FLY Angola adia escalas na Ilha do Príncipe por falta de esclarecimento sobre as condições de segurança da pista

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A companhia aérea privada FLY Angola iniciou no passado dia 3 de março, uma rota regular entre Luanda e a ilha de São Tomé, que abriu com três frequências semanais. O avião utilizado na nova ligação é um Embraer ERJ145, com capacidade para transportar cerca de 50 passageiros (LINK notícia relacionada).

Contudo, ao contrário do que estava previsto, de momento estes voos não farão escala no Aeroporto do Príncipe, na outra ilha habitada da República Democrática de São Tomé e Príncipe, um arquipélago na África Equatorial, independente de Portugal desde 1975, e onde a língua oficial é o português.

A razão que levou a FLY Angola a recuar nas suas intenções foi o facto de no voo inaugural ter constatado informações desencontradas sobre a real dimensão da pista no aeroporto regional do Príncipe, e não ter recebido um parecer vinculativo que permitisse a companhia operar em segurança com o tipo de avião que está agora na rota.

Num comunicado oficial distribuído pela companhia angolana, no passado dia 3 de março, na cidade de Luanda, e dirigido aos seus passageiros e parceiros, a FLY Angola justificava que “devido à redução da categoria de serviço de salvamento e combate a incêndios, às dimensões e condições da pista do aeroporto da Ilha do Príncipe, as operações programadas pela FLY Angola para esse destino não terão início no dia 3 de março conforme inicialmente previsto”. Uma decisão que, refere a empresa, foi tomada “considerando prioritariamente a segurança e o conforto” dos passageiros.

Dessa forma todos os voos programados farão apenas a rota com escala no Aeroporto de São Tomé, a ilha principal do arquipélago, o que tem acontecido de acordo com a programação estabelecida.

No comunicado a companhia angolana diz continuar a monitorizar a situação, trabalhando com as autoridades santomenses no sentido de iniciar os voos para a ilha do Príncipe logo que as condições necessárias para garantir a operação “estiverem devidamente reunidas”.

Autoridades santomenses contestam decisão da FLY Angola

Nesta segunda-feira, dia 18 de março, e praticamente duas semanas após o início da operação da FLY Angola para São Tomé, o jornal digital ‘Telanon’, indica que a companhia angolana constatou que a extensão útil da pista de aterragem do Príncipe é de 1.320 metros e não de 1.750 metros, como tinham indicado os responsáveis governamentais pela infraestrutura aeroportuária santomense. Portanto, uma extensão abaixo do mínimo permitido para a operação com o tipo de avião que a empresa angolana opera na rota.

José Luís Umbelina, diretor de operações do aeroporto da ilha do Príncipe, explica ao jornal ‘Telenon’: “O aeroporto tem 1.750 metros de comprimento e 30 de largura e é da responsabilidade da FLY Angola justificar porquê que eles dizem que o aeroporto só tem 1.320 metros. Nós mandamos todas as documentações que eles pediram, eles têm, as autoridades também têm”.

Em declarações ao mesmo jornal santomense, Carlos Pinheiro, secretário regional das Infraestruturas no Governo Autónomo do Príncipe, mostra também a sua surpresa pela atitude da FLY Angola e diz: “As informações são oficiais, até no ‘Google’ podem pesquisar e irão encontrar também as mesmas informações. Não sabemos o porquê desta comunicação desfazendo a informação técnica original que é do aeroporto e que é dado oficial”.

Esta mesma posição das autoridades santomenses foi veiculada numa reportagem da RTP/África, em que foram entrevistados igualmente Carlos Pinheiro e José Luís Umbelina.

Pista do Príncipe tem um problema grave de segurança operacional, responde a FLY Angola

O ‘NEWSAVIA’ falou com o diretor-geral da FLY Angola, Belarnício Muangala, que se mostra surpreendido com as respostas dos dois entrevistados, e confirma que até à data da entrevista a companhia não recebeu suporte documental que aponte para as condições técnicas necessárias e que permitam a operação do Embraer 145 no Príncipe. Afirma ainda que recebeu apenas a informação sobre a confirmação sobre a reposição dos serviços de bombeiros, por email, ao contrário de um NOTAM, dias após a realização do voo inaugural. Contudo, afirma que a companhia não falou sobre a extensão da pista. Apenas pretendeu solicitar esclarecimento oficial e certificado para o comprimento útil para a aterragem, uma questão que continua sem resposta da parte das autoridades da República Democrática de São Tomé e Príncipe, nomeadamente do INAC (Instituto Nacional de Aviação Civil).

Sobre o facto de Carlos Pinheiro mandar ver no ‘Google’ as condições da pista, Belarnício Muangala esclarece que, mesmo as informações obtidas pela Internet não são certificadas, e são omissas quanto ao serviço de bombeiros disponibilizado, tendo em conta as características do tráfego, nomeadamente o número de passageiros movimentados em cada voo. “Trata-se de um problema grave de segurança operacional”, contesta o executivo angolano.

O diretor-geral da FLY Angola afirmou ao ‘NEWSAVIA’ que não há intenção de persistir na polémica ou na disputa de comunicados. Mais importante é resolver as questões que não permitem a operação deste tipo de avião na ilha do Príncipe, e a solução deve ser encontrada pelas autoridades nacionais, de acordo com os padrões de segurança internacionais e aprovados pelas instituições que regulam o sector dos aeroportos e aviação civil. Para isso, poderão contar com a colaboração e apoio da FLY Angola.

Segundo apurámos a extensão asfaltada do pavimento do aeroporto regional do Príncipe é, na verdade, de cerca de 1.750 metros. Contudo, há que contar que cerca de um terço dessa extensão é utilizada como caminho de circulação de aeronaves e outros veículos, além de parqueamento. “Uma faixa que não pode ser considerada como pista disponível para efeitos de operação”, considera Belarnício Muangala.

Na ilha do Príncipe aterram normalmente aeronaves turboélices, como já aconteceu com um DHC Dash 8-300 da FLY Angola, aparelho que não tem as mesmas restrições dos jatos Embraer ERJ-145.

A FLY Angola tem presentemente voos regulares para o enclave de Cabinda, província do norte de Angola, e para São Tomé. Ainda neste ano deverá dar início a duas novas rotas regulares. Uma delas entre Luanda e o Lubango, capital da província da Huíla. A outra será para Windhoek, capital da Namíbia, país do sudoeste africano, para onde a companhia já tem direitos de tráfego. O mesmo acontecerá, em breve, da capital angolana para a República Democrática do Congo.

A FLY Angola tem uma frota composta por dois aviões a jato Embraer ERJ-145 e um turboélice DHC Dash Q-300. A companhia aérea, que está em processo de crescimento, tem atualmente ao seu serviço cerca e 80 colaboradores.

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