Pulverizaram um marco da História da Aviação

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A massa falida da Varig manda destruir aeronave que foi usada pela US AIR FORCE na Guerra e foi pilotada pelo lendário Howard Hughes. Nos autos do processo carta do MUSAL revela falta de interesse e apontava alto custo para recuperação. Busca de interessados foi parcial. 

 

Por Cláudio Magnavita*

Em qualquer país do mundo o que fizeram hoje, dia 31 de janeiro, na área industrial do Aeroporto do Galeão (Rio de Janeiro) seria caso de polícia. Um crime típico dos talibãs ou de outros povos insensíveis a história e a preservação da memória. O caso fica ainda mais grave quando ocorre sob a regência da própria justiça e é praticado por prepostos nomeados pelo poder judiciário, mais precisamente a 1º Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

Na tarde do dia 31 de janeiro de 2020, por decisão dos gestores da massa falida da VARIG alguns tratores e uma escavadora se aproximaram de uma das relíquias da memória da aviação brasileira, o DC-3 matrícula PP-VBF, ostentando ainda as cores da Varig e começaram a despedaçá-lo. Cada marretada jogava no lixo um pedaço da história, não apenas da memória da aviação brasileira, mas da aviação mundial e principalmente dos Estados Unidos da América.

O DC-3 da ex-VARIG fotografado no Aterro do Flamengo, em abril de 1975. Foto ©Vito Cedrini/www.aeroentusiasta.com.br

É a mesma aeronave que durante 30 anos esteve no Aterro do Flamengo nas décadas de 70 e 80 e fez parte da infância de muitas crianças que pela primeira vez puderam tocar em um avião e despertar o amor pela aviação, como é o caso do jornalista Daniel Carneiro, especializado em aviação: “Este avião faz parte da minha infância. Corta o coração ver um fim tão triste”.

O avião despedaçado por uma escavadora, fez parte do esforço de guerra norte-americano, entregue em 1942 à US AIR FORCE. Voou durante a 2ª Grande Guerra com o prefixo 42-24294. Após o conflito foi usado pela ‘Howard Hughes Tool Co.’ com a matrícula civil NC68358, tendo sido pilotado pelo excêntrico milionário americano Howard Hughes, imortalizado no cinema no filme ‘O AVIADOR’, papel encarnado por Leonardo de Caprio. Hughes foi o construtor do famoso avião Constellation e fundador da TWA.

Só este capítulo valeria a preservação desta relíquia. A decisão da FLEX, braço de operação da massa falida da Varig, que opera ainda os simuladores de voo na área industrial do Galeão, foi realizada pela necessidade de devolver a área ocupada pela famosa aeronave, transladada do aterro do Flamengo e novamente restaurado para uma praça em frente à antiga unidade médica da Fundação Rubem Berta na área industrial do aeroporto.

A decisão foi tomada depois de uma análise de custos. Sairia mais barato pulverizar a aeronave ao invés de buscar uma solução com respeito pela sua história. Uma decisão burra, estúpida e típica de um burocrata medíocre sentando numa cadeira torta, em frente de um computador obsoleto, mas sentindo-se poderoso pelo mandato outorgado pela Vara Empresarial.

Consultada a Rio Galeão, empresa concessionária do aeroporto, e a TAP Manutenção e Engenharia/Brasil  se disseram surpresas e negaram a sua participação na decisão, colocando todo o peso na gestão da massa falida da VARIG.

O ultimo voo do PP-VBF foi entre Congonhas e o Santos Dumont em 18 de agosto de 1971, sendo transladado para o centro de manutenção da Varig e restaurado.

Tiveram um mínimo de pudor em colocar fitas adesivas na marca Varig ao iniciar o processo insano e irreversível de destruição. No ano passado o Governo alemão montou uma operação de Guerra para transladar de Fortaleza, no estado nordestino do Ceará, um Boeing 737-200 que foi palco de um sequestro de repercussão mundial e em Porto Alegre, no sul do Brasil, um derradeiro DC-3 hoje com as cores da VARIG (e que foi da VASP) foi restaurado, virou a estrela de um memorial.

Não cabe aqui apelar apenas pelo saudosismo de uma VARIG que hoje não existe mais. De uma empresa pioneira engolida pelo enorme apetite de negócios dos camaradas que estavam no poder. Este capítulo feriu o conceito de empresa de bandeira do Brasil até os dias de hoje. Este crime maior é simbolizado hoje na impunidade de um crime cometido no Galeão nos dias de hoje e que não pode ficar impune.

Não foi uma máquina de 78 anos que foi destruída. Foi um grande pedaço da história mundial destruído. Fica porém uma dúvida, se pertencia à massa falida da Varig, e se tinha um valor histórico, por que não foi a leilão? Será que irão computar como receita da mesma os quilos de alumínios encontrados ou nem isso? Fizeram isso sob coação da Rio Galeão e da TAM ME?

O caso fica mais sério quando se descobre que a massa falida tentou algumas soluções. A primeira foi a doação ao Musal – Museu  Aeroespacial. Um laudo do museu informa que a aeronave estava com alto índice de corrosão e recusou. Várias tentativas foram feitas, até porque parte da equipe é formada por “ex-variguianos”. A decisão do Wagner Bragança foi tomada após análise de custos. Para retirar o avião o custo seria superior a 200 mil reais. Pressionada pela Rio Galeão, a TAP ME teria enviado correspondência aplicando uma multa diária.

O curioso é a solução ter estado nas mãos dos próprios algozes. A Rio Galeão marcaria um tento transladando a aeronave para as suas dependências e a TAP ME poderia ter feito a reforma de uma aeronave que foi pulverizada no pátio de uma empresa de manutenção. O maior erro foi não avaliar a dimensão deste fato e a repercussão que passaria a ter. Se era irreversível e não houve interessados a decisão deveria ser compartilhada e não tomada entre quatro paredes, apesar de documentos terem sido anexados aos autos da falência. Agora só resta chorar e esperar que este circo de horrores não se repita.

Com a palavra o titular da Primeira Vara Empresarial e Ministério Público!

 

  • *Cláudio Magnavita é editor do jornal ‘Correio da Manhã’ do Rio de Janeiro, Brasil, e jornalista especializado em aviação – Especial para o ‘Newsavia’.  
  • As fotos não identificadas foram antes publicadas nas redes sociais Facebook e Twitter e não tinham qualquer referência aos seus autores.

 

 

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