercial nos moldes que temos hoje. Já o B-17, tão complexo que praticamente inaugurou uma nova era nas práticas de cabine, com scanflows e checklists, foi um bombardeiro notável, que ajudou a mudar o curso da guerra, e a salvar a própria Boeing – que se tornaria no pós-guerra, uma das maiores fabricantes de aviões do mundo, ao lado da Douglas, que décadas depois, seria engolida pela colega de Seattle.

Ver aeronaves como essas em museus já é por si emocionante. Presenciá-las em movimento, em voo, com seus cheiros, sons e ângulos, é uma experiência quase transcedental, que todo apaixonado por aviação deveria ter o direito de viver um dia, e relembrar para sempre.

Foto: o C-47, levando a bordo um dos pilotos do Dia D, decola ao fundo, enquanto o B-17 domina os olhares na taxiway de KTIX, bem próximos ao público.


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