Michael O’Leary: Um ‘Pai Natal’ a necessitar de actualização…

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“Seremos o Pai Natal das viagens aéreas na Europa e para o turismo português”, garantiu nesta terça-feira, 16 de Setembro, em Lisboa, o CEO da Ryanair, Michael O’Leary, que, porém, mostrou precisar primeiro de se actualizar em relação a Portugal.

O’Leary pretendia demonstrar a tese de que o Aeroporto de Lisboa cresce pela entrada da Ryanair e que foi isso que obrigou a TAP e a EasyJet a baixarem preços.

“A única altura em que realmente há crescimento aqui é quando a Ryanair chega, baixa as tarifas para todos”, sustentou.

É verdade que a entrada da Ryanair potenciou o crescimento do Aeroporto de Lisboa, como o evidenciam os 562 mil passageiros que transportou de Janeiro a Agosto, inclusive, todos eles representando crescimento porque no período homólogo de 2013 não estava em Lisboa.

Mas também é verdade que a TAP somou 6,812 milhões, com um aumento em 533,7 mil, o que significa que o crescimento da TAP correspondeu a 95% do tráfego total da Ryanair, e que em alguns meses teve aumentos superiores ao tráfego transportado pela low cost, como foi o caso de Agosto.

Mas não foi apenas esse o único ‘lapso de informação’ do CEO da Ryanair.

O Aeroporto de Lisboa teve 16 milhões de passageiros em 2013, e não 14 milhões como começou por referir, embora noutro momento tenha indicado 15 milhões.

Michael O’Leary admitiu poder “estar errado”, e de facto estava, mas não tanto no total de passageiros de Lisboa, mas principalmente em pensar que o crescimento só aconteceu com a Ryanair.

Em 2013 o total de passageiros em Lisboa foi superior em 707,7 mil (+4,6%) ao de 2012 e em 1,2 milhões (+8,2%) relativamente a 2011, os ‘anos de chumbo’ da Troika em Portugal, com a TAP a passar de 8,539 milhões de passageiros em 2011 para 9,006 milhões em 2012 (+5,5% ou mais 467,3 mil) e 9,458 milhões em 2013 (+5% ou mais 452,3 mil), o que significa um aumento em 10,8% ou 919,6 mil entre 2011 e 2013.

Desta forma, Lisboa foi em 2013 o aeroporto da Europa que teve o 21º maior aumento de passageiros, melhor do que a posição que ocupa no ranking do número de passageiros (29º), mas aquém de Dublin, com o qual Michael O’Leary comparou a Portela, para evidenciar que Lisboa está longe de atingir o potencial que tem, o qual teve o 12º maior aumento, com mais 1,07 milhões.

Este ano, porém, Lisboa tem estado sistematicamente nos Top de crescimento do ACI, ao ponto de nos sete meses até Julho Lisboa ter o 13º maior aumento de passageiros, com mais 1,09 milhões, e neste caso à frente de Dublin, que tem o 18º aumento, com mais 784,6 mil.

A aceleração do crescimento de Lisboa este ano deve-se seguramente à entrada da Ryanair, mas não só, pois também se fica a dever em quase igual proporção ao aumento de passageiros da TAP, que somou mais 533,7 mil, com mais quase 105 mil em Agosto, mais do que a Ryanair transportou de e para Lisboa nesse mês, que foram 97,2 mil (para ver mais clique aqui).

É claro que a diferença entre a TAP e a Ryanair é abismal. Enquanto em 2013 a companhia portuguesa teve 10,7 milhões de passageiros, a Ryanair teve 81,39 milhões, o que lhe manteve o título de maior companhia do mundo em número de passageiros transportados em voos internacionais. Mas qual foi o impacto da Ryanair para a economia portuguesa?

Seguramente, transportou muitos turistas para Portugal e o turismo tem sido o ‘motor’ da recuperação económica. Mas, e não transportou portugueses para fora de Portugal?

Não há qualquer razão para se considerar que os passageiros da Ryanair são turistas que vêm para Portugal e que os passageiros de todas as outras companhias aéreas, que somam até Agosto 95% do total de passageiros de Lisboa, entre elas a TAP, que tem 56,5%, são outra categoria de viajantes.

Aliás, nem poderia ser de outra forma, como o evidenciam os dados da balança comercial portuguesa divulgados pelo Banco de Portugal.

O balanço de 2013 da TAP indica que as suas exportações (incluindo transporte de carga e manutenção, entre outros serviços) ascenderam no ano passado a 2.374 milhões de euros e os dados do banco central indicam, por sua vez, que as exportações portuguesas de transporte aéreo de passageiros, que a TAP lidera, geraram um encaixe líquido (já descontadas as importações) de 2.375 milhões de euros, em alta de 6,9% ou 153 milhões, com as exportações em alta de 7% ou 195 milhões, para 2.996,8 milhões.

Os dados do Banco de Portugal mostram que em 2013 as exportações de transporte aéreo de passageiros, o que significa vendas no estrangeiro, plausivelmente a passageiros estrangeiros, representaram 4,35% das exportações portuguesas de e bens e serviços, acima dos 4,3% de 2012, porque o seu aumento representou 5,3% do aumento total das vendas ao exterior.

Por outro lado, o saldo positivo que Portugal teve no transporte aéreo de passageiros equivaleu a 83,5% do saldo total da balança de bens e serviços.

Qual foi o impacto da Ryanair, não se sabe, mas muito provavelmente está do lado que desconta, pois trata-se de importações de passagens aéreas.

Na conferência de imprensa realizada nesta terça-feira em Lisboa, Michael O’Leary referiu-se à TAP como “uma óptima companhia, mas não é o futuro”. Está no seu papel, sobretudo quando uma vez mais mostrou acreditar que “nos próximos cinco anos vão existir cinco companhias aéreas muito grandes na Europa”, que prognosticou que serão a British Airways – Iberia (IAG), a Lufthansa, a Air France-KLM, a Ryanair e a EasyJet.

“Com todo o respeito, eu acho que a TAP é uma óptima companhia, mas não vai ser uma das cinco maiores companhias aéreas da Europa”, acrescentou.

A questão é que esse prognóstico de que só vão sobrar cinco grandes companhias aéreas já tem mais de cinco anos e faz lembrar o prognóstico do fim das agências de viagens, que não só continuam por cá como a Ryanair teve de lhes abrir as vendas para chegar ao mercado corporate que é agora ‘a sua menina dos olhos’.

Os passageiros de negócios representam actualmente 27% do total de clientes da Ryanair, segundo avançou Michael O’Leary, que perspectiva que 10% desses viajantes passem a usufruir do programa Business Plus, lançado em finais de Agosto passado.

 

  • Texto do portal noticioso de viagens e turismo ‘PressTUR, parceiro editorial no NewsAvia em Portugal

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