O Sindicato do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), que representa a maioria dos tripulantes portugueses da companhia aérea irlandesa Ryanair, não se mostra surpreendido com os “cortes selvagens” anunciados pelo responsável dos recursos humanos daquela companhia e questiona quem precisa mais de quem, Portugal da Ryanair ou a Ryanair de Portugal?
“Quando se juntam as palavras ‘cortes’ e ‘selvagem’ associados à Ryanair, já não nos surpreende”. Eduardo Penarroias, do SNPVAC, reage assim à entrevista que o diretor de Recursos Humanos da companhia aérea deu à agência portuguesa de notícias ‘Lusa’ (LINK notícia relacionada).
Darrel Hughes admite que a empresa está a preparar “cortes selvagens” em vários países da Europa, incluindo Portugal.
Em declarações à Rádio Renascença, em Lisboa, o sindicalista não tem dúvidas de que o objectivo é ameaçar os tripulantes e pressionar os que ainda não o fizeram, para aceitarem as novas regras laborais impostas pela empresa e que implicam cortes nos direitos, redução dos salários e desregulação dos horários.
Segundo a empresa, só 10% dos cerca de 500 trabalhadores não aceitaram os cortes impostos em maio, mas o sindicato diz que são muitos mais. Na entrevista divulgada sexta-feira, Darrel Hughes adianta que a companhia aérea vai cortar 20% dos horários planeados para Setembro e Outubro.
No Inverno, não planeia usar qualquer pessoal da Crewlink, a empresa de trabalho temporário que opera em Portugal há mais de dez anos, em exclusivo para a Ryanair.
Para Eduardo Panarroias, a explicação é simples: não precisa desses tripulantes porque está a chamar os da própria companhia, no estrangeiro, para operar nas bases portuguesas: “já aconteceu em Ponta Delgada (ilha de São Miguel, nos Açores), está a acontecer em Lisboa e vai acontecer no Porto”. O sindicalista desmente ainda o diretor de Recursos Humanos da companhia que anunciou já ter regularizado todas as dívidas à Segurança Social: “é mentira e há vários tripulantes que apresentaram queixas-crime contra a Ryanair”.
Eduardo Penarroias considera que é altura de desafazer o mito sobre quem precisa mais de quem. “É Portugal que precisa mais da Ryanair ou a Ryanair que precisa de Portugal?”
E argumenta que a companhia irlandesa, mesmo durante o período de confinamento, nunca deixou de voar para os aeroportos nacionais do Porto e de Lisboa.