A Força Aérea Portuguesa (FAP) considera que o acidente com o avião C-130 Hercules no passado dia 11 de julho, na Base Aérea nº 6, no Montijo, no qual morreram três militares, poderia ter acontecido com qualquer outra tripulação, nas condições de voo impostas ao piloto em instrução, que revelou inexperiência.
De acordo com as conclusões do processo de averiguações aberto pela Força Aérea, que já foi remetido à Polícia Judiciária Militar, para a experiência e condições de voo impostas ao piloto em instrução, o acidente é considerado “fortuito e ocasional”.
No documento, a que a agência Lusa teve acesso, e cujo conteúdo foi revelado neste sábado, dia 29 de outubro, em despacho noticioso de Lisboa, fica patente que o piloto em instrução revelou “inexperiência” no exercício e “manifesta dificuldade” na execução da manobra de “aborto à descolagem” que o instrutor, uma das três vítimas mortais do acidente, lhe pediu para fazer, destinadas ao treino de controlo da aeronave, no dia 11 de julho passado.
Para essa manobra, foi pedido primeiro ao piloto em instrução que treinasse o controlo do avião no solo, manobrando em “voltas apertadas e travagens”.
Na primeira vez que é dada a ordem para abortar a descolagem, com o avião já em andamento na pista, foi “com manifesta dificuldade” que o piloto conseguiu pará-lo, o que é atribuído no relatório à sua “falta de prática e inexperiência” com o controlo do avião “a alta velocidade no solo”.
Foi na segunda descolagem abortada que as coisas correram mal. O instrutor “decide não avisar o piloto” e retira potência a um dos motores para que o piloto reaja.
“Devido ao stress da situação, aliado à sua inexperiência”, o piloto manobrou a aeronave no solo levando-a a fazer “uma volta abrupta pela direita”, que o instrutor tentou corrigir, mas sem sucesso.
O Lockheed C-130 Hercules saiu da pista pela direita numa derrapagem descontrolada e percorre 30 a 40 metros antes de parar.
No documento descreve-se como, após a “violência da saída de pista” e “imobilização descontrolada” do aparelho, deflagrou um incêndio alimentado pelas 15 toneladas de combustível a bordo.
Três dos tripulantes dirigiram-se para o compartimento de carga, seguindo os procedimentos “que toda a vida treinaram”, mas encontraram o local envolto em fumos e a atingir temperaturas extremas.
Devido aos danos na fuselagem e à falha dos sistemas hidráulicos e elétricos, não havia forma de sair da aeronave através do compartimento de carga, pelo que a “norma e rotina” seguida pelos três “tornou-se fatal”, lê-se.
A Força Aérea salienta que “da saída de pista até à imobilização da aeronave”, não houve mortes ou ferimentos graves registados entre os tripulantes.
No parecer que finaliza o relatório, a Força Aérea assinala que a realização das manobras a executar durante um voo de instrução e qualificação estão descritas no Manual de Qualificações da aeronave C-130, derivam do curso de qualificação de pilotos do fabricante da aeronave e implicam um risco associado mais elevado do que os decorrentes de uma missão normal.
Quanto ao socorro prestado, quer da base, quer do Instituto Nacional de Emergência Médica, “mais era humanamente impossível” fazer, refere-se no documento, que ressalta que o piloto comandante e instrutor é “responsável total e único” pelas manobras e procedimentos realizados a bordo.
Do acidente resultou a perda total do avião C-130, com valor patrimonial de 5,5 milhões de euros.
A FAP divulgou na passada quarta-feira, dia 26 de outubro, um comunicado com um resumo das conclusões, referindo a “perda de controlo” da aeronave, mas sem no entanto indicar as razões que levaram a essa perda de controlo (LINK notícia relacionada).