Entre o ido Verão de 1968 e o inicio de 1970 e devido à triste e “infamosa” guerra que alastrava no Biafra, encetava-se uma das mais gloriosas e arriscadas missões até hoje feitas em tempo de guerra na história da aviação civil. Esta “task-force” era então fundada pelo pastor canadiano Eoin S. MacKay, iniciando assim as chamadas JCA – Joint Churches Aid, em que basicamente consistia numa ponte aérea voada noite e dia, por pilotos de várias nacionalidades, portugueses incluídos, nas mais adversas condições, fossem elas meteorológicas, logísticas, etc. Essencialmente, seria feita nesta ponte aérea a maior percentagem dos voos entre a base avançada da JCA para África (na ilha de São Tomé) e a pista de Uli, no Biafra (com o nome de código ‘Annabelle’, que consta que foi assim denominada em homenagem a uma Irmã Cristã que muito ajudou por aquelas bandas os mais carentes, e de sua graça Annabelle).
A pista de Uli (Annabelle) não passava de uma mera estrada abandonada e onde à noite, sob umas luzes improvisadas com o que quer que fosse, desde poeirentos jeeps a bidons de óleo ardente, as aeronaves da JCA aterravam e descolavam numa cadência reforçada, ainda para mais de luzes apagadas para fugir às antiaéreas e à mira dos pesqueiros soviéticos de então que fingiam estar a pescar naquelas aguas (São Tomé e costas de Nigéria/Biafra), mas que mais não passavam do que meras bases de espionagem em ‘versão’ de posto avançado. Apesar desta operação ter sido baptizada pela JCA oficialmente como ‘Canairelief’, abreviação de Canadian Air Relief, muitos dos locais e media de então designavam-na já como ‘Jesus Christ Airlines’. Nos últimos tempos já não era a Igreja Canadiana a financiar. mas sim a própria CIA e o Governo dos Estados Unidos da América e algumas nações europeias interessadas no processo colonial e ‘derivados’ da região. São Tomé e o seu aeroporto eram por si um centro de logística, de mercenários, de médicos e de medicamentos/hospitais, etc., com bastante azáfama para a altura.
A testemunhar a guerra e a fome que crescia assim vertiginosamente alicerçada do conflito em si, algumas nações da velha Europa não se alienaram dum todo, e numa versão mais ortodoxa da coisa, criaram as suas derivações para a ajuda via ponte-aérea, que até então tinha sido mais Americanizada e Canadiana.
Foi através disso, e entre muitos outros exemplos, que pudemos assistir à versão “Dinamarquesa-Sterlinguense”, não fosse esta última Sterling uma criação dum pastor dinamarquês, em formato “Scan Church Aid”, utilizando este sempre bonito DC-6 ainda com as cores da mãe Sterling, e a também versão sslandesa da coisa, a ‘Flughjalp’, islandês para “Flight Help”-Aid by Air (como se pode ler no nariz), também conforme a foto atesta no catita DC-6 de registo TF-AAF. Numa das únicas e pouquíssimas fotos disponíveis na web, podemos ainda apreciar aqui este lindíssimo e sempre elegante Super Constellation de registo canadiano, CF-AEN, com títulos da Church Aid & Canairelief. As cores azul escuro pertenciam à companhia aérea para onde seria suposto ir (uma companhia aérea americo-grega em projecto chamada Hellenic Air Ltd, baseada em Atenas), mas cujo negócio não se viria a concretizar devido a burocracias.
E porque hoje foi um texto de esperança e paz (tentativa ao menos) numa guerra já extinta, aproveito aqui para desejar a todos vocês que me lêem, votos de um Feliz Natal e um Super Novo Ano de 2016 com tudo o que mais desejarem…
Obrigado pelo vosso apoio aqui a este meu humilde cantinho internáutico neste quase findo ano de 2015!