A TAP Air Portugal duplicou o número de voos a partir do Porto, no norte do País, face ao ano passado (subida de 98%). “Esta estratégia de reforço entrou em vigor já no corrente mês de abril e manter-se-á até ao fim do verão deste ano”, destaca um comunicado da empresa aérea divulgado sábado, dia 2 de abril.
Face a recentes declarações de políticos do Norte do País e a uma reportagem publicada neste sábado, num dos maiores jornais diários portugueses, sediado na cidade do Porto, a TAP veio a terreno defender-se e esclarecer alguns pontos que a companhia aérea portuguesa considera importantes para “uma estratégia de recuperação”. À partida do Porto a companhia diz tido um crescimento de 122% no Inverno 2021/22, comparando com igual temporada anterior.
Com a recuperação do tráfego aéreo, a TAP considera que tem vindo a investir cada vez mais no Aeroporto Francisco Sá Carneiro, na cidade do Porto.
A TAP afirma no comunicado ser “a única companhia aérea a efetuar ligações transatlânticas a partir do Porto, transportando para o Norte do país passageiros do Brasil (Rio de Janeiro e São Paulo) e dos Estados Unidos da América (Nova Iorque). “Este investimento ímpar de uma companhia aérea no Porto reflete-se em duas ligações para o Rio de Janeiro, três para São Paulo e duas para Nova Iorque, todas as semanas”, destaca a TAP.
A companhia portuguesa voa agora 14 vezes por semana para a Madeira, 14 vezes para Londres e 21 para Paris. Para além disso voa quatro vezes para Genebra e Luxemburgo e três vezes para Zurique e Ponta Delgada. Contam-se ainda 70 ligações semanais a Lisboa.
Nos últimos anos tem sido evidente a grande contestação dos políticos e dos empresários nortenhos à programação da TAP, sobretudo em fóruns sobre temas económicos e na comunicação social. Nomeadamente desde que a TAP, ainda na presidência de Fernando Pinto, optou por potenciar o hub de Lisboa, centralizando as partidas para voos internacionais no cada vez mais congestionado Aeroporto Humberto Delgado em Lisboa. Um facto que assumiu fases de atrito frequente entre o Porto e Lisboa, sobretudo em 2019, antes da pandemia. O mesmo se passa, por exemplo, em relação à Madeira, para onde a TAP faz apenas voos domésticos, de Lisboa e do Porto, deixando para outras companhias estrangeiras as ligações diretas a cidades europeias. Por exemplo, do Reino Unido chegam presentemente à ilha da Madeira entre 40 a 50 voos regulares semanais e nenhum deles é operado pela TAP. O mesmo se passa em relação à Alemanha.
As opções da TAP têm sido fortemente criticadas pelo presidente da Câmara Municipal do Porto, que se tornou um dos maiores contestatários à política da companhia aérea nacional em abandonar algumas das rotas que mais interessam à cidade, não só pelo tráfego que gere entre os seus habitantes, como também pela importância que têm para a emigração e o turismo.
Rui Moreira reafirma que a TAP continua a diminuir a sua presença no Norte do País
Em declarações à agência de notícias ‘Lusa’, Rui Moreira (foto acima), acusou na semana passada o Governo de querer transformar a TAP numa “companhia regional” para servir o hub de Lisboa e a transportadora de “abandonar mais uma vez” o aeroporto Francisco Sá Carneiro.
O autarca do Porto considerou “péssimo para a região” a diminuição de rotas da TAP a partir do Porto, considerando que é “tempo de juntar esforços” e lançou o repto ao Partido Socialista/Porto para que “puxe dos galões” e diga se é ou não cúmplice da opção da TAP de diminuir a presença no Norte do país.
Para o autarca portuense, os portugueses têm que pensar “se se sentem bem” em “pagar a fatura” para que o Governo transforme a TAP numa “companhia regional” para servir Lisboa, lembrando o custo o erário publico que a transportadora aérea representa.
As declarações de Rui Moreira surgiram depois do ‘Jornal de Notícias’ ter noticiado que face ao Verão de 2019 a TAP vai operar menos sete rotas e oferecer menos 705 mil lugares a partir do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, ao contrário das principais companhias internacionais que reforçam a presença a partir do Porto.
“Reajo [à diminuição de rotas e lugares] com muita preocupação, isto é péssimo para a região, para a cidade, numa altura em que precisávamos que as companhias aéreas, e a TAP em particular, estivessem a atuar mais e a oferecer mais rotas a partir do aeroporto Francisco Sá Carneiro”, afirmou Rui Moreira.
No entanto, o autarca apontou que “nada disto” o admira: “Eu tenho vindo a afirmar, há muito tempo, que o único propósito do Governo é transformar a TAP numa companhia regional para servir o ‘hub’ de Lisboa e Vale do Tejo”, disse.
“A questão diferente é se todos os portugueses se sentem bem em pagar a fatura desta empresa que, de facto, só serve Lisboa e Vale do Tejo como se fosse uma empresa de transportes regionais”, declarou.
O autarca salientou que “agora é tempo de juntar esforços” e, referindo que o “interesse público não se esgota em Lisboa”, Rui Moreira lançou o repto ao PS/Porto para “puxar dos seus galões e dizer se concorda com isto, se é cúmplice desta situação ou se está disposto a fazer barulho”.
Rui Moreira considerou ainda que ao financiar a TAP com quatro mil milhões de euros se está a “criar aqui uma distorção no mercado” porque se está a “subsidiar uma companhia que tenta atrair para Lisboa” rotas que de outra maneira viriam para o Porto.
“Há aqui um efeito de dupla indução, por um lado TAP não vem ao Porto, por outro lado está a subsidiar o transporte ao aeroporto de Lisboa, como é evidente, e estamos, portanto, a reduzir a competitividade do nosso aeroporto e a limitar também as companhias aéreas que gostariam de vir ao Porto e que poderiam vir, não fosse essa concorrência desleal”, alertou.
Moreira, além do alerta e do repto para que o parlamento discuta a questão da TAP, deixou um desejo.
“Eu espero também que as pessoas do Norte que percebam que o hub Lisboa, da forma que está a ser feito, é altamente prejudicial à nossa economia e que também procurem através disso escolher alternativas e também que façam as suas escolhas”, disse o autarca nortenho.