Luiz da Gama Mór deixou a TAP Air Portugal na passada sexta-feira, dia 15 de dezembro. Foram 17 anos de trabalho intenso, como ‘braço direito’ de Fernando Pinto, e elemento preponderante da equipa de brasileiros que geriu os destinos da maior empresa portuguesa de transporte aéreo desde o ano 2000, chegada num tempo em que a extinta Swissair pretendia adquirir a TAP. Muitas voltas deu a companhia portuguesa até chegar ao estádio de crescimento e desenvolvimento que hoje regista no mercado nacional e internacional.
Natural do Rio Grande do Sul, Luiz da Gama Mor fez carreira na aviação comercial nos dois lados do Atlântico. Primeiro no Brasil, na extinta VARIG, onde já fez equipa com Fernando Pinto. Depois em Portugal, onde atingiu a posição de vice-presidente executivo da companhia aérea nacional.
Profissional conhecedor do setor em que sempre trabalhou, Luiz Mor tornou-se um parceiro e um interlocutor preferencial dos agentes de viagens portugueses e de todos quantos ao longo destes 17 anos negociaram com a companhia portuguesa.
Desde o início de 2017 que Luiz Mor manifestou interesse em abandonar as funções que lhe estavam cometidas na TAP Air Portugal. Passou uma temporada no Brasil, nomeadamente no Rio de Janeiro, que adoptou como sua segunda cidade, depois de Porto Alegre, se bem que pelo meio tenho estado sempre Lisboa.
No passado dia 9 de dezembro a Cidade do Rio de Janeiro entregou a Luiz da Gama Mor o título de ‘Cidadão Honorário’, numa iniciativa do vereador Carlos Caiado, que calou fundo no homenageado e em todos os seus familiares e amigos, que compareceram em grande número para a cerimónia de entrega do diploma que decorreu no Palácio de São Clemente, sede do Consulado-Geral de Portugal na Cidade Maravilhosa.
Uma cerimónia que homenageou o homem que durante vários anos construiu pontes entre os dois países e que sai da companhia, por via da sua aposentadoria, com uma obra realizada muito interessante expressos, por exemplo, nos cerca de 80 voos semanais da TAP entre aeroportos portugueses e brasileiros.
Mas a homenagem da cidade do Rio de Janeiro, em cuja organização teve especial relevância o jornalista e político carioca Cláudio Magnavita, diretor do ‘Jornal de Turismo’, teve como principal foco os serviços prestados em prol da cidade, na divulgação e promoção do destino na Europa, onde a TAP desde há muito tem sido um excelente veículo.
Na abertura da cerimónia foi escutada uma mensagem gravada de Fernando Pinto, presidente executivo da TAP, que destacou a “ajuda insubstituível de Luiz Mor, sempre conciliador e procurando a harmonia entre todos”, qualidades que exaltou e que foram determinantes em fases diferentes da vida da companhia aérea portuguesa. Uma mensagem em que Fernando Pinto sublinhou ainda a grande facilidade que Mor tem para absorver novas ideias, novas tecnologias. Tudo contribuiu para abrir portas e solidificar projetos. O presidente executivo da TAP terminou com palavras de incentivo ao seu colaborador mais direto destes últimos anos, dizendo que “ainda tem muito para dar” a nível profissional.
Cláudio Magnavita dissertou sobre a vida profissional do homenageado e o seu relacionamento com o trade turístico nos dois lados do Atlântico. Salientou que Luiz Mor uniu ainda mais o Brasil e Portugal e abriu caminhos que, em cada dia, se consolidam, nomeadamente no intercâmbio turístico.
António Monteiro, ex-director de Relações Públicas e Comunicação da TAP, que durante vários anos lidou diretamente com Luiz Mor, falou sobre o panorama da aviação comercial nos últimos anos e fez o elogio do homenageado, no que foi seguido atentamente pela atenta plateia que encheu o Palácio de São Clemente.
Resumo da intervenção de António Monteiro
Os anos 90 foram marcados no transporte aéreo por profundas transformações, de que resultou o aparecimento de novas companhias de aviação e o desaparecimento de outras, incluindo algumas históricas como a Pan Am, a TWA e a Varig.
A concorrência exacerbou-se obrigando as companhias a investir em tecnologia, em novos e mais sofisticados equipamentos, e, em especial, a reforçar a sua relação com os clientes.
Em Portugal, a TAP, após receber uma ajuda de Estado, a última, de vulto, estava de novo à entrada do ano 2000 em situação aflitiva, reforçando o Governo de então a decisão de privatização, chegando a acordo com a Swissair. Mas a situação estava mesmo difícil e, na véspera de entrar na TAP, foi a própria companhia helvética a soçobrar.
Ao mesmo tempo, no Brasil fruto da crise mas também do seu modelo de gestão a Varig atravessava horas difíceis, deixando cair a equipa de Fernando Pinto, entrando numa espiral de decisões erradas que a conduziram rapidamente ao fim.
O Governo Português decidiu então confirmar a equipa de Fernando Pinto, que com o poder resultante do seu prestígio profissional, tomou as rédeas da TAP recuperando-a e tornando-a relevante. Ou seja, a desgraça da Varig foi a felicidade da TAP.
Em qualquer atividade é indispensável a existência de uma equipa de gestão profissional, com competências diversas, predicados de que a TAP nunca fora dotada até então.
Partindo da sua situação geográfica foi desenvolvido um sistema de hub, tornando Lisboa o ponto obrigatório do tráfego entre a Europa e o Brasil e vice-versa. Ou seja, 500 anos depois a geografia foi uma vantagem e não um empecilho, como muitos julgavam.
Luiz Mór, que a partir de hoje se torna ‘cidadão honorário’ do Rio de Janeiro foi uma cara muito visível da TAP pois foi nele que se concentraram todas as responsabilidades de Vendas, Marketing e Comunicação. Ele foi o dínamo de uma atividade frenética que, envolvendo as suas equipas, desenvolveu o relacionamento entre países, regiões e mercados de turismo. Feiras, workshops, viagens com agentes de viagens e jornalistas, promoções, entre outras formas de contacto, contribuíram para o reforço de laços da TAP com os seus parceiros, proporcionando crescimentos inéditos.
Destaca-se naturalmente o Brasil onde a atividade de Luiz Mór foi notável. Basta ver que existe hoje uma relação entre Portugal e Brasil como nunca acontecera antes nos domínios político, social, cultural, que aproximou dois povos que hoje se podem considerar verdadeiramente irmãos. Recordo que em 2017 um jovem escritor brasileiro ganhou o Prémio Saramago, enquanto uma escritora da Madeira ganhou o prémio Oceanos, o mais importante do Brasil. Acresce que em Outubro brilharam os escritores brasileiros em Óbidos, no Fólio, enquanto em novembro, se destacaram os portugueses em Salvador e São Paulo no festival “A minha Pátria é a minha Língua” que evoca Fernando Pessoa.
Não tenho dúvidas de que Luiz Mór fica com Lisboa no coração, lugar onde já estava Porto Alegre ou Cachoeiras onde nasceu. Mas o Rio ocupa um lugar especial. É uma cidade onde trabalhou alguns anos e onde se deslocou inúmeras vezes ao serviço da TAP e onde vivem familiares que lhe são muito queridos. São razões que explicam sobremaneira o ‘prémio’ que lhe é hoje outorgado e que ele merece mais do que ninguém.
É aliás fácil gostar do Rio. Pessoalmente subscrevo a frase de Ruy de Castro, um dos escritores que mais é identificado com o Rio de Janeiro, em que ele diz que “esta vida são dois dias, o Carnaval três e o Rio para toda a vida”.
Ainda durante a cerimónia Luiz Mór teve oportunidade de ouvir uma saudação de seu filho André, um testemunho na primeira pessoa, de quem lidou e conviveu uma vida com um gestor interessado, ausente por vezes, mas extremamente cuidadoso com a educação e formação dos seus filhos.
O homenageado agradeceu o título que lhe dedicou a Câmara Municipal do Rio de Janeiro e confessou-se honrado por a cerimónia ter decorrido no Palácio São Clemente, construído pelos Portugueses e hoje sede do Consulado-Geral de Portugal na cidade do Rio de Janeiro.
Luiz Mór disse que os 17 anos que viveu em Portugal foram os melhores da sua vida profissional. Prometeu continuar a viver entre Porto Alegre e Lisboa, com o Rio de Janeiro de permeio, cultivando as inúmeras amizades que ganhou e convivendo com a extensa família que tem, e que por razões profissionais não acompanhou, tal como pretendia, nos últimos anos. Vou iniciar um “ciclo de afetos”, concluiu o homenageado.